sábado, 26 de setembro de 2009

o homem mais bonito do mundo tem alguns fios brancos que cortam sua testa negra, perceptíveis apenas quando o olho consegue correr das janelas verdes. ele fala com toda a calma do mundo, de quem já correu mundo mas ainda tem terra nos all star azuis. o mais encantador pensa, pensa muito; fala com aquela preguiça de quem sabe que tudo de importante já foi falado, e nos resta agora, somente, esperar o tempo passar. o homem mais charmoso caminha, caminha adelante, sempre; com a única preocupação de passar desapercebido por essa multidão.

o homem, esse, repara
guarda segredos
e trafega pela corda-bamba
com a experiência
de um leão
- enjaulado pelas grades verdes.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

escrevo para me sentir menos sozinha. quáquáraquáquá: a vida dos meus personagens é muito mais inebriante que a minha, acabo que descarrego costumes, nomes, espaços, décadas, para depois me revirar na cama com minha crônica noturna.

não desistirei de escrever, jamais. esgrimarei todos os meus atores. é preciso, no entanto, esgrimar a solidão - porque essa não vai embora jamais, e é preciso aceitar. (ao lado de uma taça de vinho pinot noir. )

domingo, 20 de setembro de 2009

dois aspectos de "o globo" me incomodam; primeiro, a dita imparcialidade que eles propagam aos quatro ventos, como se fossem os detentores e propagadores de uma verdade universal e libertadora. o segundo, a postura de Estado, e que vem agora com essa campanha "nós e você já são dois gritando". o resumo: já que o Estado não se preocupa com os cidadãos, nós, do Globo, vamos resolver todos os problemas da sociedade. essa linha de campanha é desenvolvida, pelo menos, desde 2007, quando cheguei ao Rio de Janeiro - a idéia de que um governo omisso é facilmente substituível por um órgão de comunicação, com o slogan "além do papel de um jornal".

NÃO É.

"o globo" é uma empresa, e empresas não são poder público. empresas defendem os seus próprios interesses - no caso das organizações roberto marinho, reforma agrária, direito ao aborto, questionamento das forças militares brasileiras não são pautas viáveis. não são assuntos em discussão. um jornal depende dos seus anunciantes: "o globo" defende uma discussão sobre a sustentabilidade do meio-ambiente e toda quarta-feira coloca mais de vinte páginas por exemplar com os carros mais turbinados do planeta. faz-me rir.

no brasil, imprensa e estado estão promiscuamente ligados; pela inexistência de uma revolução burguesa no país, a revolução industrial foi empurrada pelo gargalo através do estado - quase sempre por governos ditatoriais. por falta desse processo histórico, roberto da matta diz que nós entramos na pós-modernidade em um outro modelo político-econômico. nem pior nem melhor - diferente. um modelo brazuca que coloca no mesmo balaio de gato estado, poder e comunicação.

não, eu não quero que "o globo" resolva minha vida - desejo que continue sendo o que é, uma empresa de comunicação. um jornal. não há nada além disso.

dificulta muito a tarefa a falta de opositores. com a decadência do jornal do brasil, quem mais fala nessa cidade? surge uma voz ingloriosa, a record, mix de grana, religião e apresentadores populistas. tenha medo daqueles que condicionam a comunicação à fé.

já vimos esses exemplos de massa inebriada antes.

resumindo: não, "o globo", eu não vou gritar com você.

e tenho ainda mais medo do que está por vir.

sábado, 19 de setembro de 2009

(meu maior medo é que descubram a grande farsa que eu sou.)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

das lembranças mais antigas da minha mãe, o dia da morte de getúlio vem em primeiríssimo lugar. dona carmelita, minha avó, chorava copiosamente ao lado do rádio. vestiu ane, minha mãe, com uma seda azul e um laçarote branco; rumaram à casa da minha tia-avó, e a família ouviu reunida os pormenores do enterro de seu getúlio.

hoje em dia minha mãe nem sabe mais ligar o rádio. acostumou-se à televisão.

