sábado, 18 de dezembro de 2010

eu leio ana c. porque ela fala comigo: é o diabo do interlocutor; a poeta sabia para onde apontar as suas vírgulas (são poucas, é bom dizer). afogamento circunstancial em vírgulas: seria um defeito, ana? de gramática, conheces bem; aqui, nunca foi o forte. escrevo cartas imaginárias e diletantes para a autora deste rosado livro, cartas que tornam-se poemas, cartas que tornam-se rascunho, cartas que morrem por serem cartas sem destinário conhecido (ausente, pois sim). a poesia de ana c. conclama quem quer que esteja do outro lado a revoltar-se, levantar-se da cadeira e agir. porque dói. a poesia de ana c. corta. espirra sangue; e não necessariamente o dela, mas o meu, aqui, de quem está vivo e de quem lê. de quem ficou. a minha poesia tem muito de ana c., como também tem de rimbaud, de blake, de miller, de bukowski: no fundo, estamos todos sós contra nós e aqui da janela o cenário não parece muito apaziguador.