sexta-feira, 30 de abril de 2010

do grande poeta lulu santos

eu gosto tanto de você
que até prefiro esconder:
deixo,
assim,
ficar subentendido

- como uma idéia que existe na cabeça e
não
tem a menor obrigação
de acontecer.

eu acho tão bonito isso,
de ser abstrato,
babe.
a beleza é mesmo tão fulgás.

- é uma idéia que existe na cabeça e
não
tem a menor pretensão
de acontecer.

pois que seja fraqueza,
então.

a alegria que me dá
(isso vai sem eu dizer)

se amanhã não for nada disso:
caberá só a mim esquecer
(e eu vou sobreviver)

o que eu ganho
o que eu perco
ninguém precisa saber.
(eu poderia estar roubando, eu poderia estar trabalhando em redação de jornal, eu poderia estar sofrendo de amor, mas eu só tô ouvindo lulu santos).
aqui em casa moram umas facas cegas de medo que precisam ser amoladas. para ontem.

felicidade é feita de

em uma sexta-feira, aplacar as angústias existenciais ao som de carménere, morder os céus e acreditar piamente na existência de um universo paralelo lilás debaixo do tapete de veludo.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

livre associação

madrigais, madrugais, manhãs, mornas, modorrentas, musicais, malabaristas, mamelucas.

a letra eme é uma das mais feias do alfabeto.
shhhh! silêncio minha gente, muito silêncio. você sabem dos madrigais? os madrigais correm como loucos nápoles adentro: arrebatam moças casadoiras, com vãs filosofias de guerra & amor.

mas da parte de manuela, doce manuela, que tem apenas uma preocupação no mundo - morrer de forma bem discreta, de sombra lilás, em lençóis finíssimos e brancos - pouco importa o poeta provençal de canto louco. à doce manuela, só servem as gaivotas.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

(de pessoas que riem estridentemente)

EU NÃO AGÜENTO MAIS.

terça-feira, 27 de abril de 2010

pensamento do dia

you can't always get what you want but if you try sometimes, you might find - you get what you need.
algumas palavras são melhor ditas em silêncio.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

segunda-feira

tenho medo de me perder em tuas rendas
tuas fendas de
quem já amou demais
e ainda senão,
diante de um abismo,
retêm-se: medo
de aflorar.

passam-se dias sem
ninguém vir retirar os carpetes
- todos os corpos, nus, dançariam
mas o verão já é passado de
milnovecentosesetentaetrês
do qual sequer se consegue
lembrar.

bem.
diante de qualquer testamento de desejo,
noites parecem mais vermelhas;
não é verdade?
sim.
sempre haverá espaço para mitos,
sopros,
e trovoadas secas.

- mas de todas as manhãs,
as mais belas,
cabem na exata distância entre meus sonhos
e teus braços.

domingo, 25 de abril de 2010

trabalhar o abandono pouco a pouco, como gotas que se desfazem antes de tocar o chão, como sonhos dos quais se acorda antes de alcançar as estrelas - quando se estava tão, mas tão perto -, como amores plenos de realizações que, por obra de destino ou de estradas mal pavimentadas, nunca encontrarão a saída para a cidade.

para ivam

não sei por que - e nem pretendo saber, em verdade, antes que a mágica se desfaleça em veludíneas razões -, mas o seu sorriso arquiteta uma cidade dentro desse meu quarto verde no alto da glória.

amigo querido.
os piores domingos são aqueles em que, enquanto o sol urge na cozinha, uma alma atormentada não pára de reclamar.

cala a boca, criatura!

sábado, 24 de abril de 2010

a todas as pessoas que eu eventualmente magoeei em vinte e dois anos de vida: desculpe, mas foi necessário.
o areal dos seus olhos
transbordou até a minha janela
e até onde as paredes alcançam
não há senão, qualquer um relicário
de alegria percorrida
por dentre as vielas
dos meus olhos.

os melhores filmes de audrey hepburn

. sabrina, 1954, billy wilder. sabrina é a filha do motorista, apaixonada pelo filho mais velho, um playboy, mas que ninguém dá atenção por ser nova demais, ingênua demais, boba demais. sabrina vai a paris, transforma-se em uma dama, e quando volta, o cara-por-quem-estava-apaixonada-agora-se-apaixona-por-ela-mas-ela-não-quer-porque-ele-é-um-babaca. e então, sabrina volta seus olhos para O DONO DO FILME: humprey bogart. amargurado, meio calvo, muito alcoólatra, linus se recusa a aceitar a paixão por sabrina (por todos os movimentos explicitados acima). quando sabrina decide voltar a paris, linus abandona a rabugice e declara-se apaixonado por ela.

