domingo, 24 de junho de 2007

eu como um pão salpicado de lágrimas e misturado à fumaça do cigarro porque tudo que consigo pensar é ter dispersado uma chance de vida com você.

nouvelle vague toca alto, toca na árvore que dança na minha janela. toca no vento que derrubou meu porta retrato.

não resisti, e tive que dizer que te amava. foi fraqueza, eu sei, me desculpe pela minha cruel honestidade. se eu tivesse um vinho, beberia, mas não há nada, só o pão salpicado de lágrimas. e o cigarro. por isso, eu fumo e como e ouço as mesmas notas musicais e a mesma voz sussurrante querendo que fosse eu a estar sussurrando em seu ouvido, delicadamente.

eu sou obrigada a dizer que te amo através de uma mensagem de celular. porque o homem inventou a distância e eu sou muito indelicada para continuar fingindo que nada aconteceu. que um dia passou após o outro. que minhas noites não são vazias - e tornar-se-ão cada vez mais, a partir de agora.

meus amigos dizem que eu fui muito paciente - mas, não é isso para o que amigos servem, anyway? para abrandar o choro. para dizer que sim, você está certa, querida, sim, fume seus cigarros desesperadamente porque a vida continua e abra uma garrafa de vinho, ouça um jazz desesperado.

está frio. as folhas continuam a balançar, e... nada. não adianta. a cortina da janela em frente está fechada.

por quê tudo é tão difícil? por quê não há um roteiro certo e disciplinado que eu continuaria a seguir, indefinidamente até o ponto final - um happy end perfeito, como os filmes me ensinaram que seria.

os novos amigos dizem que eu sou piadista. procuro alguma piada pronta para falar, e as palavras quem saem dessa boca esfumaçada são tristes e rancorosas.

eu não quero te esperar pela vida toda. mentira. quero, sim. mas, não sou tão auto-destrutiva assim. ou, pelo menos, não quero ser. eu tenho que ser racional. é uma merda, mas eu tenho que ser.

a cada dia me sinto mais inadequada e perdida nesse mundo tão cheio de sussurros e música e fumaça.

sábado, 23 de junho de 2007

Eu quero coisas demais e quero tudo ao mesmo tempo, que é para me divertir fazendo bolhas de sabão enquanto o vento passa e você vem.


Ouço Miles Davis e poderia dizer, com todo o clichê que me é permitido, que me arrepio. Todo o braço. Os dedos vão se movimentando no ar, tentando alcançar as notas musicais. Tento ser mais que dedos.


O relógio não é meu melhor amigo; já deveria ter tomado banho e arrumado os cabelos e pintado a boca. Se houvesse alguém na janela em frente, seria uma interessante exercício voeyerístico: ver um corpo suave ao som do jazz. Mas, não há: está em construção.


Sábado nublado. Café, cama e cigarro. Café, cinema e cigarro.


Jazz.


Você.


Meus dedos.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Renata entrou na sala onde o furtado ia dar uma palestra, e ele estava lá, esperando. Nas coisas técnicas, você sempre chega adiantado. Nas suas palestras, nas suas aulas - aquela vez você saiu daqui de casa às cinco e quarenta e cinco para uma aula às sete. E sempre, sempre, porra! nas visitas que você me fez, o relógio era a minha única compania. caralho. Odeio relógios, eles são companheiros dos cigarros. E você estava lá, displicentemente brincando com seu marlboro light - homem que é homem não fuma cigarro de filtro branco - olhando para a tela branca. Mal me viu, de saia bem cortada e dentes escovados. - Vou me sentar ao seu lado, posso? Acho que você fingiu um sorriso. Ela, com sua roupa de trabalho, montada e encaixotada dentro de tecidos fingindo algo, tentando imprimir uma significação a panos tãos vazios quanto ele. Danilo, com a mesma blusa de sempre - seu jeito de parecer diferente é estar sempre igual - a mesma porra da blusa branca com a pica de uma bermuda musgo. Eu saí para um cigarro, implorando aos filmes de holywood que realmente acontecessem, que os holofotes invisíveis estivessem virados para mim, pois logo após, em primeiro plano, você viria, acendendo seu marlboro light. Óbvio que você veio, mas atrasado, no meio do meu cigarro. - Olha, aquela tua fita de kids emperrou no meu videocassete, tá? Eu queria que tu fosse mulher. Queria poder te agarrar sem medo da tua reação - uma mulher nunca recusa um beijo. Tenho medo que vires a cara e dê outra tragada em seu cigarro de filtro branco enquanto aquela música de pastelão mal sucedido toca nos altos falantes. Se tu fosses mulher, acenderia teu cigarro e te chamaria epara tomar um vinho, mas tu és Danilo, inatingível entre estúpidas baforadas de cigarro light e coisas abstratas sobre fitas presas no videocassete. que tu queres, afinal, caralho? Quer que eu segure teu braço, diga que quero que você me coma logo ali, no banheiro, e depois, quem sabe, a gente divida uma garrafa de vinho tinto? Não vou. Não vou porque você não gosta do Bowie, não vou porque você acha friends ridículo, não vou porque se eu fizer isso, você vai perder o respeito de macho da espécie para com a fêmea, e eu vou me transformar em puta, em flesh. Não me importo de ser apenas flesh, mas você se importaria em eu ser apenas puta. A minha única saída é apagar o cigarro já apagado, fumar o resto do filtro, recompor a pose, girar os holofotes e sair do plano. E esperar, pacientemente, pela palestra do furtado, do seu lado. como se não o fosse.

