sexta-feira, 26 de novembro de 2010

colibri

a tenra carne
sobrevoa concretos
túneis:
por onde nascem
mapas
de desejo

- lilases que sorriem.

domingo, 21 de novembro de 2010

eu tenho um gato chamado lou reed.

lou reed me morde; me acorda quando o dia ainda pede sono. lou reed vem me receber, todos os dias, na porta de casa. quando ele não está, o dia não faz sentido. (ele é um gato e tem seus momentos de solidão).

lou reed dorme comigo e não abre espaço para estranhos. para chegar até às encostas, é preciso passar por ele antes: pedir autorização. os olhos verdes de lou reed devoram meus receios de ontem.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ah, a vida no campo: escrevo uma página, paro, leio um e-mail doce, a música do menino reverbera nas esquadrias (acreditem, é delicada), escrevo mais uma página, lembro de quem ficou na cidade, acendo fumaça com o vermelho e falo, ainda, sobre pássaros e anas.
zöe ontem me perguntou de você e se eu já o tinha perdoado.

- quem?

graças a deus: já tinha até enterrado seu nome.

a vida no campo

da minha mesa, avisto uma porta de madeira, tapetes felpudos, cama lisa. televisão desligada; os silêncios em seus respectivos lugares e os pensamentos, todos, externos: ocupam o quarto. poderia morar aqui. falta-me apenas uma cozinha: mas há espaço suficiente no frigobar para os rascunhos.

vim para cá dar aula (ensinar o quê, meu deus?), sim, mas antes, repôr as pedras retiradas da praia - falando de gramática perdemos horas, mas onde vai mesmo aquele acento? ele não tinha sido excluído? a separação das sílabas continua a mesma? percorremos com o lápis o mesmo desenho ou, separados, inventamos labirintos? sim, a sintaxe continua importante, mas a taça jules rimet vai para quem descobrir primeiro onde vai o acento de gatuno.

o chão traz memória de ontem. se o passado existe, ele deve ser soar como essa porta de madeira.

domingo, 14 de novembro de 2010

dúvida

aquilo ali depois do muro é outro ou uma continuação do mesmo?
ainda lembro de você a perder de vista os olhos azuis, a sobriedade e os brincos de botão. água pura, fina, que corre pelas madrugadas e arranca os traços de saudade (aqui se fala apenas em nostalgia), os trapos quaisqueres perdidos no canto.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

cacarejos, relógios, tesouras e lâmpadas: construção de raízes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

preciso organizar o caos que se abrigou no meu braço esquerdo: trocar a passagem. resumir o artigo. assinar o contrato. refazer as contas.

todas as casas têm mofo - a minha tem homens.
saudades de quando desmanche fazia parte do dicionário de fábulas e não de consequências.
pássaro entregando folha:

desconfia-se da raiz.
acredito no ato do desmanche como o mais sincero.
o velho meter dos pés pelas mãos: a cabeça já nasce disforme, sem nome - não funciona mesmo. em dias de sol, me tranco na sala - muito amarelo para meu olho esbranquiçado.

domingo, 7 de novembro de 2010

there's a blue bird inside my heart that wants to get out - assim canta chet baker, enquanto corre o dia. há tanto a se fazer (há tanto a se dizer, melhor) que ainda me perco com os cacos escondidos na madeira. pois bem: não foi por falta de tentativa. escondo-me no preto, recomeço a contagem, quando foi que nos perdemos? onde risquei o traçado? por conseguinte, em qual viela torta se esquivaram os mapas?

ainda tenho medo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

felicidade

paul mccartney faz show em são paulo e eu não vou - that's ok, paul, we'll meet soon in london -, a senha do cartão está bloqueada (mas o dinheiro anda sobrando, estranhamente), ontem o lucas disse que eu era uma 'grande autora' e meu sorriso engoliu todo o jardim botânico. apesar dos quilos a mais, das tragédias a menos e do caos persistente, todas as contas do mês foram pagas, lou reed continua walking on the wild side, meu disco predileto do paul é quando ele sobrevoa a inglaterra e acordar com você ainda é revoada.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

queria escrever um poema sobre tintas: o dia em que as aquarelas perderam a memória das cores que eram.

tornaram-se sons e passado.
agora que já bati os polegares nas portas e tranquei os tendões, arranhando os dentes até chorar de dor, vejo, sem porvir, que as suas desculpas serviram (apenas) de tapete para as frustrações das minhas janelas.