quinta-feira, 8 de julho de 2010

para alexandre

(ainda em santos)

não sei explicar essa angústia travada; os minutos andam, correm, avançam com mãos e cinturas, e eu nada faço além de. tenho medo de notícias que sequer foram confirmadas; acho que é isso, xan: tenho medo. de invadir, avançar, pular o muro, dar um telefonema. reclusa, as palavras escorrem em receitas estapafúrdias de solidão e recalque. não sobra nenhuma sequer para contar uma história mundana. como foi o seu dia hoje? fico muda, as palavras se foram. como se faz, hein, xan? como se faz para delinear uma vida inteira: por onde se começa, pelas toalhas? separá-las por cor, lavá-las, estendê-las, organizá-las e enviar para um bordado finíssimo com as iniciais?

faz muito tempo conversávamos onze horas in a row sobre morte em veneza, henry miller e uma futura possibilidade de dinheiro certo. thomas mann pouco andou em nossas vidas, mas miller continua ao lado da cama e eu ainda me espanto como ele consegue escrever em meio ao caos profundo. miller emerge do caos. será que conseguiremos?

xan, o maior medo é o engasgado; não quero sair de casa, quero diminuir aos poucos, esvanecendo, deslizando, escorrendo, até sumir. virar pasta pouca, massa. perder as unhas pelo caminho, desgarrar das cortinas, esquecer da terra nos dedos. há um jornal despedaçado embaixo do sofá, com fatos da semana passada que ainda parecem tão novos.

vou segurar as pontas por aqui, e qualquer novidade eu aviso. não farei teste algum - devo agüentar a manhã para me dizer por onde.


nos falamos,

m.