sábado, 9 de junho de 2007

eu só queria que você estivesse aqui para me salvar desse tédio. eu bebo cerveja sozinha e como biscoito integral esperando o jamie oliver entrar na tevê e eu babar vendo suas receitas. eu quero mais do que ouvir a sua voz, eu quero te sentir meu, entende? e não é que 'vá ficar melhor' resolva. não resolve. não resolve saber que dentro de dois meses você vai estar aqui. porque eu te quero agora. para matar meu tédio, minha sede, minha vontade, meu tesão. para esvaziar meu copo, desligar a tevê e as luzes, e fechar as janelas. quero acordar do seu lado e não ter que dizer adeus de madrugada, enquanto um maldito carro amarelo te leva embora de mim, de mim! não sei quantas noites eu chorei e quantos dias eu fiquei de mal humor, péssimo humor, depois que você foi embora. e você foi embora. não há eufemismos. em parte, a culpa foi minha. eu tinha que ter agarrado seu paletó sujo da festa de ontem, trancado a porta e engolido a chave, e nunca mais você iria embora, e nunca mais eu choraria e nunca mais eu iria querer almaldiçoar a humanidade por estar sozinha. e você não volta. os dias passam, as tardes, os dias, as noites, os domingos e todas as sextas-feiras, e você não volta. me acostumei a dormir no sofá, pois a cama parece muito vazia. nunca mais comi pizza. e você não volta.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

só para constar que eu estudo cinema:

fernando meirelles, cláudio assis e karim äinouz são tudo que eu quero ser na direção.

o cheiro do ralo não é uma obra prima. não mesmo.

não por acaso mostra uma são paulo do jeito que ela é: suja, confusa e cinza. e não naqueles tons de verde publicitários-pop do heitor dhalia. parece propaganda da mtv.

(mas, eu sou tarada pelos curtas do philippe barcinski). à exceção da trilha sonora, que em alguns momentos me fez esconder a cabeça de vergonha (e em outros foi correta), o filme é bom. bem dirigido. bem estruturado. andaram dizendo por aí que o roteiro é meio capenga, principalmente na seqüência final, onde os dois se juntam, mas não se juntam. gente, coé? tá pensando que o cara vai copiar o arriaga? deixa ele fazer do jeito dele. muito melhor que babel.

não achei a atriz que faz a namoradinha do santoro espetacular. a mariah, de baixio da bestas, continua sendo minha revelação-mór do ano. e o santoro continua me surpreendendo. se alguém que ler essas mal traçadas linhas for ver não por acaso, reparem no tom de voz do garoto: como é sutil e como muda. perfeito.

***

enfim.

o semestre vai acabar em uma semana.

o que eu aprendi na puc em 4 meses?

hummmm.

hummmmmmm.

a) para quem gosta de queijo: o melhor croissant de cinco queijos é vendido na barraca das tias, portão principal da puc.

b) toda quinta-feira rola sambinha-orgia-todo-mundo-bêbado no planetário da gávea.

c) 'se você quiser vencer na vida, tenha muitos contatos' - mantra espiritual repetido por 9 entre 10 professores.

d) se você quer fazer cinema, trate de lidar com burocracia, má vontade das pessoas, tripés que emperram, e irresponsabilidade alheia. e muita, muita, muita criatividade.

e) aprendi a ser mais zen e a estar de bem com a vida.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

para marina, with all my love.

