quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

venha.

venha aqui me dizer que
o amor morreu
se é que você tem
coragem.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

adoraria escrever um poema
talhado em arestas e nos erros de
uísque com sequer um gelo

adoraria muito mais, na realidade
VIVER DE POESIA
o poema entrando pela córneas
rasgando as vísceras
dos contadores dos jornaleiros dos porteiros enxeridos

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

o rio que corre dos teus olhos
inundou a minha sala
encharcou o tapete e os
armários

o rio que corre dos teus olhos
afogou as minhas roupas,
as velhas idéias
todos os nomes: os de batismo e
os de invenção

o rio que corre dos teus olhos
derramou peixes e pássaros
que comeram as notícias antigas
e as ordens de pagamento

o rio que corre dos teus olhos
me diz que o mundo é vulgar:
dos braços,
faço um barco.

desagüo no silêncio fugidio
e dos teus olhos
viro mar

domingo, 12 de fevereiro de 2012

poesia é um tal de bailar com as palavras: escolhe-se uma, senta, outra chama para dançar, mas ei, não vai embora assim, olha as cortinas, as cortinas!
olho fixamente para as mulheres de quarenta anos
tentando reconhecer
algo ali que seja
meu.

tento descobrir em cada olhar,
pescoço, nuca
em cada rosto cansado pelo naufragar
- ou até pelo êxito -
dos sonhos & dos planos
os meus navios feitos de
areia e sal

ainda sorrirei com o canto da boca
quando minha mãe tiver desaparecido do dia?
revirarei as mãos para trás
- como aquela mulher, ali, em vermelho -
aplainando o cansaço de tanto
tato?

e o cabelo? seguirá feito de vendavais?
a mulher ao lado tem lindos fios de eternidade
pairando sobre as costas
- dançam, os brancos, dançam

maldita incapacidade da visão:
não me é permitido vislumbrar o futuro.
assim sendo, penso enfim como violino,
embalado em suaves ondas de solidão,
sabedoria e tempo.

talvez um dia, consiga.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

começo a distinguir
as diferenças entre as tuas esquinas:

onde resta tão somente horizonte
onde dorme suave desespero
onde se esconde o concreto
que teus pássaros rasgam

o céu
onde tu enganas o desfile
e recaptura setembro
desenhando no muro
o primeiro vôo espontâneo
de tuas asas