terça-feira, 30 de junho de 2009

sobre a vida

sim, mandou lembranças e disse que está bem, claro, com toda a certeza.

(á parte o fato do meu gato ter escolhido a minha "caixa do passado" para dormir e com isso ter jogado fora metade das minhas cartas antigas, com umas tristezas, umas mágoas e uns amores que nunca deveriam ter existido. e claro, aqueles papéis de cartas de início de férias de pessoas que, hoje, só revemos pelo orkut, com desejos para a vida inteira)

o porteiro do meu prédio me odeia desde que meu gato, sim, o mesmo gato, jogou uma garrafa de heneiken em sua cabeça. por conta disso, ele não me entrega as cartas no dia em que elas chegam. aliás, por conta disso, ele mal fala/olha na minha cara. limita-se a enviar os papéis para debaixo da minha porta. por sua vez, meu gato limita-se a empurrá-los para fora. outro dia achei uma conta de luz na escada.

um adendo: eu deveria procurar um emprego, já que essa história de fazer filme não tá rendendo muito, não. instead, estou fazendo pipoca para assistir à so you think you can dance.

por quê minha mãe nunca me colocou numa escola de dança? sofri todos esses anos por não pertencer a esporte algum. encontrei meu tipo de mexer de ossos. vocês já viram?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

o centro do rio, mesmo em dias fracos e neblinosos, continua lindo.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"eu te escrevi poemas de sonhos e dor; falei do seu cabelo loiro aos sábado, quando você se arruma e vai à feira, dos seus pés retorcidos e masculinos, falei até do pequeno sinal atrás da orelha esquerda que você insiste em cobrir com o cabelo.

estrofes inteira foram gastar nas suas pernas, nos domingos sem sol em que meu sofá tinha o grato prazer de receber as suas coxas quentes. (poucos, poucos). gastei papéis inteiros - ainda mai agora, com essa moda de consciência ambiental - descrevendo seus caminhos tortos, e as infitas possibilidades (não aproveitei, eu sei, eu sei).

tentei desenhar-te uma vez. mas não cabia. na tinta, na tela; reprodução nenhuma seria fidedigna.

até hoje, de madrugada, quando encontro uma bituca de cigarro sua - você ficaria orgulhosa, parei de fumar - embaixo do sofá, tenho vergonha de mim por ter recusado o abismo. o seu, você bem sabe."
vamos para são paulo. fazer o quê lá, ela me perguntou.

sei lá. passear, ver a paulista. me disseram que tem uma exposição bacana no masp. não temos dinheiro para isso, ora, ela bufou no sofá.

mas é feriado, todos os nossos amigos vão estar fora do rio; dá pra comprar a passagem com o resto do cartão de crédito e ir segurando até - não dá, porra, já não disse? esse dinheiro é pra gente comer.

porra, a gente vai passar esses quatro dias com a bunda enfiada no sofá sujo, esburacado; esburaco basta eu, lídia! e onde vamos ficar naquela cidade de cão?

na rua.

sério, pô.

existem milhares de viadutos em são paulo.

não me irrita, joão carlos.

tá vendo, você anda muito nervosa. precisa de novos ares. vamos tomar uma cerveja na augusta, ver aquele bando de gente estranha, rir deles como se não houvesse amanhã, amanhecer num bar sujo, comer um pão quente na padaria. porra, lídia, há quanto tempo a gente não come um pão quente com café no balcão da padaria? no rio não tem mais essas coisas, ela disse em voz baixa. tudo agora é loja de suco, de açaí, do caralho a quatro.

então, porra, vamo. a gente arranja dinheiro, pede emprestado, se exibe na praça são bento: "cariocaXXXX em são paulo, quem dá mais?" ela riu. já era um bom começo.




e como se o abismo não estivesse enroscando nos nossos sapatos, fizemos as malas.

terça-feira, 9 de junho de 2009

ah, a chuva que cai sobre a ferida; justamente quando eu acreditei na suavidade, a aspereza da dúvida corta meu sono.
"o tempo vem me intrigando esses dias; mais especificamente, a contagem do tempo. vejamos. no relógio do metrô, são 17h52. no meu, já são 18h. se não estou enganada, saí do trabalho exatamente às 17h45 - no relógio de lá -, para dar tempo de tirar dinheiro. a fila estava grande - uma mulher insistia em usar o caixa eletrônico para pagar um sem-fim de contas, e fui ao outro lado do campus. devo ter demotado três ou quatro minutos para chegar, mais outro minuto gasto na operação de botões, cartões & etc, e outros dois minutos até a estação de metrô. mas isso realmente não importa - o fato é que agora tenho esses oito minutos, vindo de lugar algum, e nenhuma idéia do que fazer com eles. posso admitir que não são meus - eles estão errados. ainda que... afinal, são oito minutos. fica no colo uma sensação de brinquedo dado e depois tirado - eu poderia dormir a mais amanã, ou me demorar 480 segundos a mais no primeiro cigarro. posso guardá-los para uma ocasião especial, em que o silêncio me seja caro, mas não haja especialmente o tempo. a palavra mal dita, o esquecimento raso, o segredo que não. oito minutos. não teria me deitado em lençóis sujos se já conhecesses os minutos de arrependimento.

