segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
te encontro depois, às cinco,
quando estiver mais calmo
- tudo bem?
lembra quando tínhamos os lábios ardidos
mas o projetor de super-8 continua
na mesma posição
- e sua mãe, como está?
da lição de francês, guardei o pior: comme ci, comme ça
aquele azul, límpido
cerrilha a madrugada
a verdade, meu caro, mora nos círculos:
- foi onde guardei a prova elegante
do teu salto mesquinho.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
depois, tranquei a porta e fiz um café. rodei a chave e fui embora. paguei as contas?
sábado, 18 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
agora, inglaterra. amarga inglaterra. à beira do tâmisa, nascem todos os nossos segredos, doce ana.
domingo, 5 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
lou reed me morde; me acorda quando o dia ainda pede sono. lou reed vem me receber, todos os dias, na porta de casa. quando ele não está, o dia não faz sentido. (ele é um gato e tem seus momentos de solidão).
lou reed dorme comigo e não abre espaço para estranhos. para chegar até às encostas, é preciso passar por ele antes: pedir autorização. os olhos verdes de lou reed devoram meus receios de ontem.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
a vida no campo
vim para cá dar aula (ensinar o quê, meu deus?), sim, mas antes, repôr as pedras retiradas da praia - falando de gramática perdemos horas, mas onde vai mesmo aquele acento? ele não tinha sido excluído? a separação das sílabas continua a mesma? percorremos com o lápis o mesmo desenho ou, separados, inventamos labirintos? sim, a sintaxe continua importante, mas a taça jules rimet vai para quem descobrir primeiro onde vai o acento de gatuno.
o chão traz memória de ontem. se o passado existe, ele deve ser soar como essa porta de madeira.
domingo, 14 de novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
ainda tenho medo.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
felicidade
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
¿qué pasa?
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
as dedicatórias
para guilherme:
que me ensinou
a fazer filmes.
para p. cezar:
um dia, nossos relógios
deixarão de ser abóboras.
para bianca:
o Alaska é aqui.
babe, cansei de acordar rangendo os dentes: escalar postes para descobrir de onde vem a eletricidade gasta muito os calcanhares. dentro de mim mora um pássaro - veludíneo, pantanoso e que recebe lições de vôo. rebelde, gostaria de ser gato - para subir nas árvores arranhando troncos e derrubando os fios dos postes (afinal, de onde vem a eletricidade?)
babe, as pontas dos dedos estão todas corroídas e usurpadas; há mofo nos meus cotovelos, acredita? as mesas dos restaurantes não são mais como eram as de antigamente - andam todas duras, de marrom puído. o carteiro deixou de me entregar as cartas em mãos - agora as passa por debaixo do tapete. aliás, o preço dos selos aumentou um tanto, enviar as cartas forjadas às mãos custa muito mais caro do que se supunha há um par de anos.
me escreve? sinto falta dos teus ais e dos teus esses.
aliás, minto: sinto falta mesmo é do barulho dos teus dentes ao receber notícia boa.
um beijo.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
da diferença entre inundar e atropelar
a chuva não se decide: se inunda ou se atropela a cidade. (ainda que um venha, necessariamente, seguido do outro, os modi operandi divergem). inundar é construir morada, demolir sigilos, navios de caos e sutilezas. atropelar é arrancar as chaves, trocar as fechaduras e desaparecer rumo à berlim.
da minha parte, sou feita de chuva e cinzas, meu bem. você, até agora, pareceu matéria-prima de inundações. (da janela, avisto: a chuva decidiu, por fim, inundar a cidade).
ei, você, com o candelabro, na cozinha: quem vai atropelar agora?
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
- seria a deixa de dizer "eu gosto do teu livro, L." - se eu tivesse lido. ou entendesse alguma coisa de poesia. resigno-me ao parabéns descerebrado, pois.
- poesia não se entende: se esconde junto com a camisa do ramones no fundo do armário.
- lasquei-me. nunca tive camisa dos ramones. isso dobra a quantidade de poesia que posso guardar ou me torna um energúmeno?
- parabéns. você ganhou um vale-bônus da poesia com direito até a poema-construtivista-processo.
- dá pra abrir latas com isso?
- dizem que desentope pias.
- já é útil. tem delivery?
- ih, poema-processo é cheio de marra e não vai a lugar algum. metido a estrela.
- agora com primeiro livro no prelo, então...
