quarta-feira, 30 de julho de 2008

alguééém toma uma cerveja comigo, por favooor?

faltam quatro QUATRO dias para as aulas começarem.

vá de retro, satanás.

terça-feira, 29 de julho de 2008

quando o próximo for escrever almanaque dos anos 00, vai colocar em música que foi a década dos indies da estônia, em filmes que foi a década dos indies de hollywood - garden stante, juno, panz -, os seriados de tevê faliram porque indies não vêem tevê, a década do myspace porque indie que é que indie tem myspace, facebook e o novo concorrente do twitter.

bah, indie que é indie junta com mais 36 e faz uma banda de pa-pa-pa-pa.

quem diria, hein?

***

necessidade máxima: o novo filme do lou reed, a ópera-rock.

tipos, pra ontem.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

pequenas observações

hoje, eu vi uma senhora - velha mesmo -, num desses fast-food de ponto de ônibus, comendo um hambúrguer de r$ 1,99. ela era tão triste, e por ser tão triste, era feia. usava uma saia cinza, uma blusa azul-claro, um colete também cinza, e uma carteira rosa. não tinha ninguém e carregava revistas em sacolas do bob's. revistas que sua filha lhe deu na última visita para saber como iam as coisas - sei disso porque minha mãe dá revistas da semana passada para a minha avó, quando dona carmelita vai lá, saber para onde vai a vida. sentou-se perto de mim, a senhora, não dona carmelita, no ponto de ônibus. quando levantou-se, imaginei quem iria socorrer se ela caísse no vão entre a calçada e o asfalto. ninguém. alguns se mobilizariam para ajudá-la, levantariam seus braços, mediriam seu pulso, talvez até chamassem uma ambulãncia, mas a velha já estaria morta há muito tempo. a sorte foi que quando o ônibus chegou, ela entrou resoluta.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

helena e eduardo

Sentaram-se na mesa, o garçom os acompanhou todo o caminho - o restaurante estava vazio, era no meio da tarde do Centro, as pessoas estavam trabalhando, logicamente não haveria alma viva ali. Pediram uma taça de vinho cada um, aquele mesmo vinho, aquela mesma uva - cabernet, ela adora cabernet - e ela se prontificou a escolher a sua massa - era um restaurante italiano -, mas a quem enganar? Obviamente iria pedir o ravióli de mussarela de búfala com tomate seco e pequenas tiras de filé mignon ao molho rosê - não era isso que sempre pedia? Ela resmungou que estava morrendo de fome, tirou os óculos escuros, apertou os olhos para eles se acostumarem com a nova luz. ele segurou a mão dela, mas quase derrubou o copo com água que chegara fazia alguns instantes. tocava billie holiday - nessas horas sempre toca billie holiday -, e ela sorriu. ele soltou um f, assim meio caído, como não quer nada, para depois juntar-se ao i, e em seguida ao c e ao a. uma palavra ressabiada de ser palavra, sentida do seu significado ser tão menosprezado, desprezado, odiado. uma palavra que não quer ser palavra, não quer significar nada - só a confirmação, ah, a confirmação a faria feliz. fica. menos que um verbo, mais que um substantivo - um medo. a resposta já era certa, tão certa como o desejo dele de passar as mãos por aqueles braços, especialmente o direito, onde ela guardava uma pinta um pouco acima do ombro. obviamente foi não. ela não ia largar o marido-osfilhos-oemprego-areputação-asamizades-asfacilidadesdavidadecasada para se embrenhar em uma aventura - e por que ele não podia se comportar como um homem normal e continuar mantendo as aparências e deixar seguir aquele misto de romance/amizade que já durava quase quatro anos? não era tão bom assim, encontrar-se às quarta-feiras para um almoço, sempre em lugares novos, sair na quinta para uma trepada básica, sempre tão demorada, depois na sexta tomar um drinque com os amigos, e dali só a duas semanas se verem novamente? não era cômodo? o que você tem contra a comodidade? para mim, seria mais cômodo te ter o tempo todo, helena, aqui dentro, muito dentro, perto-dentro, sabe? possessividade demais é doença, ela riu, enquanto segurava delicadamente a enorme taça de vinho da safra de 2003, do chile, e dizia para si mesma: como é bom, como é bom. eduardo não queria começar a chorar, olhou para cima, mas a maldita voz daquela mulher infeliz lhe tocava o coração, aquela ex-escrava que cantava com tudo que tinha na alma - não conseguiu e desatou a chorar ridiculamente, como um menino que perde um brinquedo tão almejado o ano inteiro, aliás, como um menino que desejou, desejou, desejou, e quando recebeu o carrinho por controle em remoto em casa, ah!, ele vinha com defeito de fábrica. helena ficou atônita, quase engasgou com o vinho - coitada -, e segurou a mão dele, repetindo baixinho, como um sonho ruim, passou, passou, a vida é assim, ela não é romântica, aprenda a separar as duas coisas; somos adultos, não dá para largar assim a mão de uma vida estabilizada, correta, e de repente começar a remar contra a maré em direção a uma ilha que nem sabemos se existe. o garçom chegou com os dois pratos iguais, e o copo dela estava na metade, enquanto o dele permanecia cheio, cheio. ele ainda estava com os olhos molhados, e queria chorar mais, todavia temeu que a próxima ação dela fosse levantar-se e ir embora, e isso, ah, ele não iria agüentar - já tinha perdido tudo, e isso helena não sabia: tinha pedido o divórcio, arranjado apartamento, enquanto isso estava em um hotel com suas roupas e seus ternos bem passados, tinha escolhido um apartamento com vista para o mar, onde ela pudesse se sentar todos os dias pela manhã para ler o jornal, e a vida que ele tinha imaginando e já comprado com a poupança daqueles anos todos, a vida, a vida parecia tão perto, quase capaz de pegar com as mãos e beijar abraçar dormir descansado porque há esperança, há a visão do novo, porque há helena. e no entanto, helena estava muito mais preocupada em pegar o exame do marido no centro - a razão pela qual o restaurante da semana fora aquele - do que em vislumbrar o horizonte. uma raiva quente foi o gosto do vinho. teve vontade de ir embora, deixá-la sozinha com suas garras para nunca mais voltar a vê-la. mas aqueles olhos verdes, o cabelo preso de uma maneira tão verdadeira, não preso como sua mulher, ex-mulher, fazia: passar horas em frente ao espelho com o pote de creme ao lado tentando achar um jeito de amarrar os fios de maneira que o lado esquerdo do seu rosto sobressaísse, e enquanto isso o jogo do flamengo ia e vinha e acabava - não, era um preso natural, de quem apenas está com calor, não tinha nada de falso. e quando ela sorria. bah, quando ela sorria, o mundo acabava - é, eu sei o que vocês devem estar pensando, que grande babaca eu sou, usar desses clichês baratos, mas todas as cores do mundo são imediatamente transportadas para o seu rosto quando ela sorri. nada mais existe. o que você está pensando, eduardo? ela perguntou e ele percebeu que havia uma pequena mancha rosa no canto direito da sua boca, e ele sorriu, respondendo apenas que todas as cores do mundo estavam nela. era nisso que eu estava pensando.