eu cresci agarrada às barras da saia do rádio da minha avó. minhas noites de insônia eram resolvidas ao som de cartas de amor, conselhos, ironias e uma voz solitária. ia dormir apenas quando ele se despedia - sentia pena de deixá-lo falando sozinho. falta de educação.

hoje, meu rádio nem antena tem. minhas madrugadas são profundamente silenciosas. organizo minha lista musical, ando sempre com um livro ou leio o jornal. sinto falta do rádio - meu amigo nunca foi um serviço de informações, mas apenas isso, um amigo.

domingo, 6 de setembro de 2009

- mas quando eu quis te falar de sonhos, você deu para trás; quando eu fui me meter a versar sobre nuvens, você zombou das minhas rimas, e agora que eu desisti você vem querer me ensinar?

sonhos

depois que acordei, trê estranhos sonhos ficaram na minha memória.

o primeiro contava a história de uma professora-cientista (eu), durante a revolução industrial, que descobria serem os alunos o material para a fornalha da fábrica. eu trabalhava no 5o andar, e eles eram enjaulados no 3o. o forno era no subsolo. o meu plano foi subornar o ascensorista - um senhor entre morgan freeman e o típico velho creepy dos contos-de-fada - para que ele nos levasse até o 2o andar, onde havia uma saída para a cidade. lembro de ter, pela primeira vez em muitos anos, visto a cidade através do elevador e achado tudo aquilo nojento. certo que minutos depois, a infataria da fábrica-matadora-de-criancinhas saiu para me caçar. com o BOPE. e do nada, surgiu um tiroteio entre infantaria-BOPE-traficantes.

(essa última parte vem do tiroteio ao lado de casa que ouvi ontem).

fim.

sonho 2.

estava em salvador novamente e não conseguia sair. meu carro era roubado. minhas roupas desapareciam. existia um espelho que narrava o futuro - mas eu não conseguia guardar o que ele dizia. tinha que voltar a cada minuto. via as placas de saída e não conseguia achar o caminho certo. havia um viaduto. perdi todos os dentes da fila de cima.

sonho 3.

estudava numa faculdade à la EUA, onde todos moram nos campi e são amigos-forever-and-ever. era a última semana. algumas brigas ali, outras lavagens-de-roupa, e muitos abraços e choros e cartas. houve muito mais, é claro, mas não consigo me lembrar dos detalhes. sei que acordei com uma sensação angustiante de tristeza, tempo que passou, vida que não fui.

saudade, essa palavra que nunca vai embora.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

estou em uma fase de filmes e peças. ando querendo entrar em cada teatro que é uma coisa. estranho, eu sempre fui rata de cinema, e estou acostumada a ter bilheteria aberta a qualquer hora do dia. teatro possui todo um ritual. é mais calmo. a venda de ingressos vai de terça a sexta, e a grande parte só abre depois do almoço. preciso sair do trabalho, correr lá, comprar o ingresso e voltar. ainda tenho agonia com teatro: são pessoas vivas, embaladas por uma emoção de outras pessoas vivas (nós, o público). e se eu rir na hora errada? se eu chorar, será que o ator vai me achar muito patética? e se eu quiser ir embora? não sei conviver com gente. ainda mais gente em um palco.

como não há mais estante na minha casa (o gato quebrou), comprei oito prateleiras negras e fuzilei a parede. agora os livros estão suspensos, pendurados, alçados ao céu. para pegá-los, preciso de uma escada. resultado? desisto de ler os antigos e compro novos.

(quero correr mundo desenhando rabiscos não no céu, mas no chão com aquele cheiro de chuva.)

não desista, meu amor, a vida ainda vai te surpreender para bem. ela é uma safada, dá tapa em luva de pelica, beijo com gosto de arsênico. mas não desista. eu seguro sua mão.

é iniciada a era em que qualquer um, a qualquer momento, pode ser ridicularizado por todos, em todos os momentos. que pena. a humanidade não irá pra frente, ela vive nesse pendoar de ir e voltar. regredir, avançar.

ciclos viciosos - mas quem não têm os seus?