- o primeiro livro se livrou dessa maldição. preferiu fazer umas rimas bobinhas.
- nem tento o tento. minhas estrofes são uma catástrofe.
- todas as minhas tentativas de rima são pobres e imorais. o jeito é aceitar. (aliás, o nome do livro é 'pessoas de quem roubei frases')
- gostei do título. até compraria, se visse por aí.
- eu te dou um e você já pode desentupir pias.
- faço questão de pagar. se der defeito, quero poder reclamar com a fabricante.
- a fabricante não se responsabiliza pelos danos ao contribuinte.
- no risco, sem rede. agora tá começando a ficar divertido.
- a casa só trabalha com apostas sem devolução. sentar na mesa tem que ser sem rede.
caixa postal
terça-feira, 5 de outubro de 2010
- medo de você segurar essas mãos esfoladas e desaparecer com medo do sangue que brota. raiz de planta morta que ainda assim insiste em escorrer pelo ralo, inutilizando todos os escoamentos da casa.
mas manteve-se quieta.
domingo, 3 de outubro de 2010
god bless you, lou reed
i have come this way
do you remember the shape i was in
i had horns that bent
i'm so free
i'm so free.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
padaria
dela, guardei todos os discos de caetano, de cely campelo e dos beatles. aprendi a andar no ônibus de graça (só praticável até certa idade, crianças), a fingir sapiência no francês e a pentear o cabelo para o lado esquerdo todas as vezes que a vida andasse errada (que é para o vento soprar do lado certo). vejam vocês, apenas as coisas erradas.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
terça-feira, 28 de setembro de 2010
fim de festa
começava assim:
setembro de 2010,
vejo da minha cozinha o desespero do marinheiro perdido, arremessado sem os botes salva-vidas. talvez você ligue para um amigo, e pergunte se ele viu. talvez você até tenha deixado a cópia com alguém (o que eu não acredito). pessoas prevenidas não arriscam nuvens em festas de despedidas.
levarei o molho de metal comigo: há uma verde brilhante, bregamente brilhante, talvez seja a da garagem. um dia, estivemos perto o suficiente para eu lhe roubar as chaves.
daqui a quinze anos.
domingo, 26 de setembro de 2010
(e um tal de um amor louco e rebelde, um adolescente inglês dos anos setenta)
que essa ausência de horizontes me comia as palavras.
hoje, fim de setembro, esse mês infeliz que me fodeu os cotovelos,
consigo olhar e pensar: sobrevivi e passou.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
o problema todo se configurou, veja só, quando a atiradora de facas, nossa velha conhecida, percebeu que não gostaria de entregar, assim tão facilmente, como um mero menino de jornais o globo, a qualquer um da rua, seus papéis amassados. existia um, em especial, que ela pretendia guardar: toda uma coleção, aliás. por mais que lhe doessem os ombros, aqueles cadernos (já não eram mais blocos de rascunho; assumiram uma conotação importantíssima, de cadernos) continham algo de si, imutável e perene: algo que se entrasse em contato com a atmosfera poderia explodir.
e como o velho dylan em meet me in the morning, a atiradora de facas esvaiu-se correndo daquela calçada suja, levando consigo cadernos, rascunhos, cânceres e sábados, enfiou-se no primeiro táxi que viu e partiu para são paulo. carregava consigo receitas para uma vida plena, poemas de jorge de lima e declarações de amor.
biografia
profissão: atiradora de facas.
filiação: filha de um dançarino sem origem identificável com uma economista brasileira.
descrição: manuela ferreira escreve, filma, fotografa, desenha, pinta; estuda história, estuda arte, estuda línguas, estuda filosofia; pinta-se de roxo às quartas, azul às quintas e cinza às sextas-feiras; tomou café com os principais escritores norte-americanos do início do século XX e dizem até que engatou um romance com faulkner, mas o trocou por hemingway.
mas na hora de se matar, manuela ferreira, que esqueceu onde colocou as chaves e perdeu os fios da meada, tem tanto medo de se atrapalhar e parar em uma cadeira de rodas - ao invés do cemitério -, que sobrevive há vinte e cinco anos.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
it's ours
just before they get to us
that space
that fine relaxer
the breather
while say
flopping on a bed
thinking of nothing
or say
pouring a glass of water from the
spigot
while entranced by
nothing
that
gentle pure
space
it's worth
centuries of
existence
say
just to scratch your neck
while looking out the window at
a bare branch
that space
there
before they get to us
ensures
that
when they do
they won't
get it all
ever.