terça-feira, 22 de julho de 2008

"nós crescemos. alguns de nós se descobriram amando outros iguais - mas determinados alguns sempre souberam. ela, por sua vez, arranjou uma amante para adentrar seu castelo virginal já não povoado assim pelo namorado-futuro-noivo. ela também é amante dele, advogado. éramos poucos, mas éramos tanto. quando ligávamos o som e deixávamos o corpo ir com a madrugada, tornar-se escuro antes de se deliciar com as estrelas e enfrentar a manhã. pedro sempre odiou a manhã. dizia que o fazia ver com total claridade seus erros. ora, nós bebíamos nossos erros, nós fumávamos nossos erros, nós fodíamos nossos erros. lembro quando ele me encontrou pela primeira vez, ele que se perdeu nos tempos, de quem só ouvi falar parcamente nos últimos anos - o cuidado com o novo, o medo de me perder, a vontade de se entregar mas com pés e braços atados por que me ensinaram que mulher não se entrega. grande farsa.

minha memória começa a me envergonhar. esqueci de pessoas, situações apenas existem porque me contaram. crescer é ganhar esse ar nostálgico - o que eu poderia ter sido e não fui? onde estava quando aquilo aconteceu? funcionou? se não, o que resta é lamentar, lamentar, lamentar. porque não sei olhar para trás, tampouco por cima do ombro, criei um olhar de tal maneria dilacerado que me é impossível regredir - devo andar para frente porque só assim sei, sempre, ainda que isso me custe um pessimismo deplorável e uma terrível falta de memória".

nab.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

just for the records

"Essa abordagem pós-moderna da condição do super-herói prossegue na própria figura do protagonista."

Isabela Boscov, sobre Hancock.