faz frio aqui. muito frio. tudo que eu penso é fumar, fumar, fumar e escrever, escrever, escrever. não sei se te contei que estou escrevendo um livro há dois anos - infelizmente, não há bezendrina no brasil para eu terminá-lo em 36 horas, hahaha - e é difícil escrevê-lo, porque dói. porque eu só consigo escrever e ser verdadeira. e ser verdadeira dói. então, eu geralmente escrevo uma, duas páginas e fico duas semanas sem escrever, apenas digerindo tudo aquilo que eu pus no papel. e depois, aquela sede enorme de escrever tudo sobre o mundo vem- e eu fumo, fumo, fumo e escrevo, escrevo, escrevo. hoje foi um desses dias, onde eu perfeitamente ficaria escrevendo durante toda a madrugada - eu tenho hábitos estranhos ao escrever, como apenas conseguir escrever bem de caneta azul, fumando, e de madrugada - mas eu tenho que trabalhar e ir à faculdade, lavanderia, pagar contas. é foda. a vida impede a minha vida. hehe

mas, voltando a assuntos normais.

eu conversei com uma amiga minha esse sábado sobre o quanto eu me sinto inadequada. que, na verdade, sou uma pessoa sem identidade, sem idade e sem cidade. explico: não gosto da minha família, nem da família dos outros. aliás, eu não gosto de todo o conceito de família.não gosto de religiões. não faço parte de nenhuma ong. logo, não tenho nenhuma identidade, algo que eu possa me agarrar e dizer: ESTA SOU EU! não tenho idade, porque na maior do tempo eu me irrito com as pessoas da minha idade, mas não consigo alcançar as pessoas mais velhas. é como se eu fosse dez ou quinze ou vinte anos mais velha. o problema é:eu não sou. não tenho as experiência de alguém todo esse tempo mais velho, então, não adianta muita coisa e eu fico perdida na linha do trem. e sem cidade... bom, não precisa de muita explicação, certo?

concordo contigo inteiramente sobre a parte das 'tenho alergia a risinhos no corredor e idas coletivas ao banheiro. conversas sobre"quem-tá-pegando-quem" e "a-boate-nova-super-bombando". sou só eu, ouv ocê também se incomoda em ficar vinte minutos em pé, olhando outro ser humano mijar enquanto está falando sobre o garoto da mesa ao lado?eu acho que falar não combina com funções orgânicas.

(e ainda acho que nós não estamos erradas em ter vivido 'mais cedo'. a vida é muito curta, tem muito mundo no mundo, e eu quero ver TUDO. logo. para saber o que eu gosto e o que eu não gosto. imagina só. logicamente. o brasileiro médio vive entre 70 e 80 anos, certo? e o brasileiro médio não tem dinheiro para comprar todos esses cremes ultra-rejuvenescedores. logo, a partir dos 60 ele não está mais com tanto pique para dar a volta ao mundo. esse povo começa a 'viver' com19. são 4 anos de faculdade. depois, você tem que trabalhar, casar, dar de comer pro seu filho, que tempo você vai ter para REALMENTE VIVER? não entendo. juro. eu não entendo as pessoas)

eu queria ir um dia ao subúrbio. haha. juro. eu gosto de subúrbios. eu gosto da zona norte, aqui no rio. eu fico espantada como as meninas da minha faculdade não conhecem o centro, a LAPA, a boemia reunida em um bairro! e o centro tem coisas surreais. maravilhosas. quando você vier aqui, eu tenho que te levar lá. numa mesma rua, há um super hiper megateatro francês PORNÔ -que não aceita meia, by the way - construído no estilo do moulin rouge, um bar alemão, cujo dono era nazista, uma boate dentro de um casarão decrépito onde só toca rock e as pessoas fazem verdadeiras orgias, um casarão que só toca samba e as pessoas dançam como nos anos 30... cara, é SURREAL. e ninguém conhece isso. você está completamente certa. as pessoas vivem em seus mundinhos, e dizem por aí que esperam que algo aconteça com suas vidas. pura mentira. elas querem continuar na mesma vida, apenas trocam a cor da sombra, ou a marca do carro.

venha para cá, venha para cá, venha para cá.

eu conheci um americano muito doido esses dias. e conversando sobre álcool e seres humanos, ele disse que nos estados unidos, as pessoas são MUITO frias, mas que nos bares, elas se liberam de-mais. e como são todos 24hrs, é muito comum você entrar lá 2h da manhã e ter uma mulher fazendo strip. ou um homem. ou o dono do bar. e todo mundo te abraça, e te paga cerveja. o mundo seria um lugar melhor se todos os bares fossem assim. hahaha

eu odeio muita coisa também, se te serve de consolo.

mas, eu ainda tenho esperança.

é o que me faz acordar todos os dias e ir prum emprego no qual eu mando e-mail pra juliana paes dizendo que saiu matéria dela na VOGUE, falando da festa do Mario Testino (que foi uma orgia chic, by the way). E tenho que elogiar o vestido, quando na verdade, achei horroroso.

stay well.

with love.

L.