sábado, 28 de fevereiro de 2009

e assim eu fico, nesse vazio tão doído, tão branco, tão limpo. cheguei a jogar as camisas azuis, verdes e vermelhas no chão, para tentar mudar o tempo. não sabia que doía tanto estar tão longe - e o medo às vezes me encontra em uma dessas esquinas sala-quarto-cozinha: e se fosse mais tempo? aconteceu tanta coisa ruim hoje - e todas parecem imensas e flutuantes e vermelhas sem você no sofá para dizer que não foi nada disso, apenas um susto.

[volta logo.]

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

entreouvido na fila do cinema

"hoje fui ver o lutador".

"ah, é?"

"ODIEI"

"por quê?"

"filme RUIM, de gente FODIDA. o cara só se fode o filme TODO. e o final é ainda pior"

"sério?"

"no fim ELE MORRE. eu lá, esperando um final feliz depois de tanta desgraça, e ele MORRE"

"com quem é?"

"aparentemente um cara que era famoso há um tempo atrás e voltou. não sei. mas é FODIDO. cheio de LUTA o filme".


(depois, quando eu digo que não confio em cariocas, nego me chama de mal-humorada)

pílulas de sabedoria

minha vida poderia ser dividida em piadas de mau gosto, piadas de humor negro e pagamento de contas.

jornalismo é escravidão intelectual.

um absurdo mickey rourke não ter ganho o oscar. mas tudo bem, ele já deve ter uns 400 prêmios por wrestler. e aliás, pouco se lhe dá a minha opinião.

acordei hoje às 5h30; terrível: tanto tempo livre e nada a fazer. abri um ian mcewan, terminei. chegou o jornal, péssimo como sempre, desisti. (ainda não sei por que continuo assinando esse jornal, deve ser por medo de pedir o cancelamento). paguei contas.

tentei escrever, mas a manhã não funciona comigo. é fato: manhãs servem apenas para dormir.

(não sou mal-humorada, juro. apenas insatisfeita).

quem dera minha madrinha tivesse uma casa com um armário em que a comida nunca acabasse, a poltrona se ajustasse ao meu corpo e o porão fosse repleto de brinquedos. uma janela seria virada para o mar, a outra para a montanha e a terceira, toda azul, o mais bonito do mundo.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"você, eu e milhares de pessoas dessa cidade já fizeram das tripas coração para agüentar relacionamentos fracassados".

nunca foi tão certo.

luv u, b.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

desde que era criança, minha mãe me incutiu esse pesado senso de responsabilidade; o mundo, se não for organizado em 90º e seqüência alfabética e cronológica entrará no CAOS e explodirá. isso me tornou uma cdf (o que me garantiu uns namorados no passado e umas bolsas no presente) e uma workaholic apavorada. quando estou trabalhando, ODEIO com todas as forças esses estágios patéticos e ridículos em que fico quinze minutos escrevendo uma nota de três linhas sobre o buraco na rua humaitá e quatro horas sem fazer nada. e quando NÃO estou trabalhando, esse maldito martelo bate na minha cabeça - você não vai ganhar dinheiro? não quer ter experiência?

de ontem para hoje eu tive três conversas particularmente interessantes (sem saber que giraria em torno desse tema).

- a primeira foi com minha amiga judia.

ela arranjou um estágio agora mas não está exatamente feliz (ou não pareceu). em seguida, veio a frase - mas é bom juntar uma grana para depois fazer o que quiser, não é? existem feriados e fins-de-semana. e com a crise, quem sabe quando as pessoas vão arranjar emprego? tem amigo meu trabalhando no SUPERMERCADO (e arregalou os olhos).

- a segunda foi com um ex-professor amigo (ou amigo ex-professor).

"você está trabalhando lá?! mas pelo amor, aquilo não é trabalho para você. é lugar para quem está começando, não sabe direito escrever, mas você escreve roteiros, artigos, poemas, não precisa tomar esporro de policial militar porque um corpo foi despejado no esgoto de vila isabel".

- a terceira foi com meu chefe n.º 3 na escala da hierarquia (e, obviamente, o mais legal)

- seu problema é que você não sabe o que quer, né?

- eu SEI o que eu quero: trabalhar com cinema.

- e o que você tá fazendo aqui?

- tô ganhando dinheiro.