(c. bukowski)
sábado, 18 de setembro de 2010
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
dúvida
quando disse que não sabia o que fazer, não esperava uma resposta definitiva. versar sobre nuvens é fácil; o sangue começa a escorrer quando se fala em grades. confesso aqui que minha ansiedade enclausurou os pensamentos e transformou água em redemoinho, tempestade de granito, quebra-cabeças revirado e todas essas metáforas baratas típicas da baixa literatura. no entanto, uma pergunta aqui cabe: há amanhã nesse calendário de cores turvas?
porque você sabe: a insistência vã, dos sete pecados capitais, é aquele que te leva direto ao inferno.
lista de obsessões clandestinas
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
lições
crise normal
a saída é olhar para trás e entender onde
a pedra balançou.
a única solução é criar
um novo horizonte
não há escape.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
voltemos a hemingway. ou melhor, às chaves. a mulher não-mais-grávida perdeu as chaves. elas podem estar: a) na própria casa, b) no trabalho, c) numa boca de lixo qualquer (o que significa que a mulher não-mais-grávida terá que pular o portão, já que sempre deixa as portas destrancadas).
vamos falar a verdade: a mulher está cansada de morrer. morreu lá, em 2003, debaixo do céu laranja. morreu agora, na sala de espera.
a mulher se banha: ficam nos azulejos fios de cabelo, pernas, pudores. ela bate a testa no azulejo: uma, duas, três, quatro vezes: começa a sangrar. disseram-lhe na clínica que sangraria, todos os dias, por 45 dias - o tempo médio para o corpo se recuperar do algo que perdeu. [ uma hora estava aqui, outra, não mais ]. a mulher não tem território: seria ainda mulher? arrancaram-lhe as asas, negras.
(volver, volver, hasta el punto dónde no más había dolor.)
ontem, havia sonhado com torneiras pingando; hoje, acordou com os tiros do batalhão da urca. eles não falaram, mas a mulher-não-mais-grávida-e-já-sem-território pôs um band-aid do mickey na testa e trancou as fechaduras.
domingo, 12 de setembro de 2010
domingo
o rascunho é mais ou menos assim:
paralelamente percebi pássaros perdidos pousando
[ insensíveis indiscretos insalubres insistentes
pássaros. porém perdidos.
paciência, pedro, pedem.
paciência, pedro, provocam.
mas ainda não sei para onde ir. vou pensar durante à noite.
luv always,
m.
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
ulisses,
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
a chuva hoje é insistente e incompleta, reverberam as lacunas da casa abandonada. as vidraças ainda estão lá, assim como as grades das janelas, mas de certa forma, o quebra-cabeça não está completo. ele já esteve, uma vez. naquelas férias. onde tudo era possível: e foi. a mulher sente-se inútil (um pouco como a chuva de agora) e procura os isqueiros: nos bolsos, nos paletós, nos baús, nos lençóis, nos buracos do taco.
a obsessão clandestina da mulher já sem a esperança dos isqueiros é retornar ao mesmo ponto onde está agora mas há nove anos passados. como (ainda) não consegue, morde o dedo com força e espera a tarde escorregar.
domingo, 5 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
poema para você
folhas e nuvens
lembranças e palavras
gotas que
- vermelho a vermelho
escorrem sobre os labirintos do meu silêncio:
vestígios do seu corpo.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Nelson:
ei...conta pra mim essa história dos elefantes brancos...
Me:
ah!
chegaram aqui...
uns elefantes brancos!
disseram que era presente.
não se recusa presente, não é?
aí eu botei todos eles na sala.
e estão, quietos. hoje brinquei de dar nomes a eles.
um se chama pedro, outro se chama realidade, outro se chama panela. panela furada.
domingo, 22 de agosto de 2010
eu tenho um grupo de elefantes brancos na sala e até decidir o que farei com eles estão todos parados, olhando para mim.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
quase não me recordo da vida anterior - são anos e anos e anos de abuso de insônia, vinho barato e cigarros, além das leituras exageradas -, o antigo quarto parece tão distante, delírio de um mundo qualquer que veio parar aqui: eu sempre fui assim? ou foi apenas a sua influência? não consigo ser otimista, sinto muito; sapatear em cima de cadáveres nunca foi meu forte, exatamente. ]
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
mala
depois que todos foram embora, restamos nus em são paulo. nus nos nomes, nas contas, nos calendários, nas canetas. não havia necessidade sequer de falar: as palavras já moravam em nossas mãos e com elas construímos estradas para lugar algum. não havia necessidade de promessas, porque saberíamos serem todas falsas - o signo da mentira deslavada não cabia debaixo daquela noite tão grande.
