segunda-feira, 27 de junho de 2011

para uma foto de w.c.

o elefante sussurra,
enrodilhado e entregue:

na ponta dos dedos, desenha
[corda ante corda

a luz, da mão que me
ofereces

a cidade, já distante, sorri:
pétala liberta

terça-feira, 21 de junho de 2011

a história é a seguinte: eu tenho uma mala em são paulo, esquecida há anos.

retornarei a ti em seis dias. são paulo, a mala, a consolação. ai.

domingo, 19 de junho de 2011




há uma saída exatamente aqui onde eu pensava que todos os caminhos terminavam. uma saída de vida. em pequenos passos, apesar da batucada. agora que você chegou não preciso mais me roubar.
não deveria ser assim tão complicado; afinal, somos tão pouco. a eterna dúvida entre as sobras da geladeira e o farfalhar de novas chaves - proponho um pacto: só tornaremos ao uruguai quando terminarmos todas as tarefas, você incluso. o que eu faço com você? teríamos uma irrepreensível pilastra entre - quando você pensa que aconteceu, há muitos - e as tomadas sem proteção, como ficam? elas podem queimar! fios desencapados: ah, as metáforas baratas. vamos falar sério, dessa vez. a história de nós dois seria um desalento desencontro ou esses pêlos tortos pelo chão? a xícara de café, claro, duas colheres de açúcar, puro e branco, o verde que não mais sai de mim - mas onde isso vai parar? ainda sonho em contar cores por detrás do alaska, e isso há, isso há. de mim, nascem tantos, nascem cidades, você não imagina. amarelinha em abridor de latas: um dois, um dois, um dois. rasga-se um tanto para atingir a outra manga do vestido. é assim mesmo, penso. (não, não é, retruco). ouço barulho qualquer, coisa fina, coisa pouca. o cheiro de amanhã, chuvoso, invade a janela, já premeditando os assuntos de pratos & tecidos - a nostalgia d'água, as lágrimas de quem não sabe exatamente aonde pisa. é agora, coração: furiosa, à toda, na contramão. não estamos na contramão, ela disse. (pensou). mas estamos.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

nina dorme comigo: repousa e sonha, justa. em verde, rosa, tafetá (tafetá é uma palavra horrorosa, me olha de rabo de olho). os dedos curvados, o olhar de quem há muito foi. de que adianta dizer? nina é vagarosa, linguaruda, me entrega a tarde às mãos, reta. nina senta-se aos meus pés e escorre, perceptível, deliciosamente perceptível.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

desajustada, troco os passos, erro a mão. tateio em busca de tinta (encontro carbonos usados). dos tapetes verdes, desculpe a poeira, ficaram apenas as panelas, ou melhor, as toalhas. aqui de cima, construí mistérios, tantos - ilhas forjadas à mão. não posso falar em fios mas em telefonemas permeáveis. ouvindo conversas alheias, descobri imperscrutável: talvez seja essa nossa relação. não posso deixar de sentir certa pena por nós, separados por assertiva linha; trincheira de horizontes, eu diria. de lá, vê-se um vazio. de cá, vejo apenas memória.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

a mudança está feita: volto ao cosme velho. não, a mudança ainda não está completa (ele não está aqui). atrás da porta, o espelho, os livros. hei de dormir, ainda que sem panelas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

decido, então, escrever cartas.

terça-feira, 7 de junho de 2011

prezado 2011,

apesar dos tropeços - e estão sendo muitos, doismileonze! -, dos arpejos, dos tufões e dos pregos mal colocados, obrigada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

lembra quando
só havia os
pássaros?
o naufrágio da cidade
diante da impossibilidade
do caminho.

reticências

mamãe chamou-me letícia apesar da novela. cássia kiss estava na televisão e chamava-se alegria. poderia ter sido maria beatriz, gabriela ou adelaide mas carrego os olhos fundos de mágoa. aí é que são elas: aprendi com helô. meu primeiro poema falava das bolhas que se desfazem à janela. para onde vai o rosa que - dessensatez, a arte de morar em silêncios. de casa, avistava cecília, manoel, joão. meu coração sempre foi de recife (depois, das montanhas). de tempos em tempos, me perguntam: mas não pensa em voltar? para ver as crianças, não. quero voltar ao exato ponto da demolição - talvez insistir na correspondência seja erro (mas alivia angústia). ser de fevereiro me trouxe benesses - os pássaros. certa forma, sempre escapo. ou saio rindo (para escovar os dentes). só sei sorrir, mesmo entre cortinas.

autorretrato

duplo:

os pés da bailarina sem cessar

meio fio,
meio calcanhar,
meio do caminho.

watch out! new road layout ahead
(não consigo evitar)

nariz empinado,
disfarço círculos na espinha da manhã

recostar-se em aviões,
tufões,
viadutos,
colisões

Arquitetura de uma paisagem:
entre saltos postiços
no espaço

o amanhã se escreve a lápis
(and I can't dance no more)

domingo, 5 de junho de 2011

quero voltar. quero voltar a quando era fácil, a quando era quente. aos tempos dos arco-íris domingais, às cenas de maio, puramente maio, somente maio. isolarmos-nos do mundo. quero voltar contra a distância, meias na cozinha, abrir e fechar de segredos. quero voltar aos gatos. porque hoje já não funciona mais.
Você não sabe, é engraçado: eu tenho ligação afetiva com o Uruguai. A partir 11 anos, mais ou menos, eu, como todos os brasileiros, acompanhava a vida de Jango e Brizolla, que tinham fazendas no Uruguai. Eu achava o máximo ter fazenda no Uruguai. Se eu ganhar muito dinheiro na sena, vou comprar uma fazenda no Uruguai. Quanto à Argentina, é mais importante do que o Uruguai. Como ir ao Uruguai e não ir à Argentina? Hoje estive com Dr. Antônio Carlos e disse a ele, em um momento, que você queria fazer a viagem de mochilão. E, em outro momento, eu disse que iria comprar um capote ou uma suéter de cashmere, que eu adoro, em Buenos Aires. Ele disse que não combina mochilão com cashmere.

Quanto à sua surpresa, lembre-se de que Buenos Aires é uma cidade grande, como eu gosto.

Voltando ao assunto inicial: Brizolla e Jango viviam entre o RGS e o Uruguai como se fossem uma mesma região- aliás são. Daí a minha curiosidade pela fronteira.

Você é uma benção na minha vida.

sábado, 4 de junho de 2011

depois de ter separado cada parte do corpo de ivam em um saco plástico diferente, catarina foi para a yoga.

vamos falar a verdade:

eu sou uma lady.

(apesar das unhas carcomidas)