quarta-feira, 17 de novembro de 2010

a vida no campo

da minha mesa, avisto uma porta de madeira, tapetes felpudos, cama lisa. televisão desligada; os silêncios em seus respectivos lugares e os pensamentos, todos, externos: ocupam o quarto. poderia morar aqui. falta-me apenas uma cozinha: mas há espaço suficiente no frigobar para os rascunhos.

vim para cá dar aula (ensinar o quê, meu deus?), sim, mas antes, repôr as pedras retiradas da praia - falando de gramática perdemos horas, mas onde vai mesmo aquele acento? ele não tinha sido excluído? a separação das sílabas continua a mesma? percorremos com o lápis o mesmo desenho ou, separados, inventamos labirintos? sim, a sintaxe continua importante, mas a taça jules rimet vai para quem descobrir primeiro onde vai o acento de gatuno.

o chão traz memória de ontem. se o passado existe, ele deve ser soar como essa porta de madeira.