portanto, os relógios foram atrasados para a hora de partir; restou um choro seco. dentro, uma recaída infantil: o início de uma promessa - não fala, eu não quero saber. eu não estou aqui, eu não estou lá. o silêncio ainda é a minha melhor visão. a minha lágrima ainda é propriedade particular e será guardada no baú das trivialidades - aquele onde, por ora, guardei você também.
domingo, 15 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
yoga
debaixo de água fernanda tem ódio, dele que me entregou destroços, que agora mente e inventa um luto qualquer de quarta-feira ao meio-dia: não foi você quem tornou-se vazio. a dor que acelera as minhas paredes na madrugada não corre nas suas veias brutas, correm sobre meu sono, que tornou-se incômodo. que tornou-se choro de um nada. vela de sete dias de um nada. arranco de segunda o carro já quebrado - para um destino nada.
fernanda, que ainda preservava escondida na primeira gaveta da cômoda do quarto uma vermelha inocência, chegou em casa e deitou sobre as roupas desencontradas pelo chão.
o teu nome é veneno, veneno covarde em pedra-bruta. fernanda chorou.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
e sonho com barafundas mudanças
pontos de cruz nas paredes da sala
um quadro enorme de rimbaud na cozinha
que diga:
o mar hoje criou onda no meu quintal
e mapas debaixo das cadeiras,
escritos em azul:
venha, já não há nada que possa
nos impedir.
desligo as luzes
uma por uma, os dedos brincam
de solitude à meia-luz
e nos deslizamos
e nos carregamos
e nos esquecemos
das contas de amanhã.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
waiting for the sun
eu, uma menina batizada em beatles e tom jobim, recém-sugada para o universo das camisas de flanela e da rebeldia maior que a barriga, fiquei extasiada. trocava o primeiro pelo segundo o primeiro pelo segundo o primeiro - até dormir, ao lado de jim morrison, ray manzarek, robby krieger e john densmore. o que eram aqueles teclados? por quê não conseguia parar de mexer os dedos, as pernas? não havia mais paredes nem janelas nem boundries only abyss and canyons.
ouvir roadhouse blues pela primeira vez é segurar, com ambas as mãos, dedos fechados, o êxtase. o bliss. o máximo aonde o ser humano pode chegar com sua criatividade limitada - é o doors.
ano passado, no festival do rio, consegui, na surdina, adentrar a sessão lotada de 'when you're a strange - a film about the doors'. pela violenta trajetória e o absurdo som - que banda alguma conseguiu reproduzir ou dar seqüência depois -, os doors já renderam um emaranhado de livros & filmes & artigos. sempre envoltos no fog misterioso de 'jim morrison, o santo-poeta-cineasta-beat'.
mas esse documentário não se apóia no insuportável culto ao lizzard king - o filme percorre a trajetória da banda e ponto. resgata as imagens dos dois documentários produzidos por morrison durante 65-72 e fotos incríveis dos acervos da família doors.
um ano depois, vim a descobrir que o filme foi baseado em um livro que somente ontem chegou ao brasil - the doors por the doors. custa sessenta reais, é um calhamaço de quinhentas páginas e mais de duzentas imagens pessoais. mas qual a diferença dele para os outros, você me pergunta. o narrador. os narradores, aliás.
the doors por the doors é todo baseado em entrevistas realizadas por um jornalista da rolling stone ao longo de quarenta anos. estão lá jim, ray, robby e john SPEAKING FOR THEMSELVES. a banda sempre prezou a idéia de comunidade - as letras eram assinadas pelos doors, e não por lennon/mccartney, digamos assim. os royalties eram divididos igualmente. e ninguém exigia nada do companheiro ao lado - um terrível gerador de culpa nos anos pós-1960, let's put it that way.
enfim. tudo isso é para dizer que the doors sobrevive. aqui e sempre.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
terça-feira, 3 de agosto de 2010
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
ao doce resvalar da madrugada
sobre meus pés.
também preciso ensurdecer durante o sono
para não ouvir o veneno de seus dedos escorrendo
sobre as minhas
lembranças.
enfim.
enquanto o céu desaba minha voz
verdes cortinas de linho
- minha infância em cores -
trafegam pelas ruas de laranjeiras
contando histórias de dormir.
my dear cecília
ou se tem sol e não se tem chuva!
ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
é uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
domingo, 1 de agosto de 2010
meu querido tom
no jornaleco da manhã, uma reportagem sobre a eterna influência do maestro no cinema internacional pôs o volume para o máximo em tom & miúcha, edu lobo & tom jobim, tom & elis. o piano e as vozes (inclusive a deliciosa voz bêbada e torta de tom). os arranjos delicados, sofisticados, espirando thelonious monk, art pepper, chet baker mas também gershwin, cole porter e villa-lobos.
meu amor, juro por deus, me sinto incendiar.
falta sempre uma certidão, uma palavra desdita ou ainda mais: inconsequente.
pois palavra inconsequente é refúgio de personagem barroco
(cego de realidade)
pago à vista minhas apostas com o destino, o menino me contou
em um vendaval de sábado
e eu que pensei exageros embalados à vácuo, respondi.
sábado, 31 de julho de 2010
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
caminhar a dois
caminhar a dois, só
vai ser possível se
for cada qual pelo
próprio caminho.
antes que eu me perca na nuvem negra da sonolência vespertina
e que adormeça sobre os cobertores ao som da vinheta do vídeo-show
eu que sou minhoca já morta trafegando entre a fome dos peixes do pesque-pague
preciso te dizer que nosso amor nunca foi fome
nunca foi sede
sempre foi tédio
sempre não foi
ele que nasceu como um sim à vida
e que morreu como um talvez
numa tarde de sábado, peixe e tédio
no pesque-pague do bairro Saraiva
porcas borboletas
linha do tempo
quatro meses para a adolescente ressurgir em toda a sua inconsequência em um festival de rock n' roll;
seis meses para a jovem navegadora apontar a gávea para outro continente.
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
fábula da gaivota
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
the best time of the day
Windows open.
Lamps burning.
Fruit in the bowl.
And your head on my shoulder.
These the happiest moments in the day.
Next to the early morning hours,
of course. And the time
just before lunch.
And the afternoon, and
early evening hours.
But I do love
these summer nights.
Even more, I think,
than those other times.
The work finished for the day.
And no one who can reach us now.
Or ever.
raymond carver
da minha vida.
mais da sabedoria alexandrina
é o brega pelo brega.
e ainda mais: é subestimar a inteligência feminina.
matizar
aos sábados, oito da manhã
onde vão parar os suspiros, os arquejos, os tropeços
os vãos e as brisas?
segurar as pontas
dos dedos do horizonte para
alinhavar as descobertas em filas:
homem, o céu brinca de morder as palavras
enquanto fragatas são desmontadas
e recriadas
em estradas alaranjadas.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
inspirada por raymod carver
medo de perder a mão direita
medo de meus amigos desaparecerem em furacões
medo de ser acordada por notas fiscais
medo de perder os olhos verdes de cecília
medo da orelha esquerda cair
medo do fracasso
medo da redundância
medo da falta de assunto entre os casais
medo de minha mãe não mais me reconhecer
medo de monstros em lagos poluídos
medo de acordar sem olhos
medo do guerreiro de flechas em meus pesadelos
medo do dicionário burocrata
medo de esquecer os sonhos em casa.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
na quinta-feira, com a previsão de um fim-de-semana de sol no rio de janeiro - ela escorrendo pela geladeira -, com picos de quarenta e quatro graus na cidade maravilha - ela abrindo todas as portas -, e um prospecto de bares entupidos de CASAIS sedentos e FELIZES, a única saída foi o caminho da liberdade.
era um livro curto: setenta e cinco páginas. frases soltas. muitas perguntas - poucos verbos no imperativo. marcos - os dez quilos a menos tinham-no transformado em um garoto chorão; a barba por fazer o confundia com um pedinte qualquer de botafogo - abriu na página 49.
uma pergunta:
como um trailer de filme b, cenas de luiza foram se sobrepondo: luiza tomando banho - corta para - luiza cozinhando omelete - corta para - os peitos de luiza - corta para - luiza e marcos comprando um beagle - corta para
página seguinte:
abriu em outra página do caminho para a liberdade:
no papel, gotejam os sonhos; as palavras gostam mesmo é de realidade fingida: a declarada no imposto de renda tem uma barraca de abacaxis e nunca naufragou em piscinas de segredos.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
pausa
- mas você não estava sempre reclamando ao pé da página que queria ser cineasta?