à minha frente, um homem lamenta o emprego. grita bate sofre rasga a pele bate no peito eu deixei demais, demais, demais, isso foi longe demais demais demais. deveria dar meus preciosos para ele? sujo, feio. talvez eu chegasse mais cedo em casa.

uma vez, em dia de prova, me demorei além da conta no banho; na noite anterior havia conhecido uns ternos lábios e agora pela manhã o desvencilhamento era impossível. água bebida, água desejada. braços, pernas, bocas e sonhos. perdi a prova, a tarde e todo um mês adiante.

e se eu conseguisse esticar, aumentar: triplicar esse tempo-dádiva?

quando o metrô chegou à carioca, encostei a cabeça e sonhei; com cavalos, praias, planetas e seres distantes; sonhei que coletava conchas na areia, uma rosa, outra grande, de formas diferentes, sons e chiados; mas não levei um balde sequer e deixei todas no chão. sonhei ainda com uma parede vazia, eu tentava colar fotos, mas nenhuma cola segurava o suficiente."

domingo, 7 de junho de 2009

se algum dia você me encontrar na rua, não pense que foi por culpa minha: eu não quis.
não contratei detetive,
não enviei cartas,
não paguei a nenhum atendente de telemarketing para rastrear suas ligações;
sequer lembrei da senha do seu e-mail.

eu mudei de bairro, até.

(eu te amei mais do que você merecia. porque sim, EXISTE classificação das pessoas - algumas merecem ser amadas, outras não.)

porque eu passei muitos domingos, senhora, ao som pobre e inócuo de frejat na televisão, sem conseguir dormir; e aliás, minha senhora, eu fiquei muito tempo sem dormir.

porque a dor, a fina e crua dor, de ter se entregue para alguém que não valia a pena, ah, ela marca; fica como uma companheira de luzes, e assim que avista um navio em ânsia de atracar, se fecha: nesse porto, não.

tantas madrugadas subi a bento lisboa - já que agora é para dizer, vou falar a merda inteira -, achando que você poderia, quem sabe, ir vistar aquela sua amiga lá. e perdi muito dinheiro em bares diferentes, imaginando - quer saber, minha cara senhora? você vá para puta que te pariu.

eu só queria ter encontrado as palavras - verdadeiras - dos teus olhos.

domingo de frio

almoçando cup noodles enquanto procrastino uma matéria com deadline tomorrow.

ótimo. estou me sentindo na redação de novo.

***

quando eu era criança, minha diversão era esperar pela madrugada para ver mary poppins (repetido ad infinitum pela globo nas noites de 92 e 93). de uma hora para outra, ela parou de passar. e eu fiquei orfã. procurei em todas as locadoras de salvador (na época, só existia um, a video hobby, com DUAS filiais) e nada. não havia cópia de mary poppins. liguei para a tv bahia e implorei para eles passarem o maldito filme. a resposta? "isso quem decide é a globo, lá do rio de janeiro". não havia internet, não havia telefone da globo.

alguns podem afirmar, agora, que toda a minha decisão de vir para o rio tem um motivo: mary poppins. e certamente não estarão errados.

***

minhas paredes acordaram frias
e nuas
já sem segredo algum
o colar vermelho ficou,
largado no chão,
- você ainda o quer?
estranho
estranho desejo de ser.
sua.

sábado, 6 de junho de 2009

... ah, sim, eles são heróis, sim, silenciosamente enquanto povoam o mundo - assim espero - e invadem a noite suja, mas como você ousa dizer que... não, não há prêmios para eles, nem eles iriam querer; o problema de toda essa gente é não conseguir ver o óbvio, o óbvio ululante, eles se recusam, vão se guardar em suas preciosas camas, e de repente aparecem essas vozes, terríveis - ainda mais quando são macias - denunciando a água suja, o chão mal-lavado; e são ignorados, e sempre serão; o papel do escritor é denunciar: a falta de amor, de ódio (que falta de ódio mata, viu), de bebedeira: é denunciar essa linha estática, essa repetição de reticências que mancha tantos vestidos por aí...
tá um dia feio em laranjeiras. meu porteiro nem saiu de casa hoje - acordei com o moço dos correios batendo na porta: tum, tum, tum, correeeeeeeeeeeeeios. era uma caixa da minha mãe, com livros de roma e um cartãozinho bem safado: "espero que você tenha logo o seu roman holiday". ela não gostou de lá, disse que a cidade cheira à morte, e nessa fase de vida em que se encontra, só quer saber de vida. acho justo.