- oh, vou te dizer uma ooisa, tá? eu acho que quando a pessoa é jovem tem que fazer o que der na telha, porque depois, juventude, não dá pra fazer isso, não.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

É complicado falar sobre cinema. Existem filmes bons que não tocam a gente, filmes ruins que tocam a gente, filmes despercebidos que mudam nossa vida, e, de vez em quando, filmes sensacionais que nos tornam diferente em alguma coisa. Milk é um caso complicado - é uma cine-biografia, e como todo filme do gênero tem lá seus defeitos. A narração em off, a visão única e parcial da história, o julgamento de determinados personagens, a busca pela semelhança física mais que pela capacidade de atuar. Mas é um filme que emociona.

Para quem não sabe, Harvey Milk foi um político de San Francisco, California, que nos anos 1970 lutou pelos direitos gays. Era uma época de witch hunt - os Estados Unidos estavam enfrentando o pacote bombástico revolução hippie + revolução feminina + revolução negra, e dentre as várias respostas que o conservadorismo tentou dar à liberdade, a perserguição aos gays foi bastante enfática. O filme é centrado no período em que Milk sai de NY, onde era um vendedor de seguros medroso, apático e preso no armário, e vai a San Francisco, onde se torna o grande ativista.

Sean Penn está muito bem no filme - mas ainda considero a melhor interpretação dele em Sobre meninos e lobos, na pele daquele ex-mafioso confrontado com o passado. Mas enfim. O único que destoou foi Josh Brolin, como o maníaco que mata o prefeito e Milk. (Não, eu não contei o final - nos primeiros cinco segundos isso é revelado). Dan White era um conservador, filho de imigrantes irlandeses, católico e defensor da família e acumulou diversas derrotas políticas de um cara que comemora o aniversário com drag queens. Isso NÃO é tolerado. Isso NÃO é aceito. O que a direção de Gus Van Sant (e o roteiro de Dustin Lance Black) faz é apresentar um cara disposto a cooperar e de repente, da noite para o dia, surta e invade a Prefeitura com uma arma. Nenhuma reação extremista é tomada da noite para o dia, hello. Elas vêem de algo maior mas que por muito tempo foi escondido.

Uma das atitudes mais certas de Milk foi torná-lo bem humorado. Fazer uma cine-biografia trágica seria absolutamente fácil - a luta de um homem pelo direito de exercer sua opção sexual e o modo violento como foi morto. Prato cheio para um dramalhão. Mas Van Sant e Lance Black, que construiu diálogos incríveis, tornaram a história alegre, feliz - esperançosa. A chave mestra de Milk reside nisso: a esperança. É um filme que desperta o melhor (ou eu assim espero) em que o está assistindo.

Resumindo? Milk fala sobre sonhos. E eu sou sempre a favor de sonhos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

aniversários

"Subi as escadas da velha casa me esgueirando pela parede, temerosa que alguma professora Lola ou algum jornalista Ricardo viesse a perguntar o que havia acontecido. (não precisava preencher qualquer ficha com aniversários ou endereços, bastava apenas pagar em dia)

Pensei ler algum Bukowski, desisti – se é para dançar esse tango, que ao menos não pise nos meus calos. Chorei, chorei, chorei – até começar a sentir que não havia mais nada. Como entrei, saí, e fui parar no Jimmy's. Ele não estava.

Voltei com duas garrafas de vinho, e o assoalho de madeira, o resto de sol, de som, de silêncio, a chuva iniciante, a cama desfeita –

eu tive um amigo, certa feita, que dizia serem as pessoas o melhor da vida. nada importava se estava no país natal dele, com montanhas geladas ao fundo... eram as pessoas. Talvez.

Em um aniversário de vinte e poucos anos, caiu o maior temporal da história do rio de janeiro. As ruas principais ficaram interditadas, os bares fecharam mais cedo, as pessoas se mantiveram com medo; abri um vinho, liguei alguma música, fumei uns cigarros. Meia-noite, o telefone toca – meu pai. completamente bêbado. Perguntou como estava a saúde e quando eu iria para a europa. Respondi que não sabia, as coisas eram difíceis, havia assuntos delicados na cidade, não poderia abandonar meu emprego, meu marido -

Você não pode continuar aí. Precisa ver o mundo.
Eu sei, pai.
Lá no mundo é que as coisas acontecem; aqui nessa merda ninguém mexe o cu para nada; você precisa ver o mundo, Alice!