*só pra me lembrar como é a crítica cinematográfica de hoje em dia.

domingo, 13 de julho de 2008

(publicado no portal do sidney rezende)

"Olhos atentos às estranhas formas que vão criando corpo, cor e, por último, movimento. As mãos formigam querendo tocar os personagens feitos em massinha, e se tornam selvagens ao dirigir o carro em terceira dimensão - essa é a 16ª edição do Festival Internacional de Animação do Brasil, o Anima Mundi.

O primeiro dia, sexta-feira (11), não estava tão cheio quando no sábado (12) - mas foi suficiente para encher a primeira sessão da mostra competitiva de longas-metragens: Belawars, uma animação em 2D baseada no livro "Guerra Dentro da Gente", o único livro infantil do poeta Paulo Leminski.

Baita, filho de um casal de lenhadores pobre, sempre teve o desejo de tornar-se guerreiro. Ao encontrar-se em uma ponte com um misterioso mestre, Kutala, que lhe propõe aprender a arte da guerra, o menino foge de casa para enfrentar o mundo: é vendido como escravo, vai trabalhar no circo alimentando animais e comanda uma guerra, até descobrir que os valores mais importantes são o amor e a paz.

Paulo Munhoz e Érico Beduschi adaptaram a obra para a linguagem de história em quadrinhos, dando mais agilidade e dinamismo ao filme. A violência da guerra e as lições aprendidas por Baita ao longo de sua vida estão bem equilibradas - a animação não tende nem para um nem para o outro lado.

No sábado (12), o Centro Cultural do Banco do Brasil e a Casa França-Brasil estavam lotados. Ávidas crianças carregavam pais e avós para conhecer as oficinas no Estúdio Aberto, especialmente a Pixilation - técnica de stop-motion, que consiste em pessoas de carne e osso realizarem movimentos enquanto são gravadas quadro a quadro, formando uma animação. Lembram do clipe "The Hardest Button do Button", do White Stripes, em que Jack e Meg White passeiam por escadas e parques enquanto tocam? Foi todo feito por pixilation. No espaço do CCBB, máscaras, caixas, nuvens - havia um enorme acervo disponível para o público brincar e poder criar seu próprio mundo animado.

Outra oficina também disputada foi a que permitia à pessoa entrar na animação - sensores espalhados pela sala reconheciam os movimentos e transportavam para a tela, onde a criança interagia com siris, televisões, bolhas de sabão e tomates. (A brincadeira não era restrita às crianças, mas foram elas que dominaram o salão - os adultos ficaram um pouco tímidos.)

No horário da exibição da mostra competitiva de curtas-metragens, mais fila. Essa ia da entrada da Praça Animada - entre a Casa França-Brasil e o Centro Cultural dos Correios - até a entrada do CCBB: sessão lotada. Oito curtas dos mais diversos países foram exibidos: República da Coréia, França, Reino Unido, Estados Unidos, Bulgária e Brasil.

O primeiro, "Eden", de Hye Won Kim, veio com um olhar diferente para um tema já bastante mastigado: a indústria do consumo e a proteção dos animais. O curta divergiu opiniões - alguns acharam a violência de determinadas cenas explícita e desnecessária, outros a aplaudiram como animação eficaz e precisa, sem ser pedante, sobre o consumismo.

Em seguida veio um bobo filme, "O Trambolho", de André Rodrigues, sobre os infortúnios causados por um enorme celular analógico, parecido com os primeiros que chegaram ao país no início dos anos 90. Algumas risadas, nenhum aplauso. "Quidam Dégomme", de Rémy Schaepman, é uma belíssima fábula sobre como é mais seguro prender-se à realidade que deixar-se levar pelo lirismo encontrado no cotidiano. Um belo dia, ao jogar seus olhos cansados no prédio vizinho, um garoto observa uma alegre cabra estendendo seu colhão verde no terraço. Esse é o estopim para que toda sua vida se transforme, e seres mágicos adentrem o metrô, a escola, a vida. Mas ele acaba optando pela segurança da realidade em preto-e-branco.

"Yours Truly", de Osbert Parker, é um filme noir que junta carros em miniatura, figuras do cinema, diversas imagens - enfim, uma animação feita a partir de diversos recortes, e que funciona muito bem ao contar a conturbada e trágica história entre os amantes Frank e Charlie. Já "Sensorium", de Karen Aqua e Ken Field, resgata a mágica relação entre música e animação - quem nunca viu "Fantasia?" -, e foi ovacionado pela platéia. "Pojar", de Bilyana Ivanova, usa do humor para criticar uma sociedade baseada em sexo e dinheiro e também dividiu o público: enquanto alguns acharam o filme bem - humorado, irônico e contundente, outros o consideraram apelativo e sádico.