. roman holiday, 1953, william wyler. ann é uma princesa entediada de sua vida perfeita no palácio - festas, coquetéis, amigos nobres, viagens internacionais -, e em uma passagem rápida por roma, pula da janela do quarto e foge. é encontrada na rua por joe bradley, um jornalista alcoólatra que vê no furo a possibilidade de voltar para os estados unidos. ele só não contava que iria se apaixonar por ela. um amor impossível, aliás: quando ele, finalmente, decide se declarar à ann, ela já está na porta do palácio, e o máximo que ele consegue é estar na coletiva de imprensa do dia seguinte.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

os dias em que os sonhos se tornam palpáveis são os melhores. em termos de metereologia mesmo.

terça-feira, 20 de abril de 2010

pensamento do dia

i watch you eat and feed this mess to the running wind.
nine o'clock in the morning
two coffees have gone
and all hope that could remain
was buried by
an unrestful with sad white
hands.
i'm not complaining, you see
- there still are green leaves
to be seen in the garden -
it is just
love is not a reason
flies with seagulls in
wintry times
towards your eyes
but what happens
when arms are not
there to receive mine?
you take one more
coffee
to go.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

para guigo

meu querido amigo, meu doce e querido. você lembra daquela varanda borrada de vermelho, com vista para um terreno baldio, onde, noite adentro, te disse para segurar minha mão que, onde quer que o vento corresse, eu estaria perto de ti? [ sei que sim ]. e planos, muitos deles, azuis eles, correndo soltos pelos corredores brancos e ingênuos de salvador. éramos tanto. nesses quatro anos longe, morri muitas vezes, quando metade de mim foi erro e a outra uísque com pouco gelo - faz um ano que não vou a sua cidade. [ muitos sábados, há idades medievais, fugi para ela quando morria mais uma vez ]. não é melancolia, apenas saudade mesmo. saudade em verde escuro, saudade de cavaleiros em armaduras, saudades de mim, construída em armadura. você é grande, meu doce, tão grande que não mais cabe nos meus braços de irmã - cria mundo. mas escuta, em uma dessas revoadas, a gente se encontra. pois que o vento já anda levantando curvas: e me chama.
ainda me espanto em como algumas manhãs conseguem reunir toda a desesperança e todo o desassossego de certas noites.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

cores
cores
cores
cores do mundo.

todas as cores do mundo por detrás da porta.

terça-feira, 13 de abril de 2010

vem cá, deixa eu te contar como está bonito, meu deus, como está bonito esse céu de fim de tarde, completamente tomado por essas ondas lilazes e azuis, quase como que invertendo a ordem do mundo: o que deveria ser água virou um sem-fim de horizonte. mas escuta, parece que a dor, a nossa conhecida de paredes amargas, a construidora de pés de mesas, madeira velhas & afins, ainda de moradia fixa & declarada em mim, decidiu por um descanso no pulmão esquerdo. nesses tempos de risco e de vinhos à espera no congelador, o mais prudente a se fazer, então, penso com meus botões, é sair à rua e evitar as pedras em falso - ainda que eu tenha um pé quebrado devido a elas.
existem palavras que somem
ao encontrar o seu mar,
envergonhadas por um canto azul-marinho
de quem nunca viu um céu
tingido com as montanhas
da praia de botafogo.

da tristeza

de repente invade
trazendo todo o sal
e toda a terra incrustrada nas unhas

o que se faz nessa hora
é fugir.

(ou transformar fumaça em blues)

de ontem

- eu me equilibro nas impossibilidades
e desagüo a perfeição.

daí que

eu comecei a escrever um novo livro. e você poderia me perguntar (com bastante pertinência, aliás):

- ainda há histórias para serem contadas?

não faço a menor idéia. sei que essa grita aqui, quer sair de qualquer jeito. e, claro, vocês não têm nada a ver com isso (aliás, já pagaram a taxa de incêndio hoje?), mas essas pessoas querem falar. e como falam alto, meu deus.