Eu SEI, pai.

(Nina, se eu pudesse pegar um telefone, eu ligaria e diria isso:

sweet, estou bêbada e hoje é meu aniversário. ignore isso! queria que você estivesse aqui, dividindo esse cigarro e esse vinho (que é muito bom, rodrigo roubou da avó dele). você é uma mulher linda, e apesar de qualquer coisa que esteja acontecendo, for better or worse, I LOVE YOU. você é parte de mim - não tem como falar de alice sem falar de nina, minha doce nina, que agüenta a lot of my craps e para quem eu estarei sempre aqui. tô bêbada, ouvindo tina turner, mas acredite: you're just too hot to hold.

o cd é ika & tina, na época em que ela apanhava do marido e fazia boas músicas )

hoje choveu muito e as flores amarelas invadiram a rua. Pela manhã, veio o gari e limpou. Atrapalhava os carros."

(zig, página 31)
Letícia diz:
ACABEI DE DERRUBAR VINHO NO TECLADO
Letícia diz:
ja volto
Rafa.Reis diz:
ok
Rafa.Reis diz:
meu deus...imaginei MESMO a cena
Rafa.Reis diz:
sua cara tomar vinho em frente ao pc
Rafa.Reis diz:
Let...ñ to conseguindo fumar um cigarro só mais...
Rafa.Reis diz:
só quero fumar 2 de cada vez
Letícia diz:
HAHAHAHAHAAHAHAHAHA
Letícia diz:
COMO ASSIM?
Rafa.Reis diz:
tipo...acaba 1 e quero logo acender outro
Rafa.Reis diz:
acho q vou ter q comprar Marlboro Red, agora
Letícia diz:
MARLBORO RED SALVA VIDAS
Letícia diz:
juro por deus
Rafa.Reis diz:
hahahaha
Letícia diz:
o universo fica mais bonito com marlboro rede
Letícia diz:
*red
Rafa.Reis diz:
uahuahuahuhauha
Rafa.Reis diz:
adooooooro
Rafa.Reis diz:
o Light me deixa super feliz
Rafa.Reis diz:
mas sempre tive uma quedinha pelo Red
Rafa.Reis diz:
só q como Mari fuma o Light e fica "reclamando" do Red
Letícia diz:
O Red é super charmoso, Rafa
Rafa.Reis diz:
acostumei com o Light
Letícia diz:
quer algo mais charmoso que filtro amarelo?
Rafa.Reis diz:
não tem
Letícia diz:
filtro branco is soooooo last century
se vale alguma coisa, hoje estou mais velha. e a todos os meus amigos-leitores, eu desejo muitos livros, muitos filmes, muitos shows e muito dinheiro para arcar com tudo isso.

o resto, a gente inventa.
- você devia voltar. não gosta do rio de janeiro.

- quem disse que eu não gosto do rio de janeiro?

- tudo que você faz, todos os dias, é reclamar da cidade!

- eu não gosto de lugar nenhum, é diferente.

- então você vai viver aonde?

- no meio.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

honestamente, eu desisto.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

nego no mundo todo comemorando aniversário da nouvelle vague. na folha, discute-se se a nouvelle vague não seria o neorrealismo francês, rótulo que, aparentemente, até godard veio a confirmar, no fim do (seu) tempo. tenho a impressão que o cinema brasileiro continua empacado no neorrealismo - desde o cinema novo, há essa necessidade entranhada na carne dos diretores de entender / discutir / analisar / expor a realidade brasileira, benemérita ou vulgar. isso é desde glauber rocha até cláudio assis. de nelson pereira a fernando meirelles. a beleza de meirelles, a meu ver, é ter expandido isso - seu cinema hoje é UNIVERSAL, coisa, que, me desculpem os mais puristas, o neorrealismo nunca será. neorrealismo é cinema regional, e isso não tira a beleza dele. nunca sairá da minha boca que ladrões de bicicleta é um filme ruim ou feio. é LINDÍSSIMO. mas situado em determinado tempo e espaço. quando olho a produção cinematográfica nacional... todos estão sempre querendo justificar o que vemos pela janela do ônibus - não estaria na hora de inventar um disco espacial? de voltar a câmera para dentro do carro, o motorista e seu companheiro? ou dentro de casa? pessoas, a chave sempre são pessoas. sempre.