"Bernie's Doll", de Yann Jouette, foi o preferido da noite, junto com "Yours Truly". O curta conta a história de Bernie, operário sem vida, que decide comprar o "kit mulher do terceiro mundo" pela televisão - mas o programa vende apenas partes separadas do corpo, e ele precisa trabalhar cada vez mais para montar sua companheira. O final surpreendente e o refinamento da animação em 3D conquistaram os espectadores.

Por último, foi exibido o "Dossiê Rê Bordosa", de César Cabral, que tenta entender porque Angeli matou uma de suas criações mais famosas - a diva desbocada Rê Bordosa. O curta é um documentário em massinha - com cenas da vida da musa underground - e chamou atenção pelo delicado trabalho de composição: quando os créditos sobem, são comparadas as cenas reais e as de animação, e o trabalho é surpreendente. Os diretores realmente conseguiram copiar todos os trejeitos de seus entrevistados, e criam seqüências deliciosas, deixando um gostinho de "quero mais quinze minutos de Rê Bordosa".

O Anima Mundi fica até 20 de julho e está espalhado pelo Centro Cultural Banco do Brasil, Casa França-Brasil, Centro Cultural dos Correios, Cine Odeon, Estação Botafogo, e Oi Futuro. Os ingressos custam entre R$ 6 e R$ 3, têm meia-entrada, e podem ser comprados antecipadamente."

quinta-feira, 10 de julho de 2008

just quoting

"A obra que determinei escrever ainda não foi escrita, ou o foi apenas parcialmente. Só para erguer a voz, para falar à minha maneira, tive que conquistar cada polegada do terreno. A canção foi quase esquecida nessa luta. E falam em olhar cansado sob o qual as flores murcham e as estrelas empalidecem! Meu olhar tornou-se positivamente corrosivo: é até um milagre que ante meu olhar desapiedado tudo não estoure de uma vez."

H. Miller (Tempo dos Assassinos)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

não costumo e não mais falarei sobre assuntos de política social nesse espaço internético simplesmente porque não tem picas a ver. isso aqui é lugar para eu despejar minha literatura, meu desabafo e, às vezes, algumas idéias sobre cinema.

mas isso está realmente me irritando.

ora, esse menino que morreu domingo passado não foi culpa somente dos dois policiais que confundiram o carro da mãe deles com o carro dos bandidos. foi culpa de todos os cariocas, que aplaudiram o discurso do sérgio cabral em julho/07, na chacina do alemão, quando ele declarou: "é preciso quebrar uns ovos para fazer o omelete". e vocês aplaudiram. pois bem. ovos da favela pode, ovos de asfalto, não?

tava todo mundo rindo com a boca de 64 dentes no pan-americano, e a tática de enfrentamento rolando solta. não sou cientista política nem mestre em segurança pública - e muito menos quero ser -, but you all asked for it. e agora ficam fazendo passeata e pedindo a cabeça dos militares. coloquem as suas cabeças nas bandejas - e de leva o do cabral, do maia e do beltrame, faz favor - e façam um favor a si mesmos. ou a mim, se vocês preferirem assim.

desculpem o incômodo. voltaremos à programação normal.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

distraídos
venceremos
a falta de grana,
o carinho pela metade,
a arte mal feita,
o vinho estragado,
os lençóis sujos.
distraídos
sairemos da estrada
alcançaremos um telhado
-qualquer espaço de terra-
e morderemos o céu.
venceremos
o mar,
o vento,
a serra,
até mesmo as marcas que brotam
no meio da noite
nas nossas costas sujas
e doídas.
distraídos cairemos,
nossos pés irão enfiar-se uns aos outros
na lama
não mais lembraremos nossos nomes
nossas razões
-nunca houve, em verdade-
perderemos nossos olhares nesses buracos
nessas valas
de tantas ruas.
venceremos por sorte
ou por tédio
quem sabe até por algum
mérito
mas
venceremos
distraídos.

terça-feira, 1 de julho de 2008

até um determinado ponto você não acredita mais em deus nem na esquerda. depois você passa a desacreditar na salvação do rock, num bom pastel que não seja em são paulo, na criatividade retumbante que surgia na madrugada, na fumaça preta invadindo seu quarto. você não acredita mais no pleno funcionamento dos seus pulmões, do fígado, dos dedos, num futuro pro país, na nova literatura brasileira. depois de tudo você desacredita na sua faculdade, na pilha de jornais da sala, na bebida barata, no álcool que esquenta, você deixa até de acreditar na tela de cinema e a tudo assiste como quem vê pequenos fragmentos voarem em trens-bala.

mas e quando você deixa de acreditar em você? há solução?