(obviamente que será mais um livro estacionado nas caixas de e-mails alheias, assim como foi com veneno, renascimento, o vento, a rosa e zig. mas isso nunca impediu ninguêm de falar alto nem de bater na mesa, não é mesmo?)

para ana c. (II)

escuta, a cada instante cai uma nova faca do teto
- e o passar dos dias não é, afinal
decidir com qual se cortar?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

para ana c.

será que se eu
contasse menos mentiras
tivesse os olhos verdes
e a habilidade com os subjetivos
de lancinar o estômago -

será que se eu, ao invés de
roer unhas
despisse os sonhos
[ fosse competente e não
covarde ]
narrasse em fios
lençóis de seda
suas manhãs -

será que,
ainda assim,
por dentre os carros,
você esfumaçaria a noite e
gritaria em
mim?

ou

me dedicaria mais um livro da sua
estante
erguida sobre
as recordações
de terça à noite?

sábado, 10 de abril de 2010

daí que chove chove chove no rio de janeiro, e no meio de tanta lama me veio à cabeça aquele inverno em mil oitocentos e setenta e três, quando houve a noite mais fria de salvador - eu estava na rua, vocês estavam em casa, até onde é possível lembrar -, mas daquele inverno ainda, me veio uma noite específica, aquela em que sentimos que tudo iria mudar. vindo com o vento. vindo com uma notícia à meia-noite. mas ainda assim, rimos, enchemos as nossas taças, nos demos as mãos e xingamos muito quando o sol nasceu [ maldita claridade, há de ser dito ]. ouvimos músicas, nos fizemos artistas de corda bamba, graças não quebramos nenhum copo, lucia e julio fizeram suas juras de amor (validade: próximo verão, quando ele embarcou para alemanha), e na hora certa, fomos embora.

todos fomos embora. nada ficou. o que terá sido feito daquele apartamento? quem deve morar nele hoje? ainda conserva as mesmas paredes em vermelho? terá achado a maçaneta do armário azul dentro da velha geladeira? por quê imaginar a vida dos outros é tão mais delicioso que imaginar a nossa?

de todos os nomes do balaio de gatos (todos filhos de novelas da globo dos anos oitenta), guardei o seu por ter me mostrado bob dylan. não no melhor momento de sua vida, afinal, everybody must get stoned só é divertida quando you are actually stoned. você foi embora, o dylan ficou. viver é isso aê: perder nomes em um enorme balaio de gatos.

e chove no rio de janeiro.

pensamento do dia

(rir de tudo é desespero)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

desvanecer no mar
é morrer um pouco sem saber
até onde ir
nem onde estacionar
os sonhos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

da janela

de qualquer forma, ela pensou enquanto afundava a bochecha esquerda no lençol branco, é sempre a mesma situação: confiar no horizonte como um porto seguro para desvanecer na espuma do mar dias depois. ouvir bob dylan - muito bob dylan - para continuar seguindo, após dias & dias de dores nas pernas (muito peso para se carregar nesses dias).

e assim, como quem não quer nada, ela coloca o braço esquerdo à frente dos olhos cinzas, para tapar a imensa luz vinda da janela. regina não sabe lidar com claridade: luz demais a cega.

[if the woman without a past meet the man without a future, they could live in the foggy city by the grey shore. but when it all started to hurt, she disappeared. and it was for the best.]

(hey, mr. tamborine man, play a song for me. i'm not sleepy and there's no place i'm going to.)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

remake

letícia s., 22 anos, fumante inveterada e recém-separada.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

bukowski, 2003

o primeiro livro que caiu nas minhas mãos do velho hank foi misto-quente. vinha naquelas recomendações da l&pm, 'se você comprou esse livro, leia esse", na contra-capa do on the road, do kerouac. misto-quente, sem exageros nem parafernálias, mudou a minha vida. o jeito como escrevia, como o mundo se apresentava aos meus olhos, como o álcool poderia e deveria ser um antídoto ao inferno cotidiano, da libertação necessária e sofrida. bukowski falava - e ainda fala e sempre falará - ao meu coração: little girl, with freedom comes, inevitably, solitude and guilt. e eu entendi. e eu pratico. e eu escrevo.

e eis que uma das pessoas que eu mais amo no mundo - e que sequer leu uma linha do grande hank - me entrega essa, essa, essa. (sorry, não há um adjetivo completo). esse filme chamado bukowski - born into this, que começa com hank em mais um dos seus recitais pelos estados unidos, bêbado, reclamando por mais vinho, lá pelo fim dos anos setenta (ali na época de factótum).

motherfucker. a sensação de ter percorrido tantas vezes aquelas linhas sujas, perfurantes, tones and tones and tones of suffer, love and pain, e assistir ao hank VIVENDO aquilo. escrevendo. na sua velha máquina de escrever, no quarto sujo em san diego, tijuana, los angeles. hank dirigindo pela califórnia enquanto um dos poemas mais LINDOS do mundo se revela, em P & B:

there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late
and there's nothing worse
than
too late.