fui comprar cigarros - ainda que tenha parado de fumar. (sabe como é?)
terça-feira, 20 de julho de 2010
resposta a p. cezar
meus braços não são versos:
meus olhos não são vírgulas:
nostalgia,
medo
e tenho a pele vermelha
de fracassados mistérios.
sabedoria alexandrina
(de construir castelos em
águas turvas).
mas meus reais todos nascem
de romances baratos!
domingo, 18 de julho de 2010
(abraços tão azuis que ele ficou com medo de sufocá-la; eis que o pássaro responde: se servir para algum pedaço meu ficar contigo nessas tuas ilhas...) sobre os travesseiros, o pássaro deixou um par de brincos com luas nas pontas.
o dia em que o tempo deixou de existir: quando um pássaro e uma onda se encontraram.
terça-feira, 13 de julho de 2010
no dia mundial do rock
costurar as madrugadas à voz de lou reed.
fazer amizade com estranhos na barra da tijuca para chegar mais perto de scott weiland.
reconhecer, antes da torcida do flamengo, os acordes de back in black, do AC/DC, na voz de shakira.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
família
cheiro de chuva nos dicionários de latim
enquanto meu pai contabilizava
quantas felicidades haviam passado
por debaixo da porta.
minha avó me ensinou desde cedo a
costurar dores antigas para
abrir espaço às novas
enquanto meu avô ocupava-se de contar
estrelas para assinalar quantas haviam nascido
desde que roubara mais um sorriso.
meu irmão sempre preferiu o
nanquim solitário das madrugadas
às poesias estapafúrdias e descalças
da irmã menor.
domingo, 11 de julho de 2010
sábado, 10 de julho de 2010
sexta-feira, 9 de julho de 2010
quinta-feira, 8 de julho de 2010
para alexandre
não sei explicar essa angústia travada; os minutos andam, correm, avançam com mãos e cinturas, e eu nada faço além de. tenho medo de notícias que sequer foram confirmadas; acho que é isso, xan: tenho medo. de invadir, avançar, pular o muro, dar um telefonema. reclusa, as palavras escorrem em receitas estapafúrdias de solidão e recalque. não sobra nenhuma sequer para contar uma história mundana. como foi o seu dia hoje? fico muda, as palavras se foram. como se faz, hein, xan? como se faz para delinear uma vida inteira: por onde se começa, pelas toalhas? separá-las por cor, lavá-las, estendê-las, organizá-las e enviar para um bordado finíssimo com as iniciais?
faz muito tempo conversávamos onze horas in a row sobre morte em veneza, henry miller e uma futura possibilidade de dinheiro certo. thomas mann pouco andou em nossas vidas, mas miller continua ao lado da cama e eu ainda me espanto como ele consegue escrever em meio ao caos profundo. miller emerge do caos. será que conseguiremos?
xan, o maior medo é o engasgado; não quero sair de casa, quero diminuir aos poucos, esvanecendo, deslizando, escorrendo, até sumir. virar pasta pouca, massa. perder as unhas pelo caminho, desgarrar das cortinas, esquecer da terra nos dedos. há um jornal despedaçado embaixo do sofá, com fatos da semana passada que ainda parecem tão novos.
vou segurar as pontas por aqui, e qualquer novidade eu aviso. não farei teste algum - devo agüentar a manhã para me dizer por onde.
nos falamos,
m.
encontro seus braços nas
cortinas
portas
arames farpados
postos de gasolina em botafogo.
(motéis)
anda, me escreve uma carta
enunciando, uma a uma, as razões para não.
sei, desistiu.
o desfôlego invadiu a praia
e atrapalhou o trafegar dos navios
- os fenícios já usavam as âncoras para agarrarem-se aos tornozelos das mulheres amadas
pena que não amavam:
só os interessavam o comércio local.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
já em santa teresa
terça-feira, 6 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
diário de viagem
- mas por quê você está sozinha?
cansada de responder a mesma pergunta, manuela suspirou:
- alice morreu. minha irmã, alice, morreu.