(eu queria ter escrito isso. como eu queria ter escrito isso. mas meu coração se acalma ao saber que foi hank, o velho hank, meu amigo de vinho barato hank, quem escreveu.)

e o filme percorre toda a vida dele: a infância fodida com aquela merda daqueles pais (a quem ele sempre voltava), os dois anos de faculdade em que ele nunca assistiu a uma aula por completo, as mudanças de endereço pelos estados unidos, as CORRIDAS DE CAVALO, as mulheres, os traumas, os traumas, os traumas. a fama.

e em tudo se respira hank, o nosso hank bêbado, sentimentalóide, que odiava os hippies / beatniks / radicais de qualquer tipo, que chora ao ler a página de factótum em que ele descreve o banho de banheira que ele e linda tomaram. o hank que expulsa linda a chutes do sofá porque bebeu demais, é ciumento demais, inseguro demais e sente culpa demais.

é um filme do caralho. cada crédito foi minuciosamente pensado e detalhado. cada corte foi feito ao estilo de hank: seco, preciso, direto. cada inserção de música está contida em algum livro dele.

para hank, só o meu amor. para esse filho da puta que dirigiu essa preciosidade, só o meu amor. para quem me emprestou esse filme, só o meu amor.

pra ninguém

os pássaros estavam lindos hoje de manhã na praia de botafogo com o alaranjado lilás azul que nascia.

(claro que pensei em te ligar e contar que desci do táxi, sentei na areia e sofri revoadas)

daí que me recolhi à insignificância das calças curtas e dormi, sonhando em montar quebra-cabeças de oito mil peças do matisse.

gabriel

- vocês conhecem o julio? ele parece ser um cara legal. se ele existisse, claro. o livro que a tia alice me deu conta a história dele e dos amigos dele, que descobrem que um grupo de gente safada, como diz a minha mãe, tava roubando dinheiro vendendo figurinhas. a tia alice me disse que eu tinha que ler esse livro. e ele é muito bom mesmo - eu queria ser o julio e viver tudo aquilo, de construir barraca no rio, espionar os outros, mandar prender; mas eu quero fazer filmes também. minha mãe saiu para beber com as amigas dela, a alice e a daniela. daqui a pouco elas chegam, e enquanto isso eu fico aqui, vendo filme. esse, no caso, é ruim - ontem, eu fui parar na sala da diretora, minha mãe foi chamada e eu não queria nada disso. acontece que eu sou o melhor aluno da sala. já ganhei até medalha de honra. e na hora de sair o boletim da primeira unidade, veio um sete em comportamento, porque a professora disse que eu não sei sociabilizar. e me mandou para a sala da mulher mais gorda daquele colégio: gorda, feia e tem uns óculos roxos horrorosos. e daí que eu fiquei com raiva: como assim aquela mulher se sente no DIREITO de tirar a minha medalha? eu gosto de ler, de ver filme e olha, aqueles garotos não são para mim. são idiotas. aí, mamãe, tia alice e tia daniela chegaram. vou fingir que tô dormindo, porque aí dá para escutar tudo que elas dizem. (eu sempre faço isso) (uma vez, eu escutei minha mãe dizendo que ela não gostava de mim quando eu nasci porque eu era feio. e porque ela era muito nova. vou dizer que chorei debaixo do travesseiro, pra ninguém ouvir. mas não tem problema, não, eu entendi depois: ela só tinha vinte e dois anos quando me teve e ninguém tem obrigação de gostar do outro, não, ainda mais filho pequeno que chora berra come caga. hoje eu sei o que ela passou, e eu gosto dela ainda mais por isso) elas tão falando da minha avó: ela morreu quando minha mãe tinha oito anos e ela morre de medo que isso aconteça com ela. vou reproduzir:

tia alice (que fala alto e tem a voz parecida com a de uma menina da minha sala) - você não pode transferir o teu trauma para o seu filho; primeiro, você paga um analista, resolve tuas pendengas com teu passado e depois você conversa com o gabriel.

minha mãe - mas eu não quero que ele sofra!

tia daniela (ri que nem uma sapa maluca) - mas a vida é tomar no cu todos os dias, é a nota que veio vermelha, a menina que gosta do teu amigo, o marido que te larga, o aborto que tu fez, a porra do chefe que te demite. é isso. botou no mundo, é pra sofrer.



minha mãe parece criança que não entende isso. eu entendo! ela fica querendo me proteger demais, mas eu já sou crescido. pego ônibus sozinho, compro entrada do cinema sozinho, vejo filme sozinho e volto pra casa sozinho. teve uma época que eles se separaram, meus pais, e minha mãe trabalhava dois turnos - e eu me virei sozinho. ela me ensinou tudo. (até hoje acho que eles não deviam ter voltado. minha mãe ama meu pai, mas amor de amigo, que nem eu amo minha prima cláudia, que mora lá longe, n'outra cidade) (já ouvi minha mãe dizendo que meu pai não é o amor da vida dela)