(era mentira - não havia qualquer alice)
manuela sobre o nome alice: gostava de como a fonética caía sobre a noite, invadindo-a. manuela era nome solar, de recolher raios de sol e agonizar em corredores brancos. alice era mais lúcido; uma alice pode até se enganar, mas porque quer desaguar no desencontro. alice tinge as palavras, percorre labirintos - manuela não consegue descobrir as palavras certas. escapam, escapam a ferro-quente.
um segundo senhor apareceu. pergunta:
- o que é, timidez ou insegurança?
manuela, árida:
- um pouco dos dois.
o senhor, insistente:
- o que foi? tem medo que eu roube esse caderno e leia o que você está escrevendo?
(um adendo: isto realmente aconteceu. não é literatura)
manuela, esquiva:
- não escrevo nada de importante. pode ler, se quiser.
o homem pede desculpas e vai embora, esguio.
a estrada de santos não tem curvas; apenas uns imbecis fingindo desespero, anota manuela.
sábado, 3 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
invadi, mesmo que com medo,
a própria cozinha:
mas não havia ninguém.
(mesmo)
meu amor,
eu realmente esqueci de trancar as fechaduras.
pelo vão, passaram-se anos,
quadros, corredores,
copos de vidros,
labirintos de fauno,
crianças correndo em branco.
com isso,
escorreram-se grãos de desejo e delírio
delineando, delineando
com amplas finalidades.
meu amor,
te espero naquela ponte,
entre os lagos de brasília
e as construções do céu -
entre a minha desfolha virgem
e sua revoada ao chão.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
bilhete de viagem
para: g.
eu sei que está tudo bem contigo e eu tento não me incomodar, mas tem uma dorzinha aqui no peito, criada na saudade de organizar revoadas de estrelas no seu deserto.
terça-feira, 29 de junho de 2010
diário de viagem
my beloved,
um beijo de marinheira,
m.
domingo, 27 de junho de 2010
diário de viagem
sexta-feira, 25 de junho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
dear nathalie,
estou precisando mesmo viajar: imagina o outono carioca ao descobrir my dark secret? WATCH OUT: they won't forgive me. vou ter de fugir, pedir asilo à mansão de três andares no brooklyn. sinto uma ardência estranha no ventre. o baixo gávea anda tão down, tão low, super low, que até queria voltar a desenhar: posso pintar um quadro seu? prometo que não estrago teus olhos de chuva.
i'm lost so goddamn lost: persigo a faculdade de história? começo uma pós-graduação em tradução literária inglesa? ou me caso com um herdeiro rico de ipanema? você - imagino perfeitamente a cena -, vai passar os dedos no cabelo loiro platinado, empurrando-os atrás das orelhas e insinuar um "olha…". ok, my dear, i get it: it's up to you, new york, new york. susan miller previu um junho maravilhoso - ainda estou à espera. estou. a esperar, mesmo. da minha janela, avisto um navio prestes a zarpar: olha o meu medo se instaurando mais uma vez, repetindo "cuidado, é preciso cuidado com amores de antemão, que prometem cuidado e entregam lembranças". agora estou sozinha na produtora - nem sinal de silêncio, contudo.
para você: estou usando os cabelos presos e repartidos ao meio, uma blusinha meio demodé cinza, caída em longa cauda, uma calça preta e uma blusa black de quadrados azuis e brancos. all the same, as you might say. a verdade é: as estradas nos perpassam, enquanto nós ficamos brincando de inventar o infinito. nathalie, abre essa sua porta, anda até a rua na frente da tua casa de tijolos vermelhos e sente o vento quente da noite dos estados unidos da américa: sou eu te abraçando, minha amiga. deveríamos fazer isso mais vezes: contar nossos segredos e despudores. você casou mesmo, de verdade?
luv, luv, luv, always,
m.
terça-feira, 22 de junho de 2010
sem cigarro a noite escorre adentro
scared of thunders - can you hold me, babe?
olha,
o ministério da saúde adverte:
o medo é prejudicial aos vícios
aos ofícios, aos lençóis e às promessas de -
vou te contar, os olhos já não podem ver
o cheiro de água invadindo minha sala
levando com o marinho os livros, os discos, os brincos quebrados
para surgir, através do espelho
uma outra mulher
folheada em versos
proseando pelas ruas da gávea
walking on the wild side.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
para registro futuro:
(nesse bilhete marmelo endereçado a janelas distantes)
domingo, 20 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
as lou reed used to say
jesus, help in my weakness
'cause i'm falling out of grace.
na superfície das águas, o que resta, então, não é qualquer sentimento prévio, mas a confluência de interesses - sem preocupações com os alhures.