ontem à noite, tava vendo this is spinal tap! na televisão, abraçada com o gato branco, e não é que o danado inventou de me contar um segredo? assim, bem baixinho ele falou: "somos eu e você contra o mundo". depois ele fechou os olhinhos verdes e dormiu o sono dos justos.

quando chegam essas horas, sabe, quando a confiança foi comprar cigarros e demora além da conta pra chegar, o que a gente faz?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

- você lembra?
- do quê?
- de quando o tempo passava devagar?
- quando o sono era mais leve?
- é! você...
- isso tem muito tempo.
- ...
no 490 da rua das laranjeiras tem uma casa linda, linda que só ela, dessas que a gente pensa em comprar caso acerte os seis números da sena, sabe? ela tem três andares e uma garagem enorme - um dia, o dono da casa estava num programa gran torino com o filho, e eu pude ver que ali dentro mora uma moto vermelha - o que me fez gostar mais ainda da casa. o portão é alto, alto, alto, alto e há duas ramificações da escada; no centro, ladrilhado, um desenho de madonna. como laranjeiras, sexta à noite, fica absolutamente silenciosa, às vezes dá para ouvir umas conversas de família na varanda - sei que a mãe faz faxina ouvindo elza soares, e o pai adora jazz, além de querer que o filho seja um bom homem, torcedor do fluminense e coisa e tal. eles não têm cachorro: única coisa estranha.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

escrevi
pequenas possibilidades
no seu guardanapo
quando você saiu

- pensou ter visto um amigo
de longa data
mas qual!
era apenas sombra

cerrei os olhos
à espera
de um futuro azul

- brilhante, que só ele
ao longe, ainda hoje
me manda um alô
e avisa que é quente,
enquanto no rio é julho

mas você seguiu direto
esqueceu da dança
do céu de brigadeiro
e foi pular o carnaval
em outras freguesias.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

"Nem vem que não tem: a onda agora é de Wilson Simonal, redescoberto através dos olhos de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal no documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei. Seguidamente, o filme vem sendo aplaudido ao fim das sessões e confirma uma tese em voga: brasileiro adora uma história bem contada.

Depois de sete anos batalhando patrocínio – como contou Cláudio Manoel, as pessoas ou desconheciam o cantor ou não queriam pôr dinheiro em “dedo-duro” -, o documentário chega à tela grande. Para quem não sabe, uma breve explicação: lá nos já quase esquecidos anos 1970, Simonal, negro, rico e arrogante, ao ser informado por seu contador que estava gastando além da conta, achou que estava sendo roubado. Chamou alguns amigos – dois agentes do temido Departamento de Ordem Política e Social, o Dops – para dar uma surra no sujeito.

A mulher do contador, Raphael Viviani (que, pela primeira vez em mais de trinta anos, conta a sua versão do acontecido), deu queixa na delegacia. O cantor, talvez por ingenuidade, talvez por completo desconhecimento político, se gabou de ter amigos na polícia. Foi condenado cinco anos e quatro meses de prisão, tachado de informante, massacrado pela trupe do Pasquim, o jornal-símbolo da esquerda brasileira, e varrido para debaixo do tapete da música popular brasileira até voltar como trilha sonora para Cidade de Deus, de 2002 – quando Cláudio Manoel ouviu “Nem vem que não tem”, e encantou-se pela figura.

...Ninguém sabe o duro que dei é claramente dividido em três partes: a ascensão, a queda e a redenção. Não há dúvidas que a escolha por terminar o documentário com o cantor regendo 20 mil pessoas – ao invés da humilhante aparição, durante os anos 1990, em programas de auditório, pré-Márcia, a fim de inocentar-se – lava a alma de Simonal.

No entanto, por partir do princípio que o espectador jamais ouvira falar dele, usam-se alguns recursos desnecessários. Para mostrar a sua quase onipresença – filme de Domingos Oliveira, programa na Record, dueto com Sarah Vaughan – precisava realmente simular um loop psicodélico a partir do rosto do cantor? O efeito parece mais apropriado ao canal de tevê a cabo especializado em música Multishow que a um documentário. Por outro lado, a restauração das imagens de arquivo é um bálsamo para os olhos já cansados de tanta explosão em 2-D.

Ao fim da produção, que se esquiva do aspecto político da discussão para focar no resgate de Simonal à MPB, uma pergunta fica no ar: onde estava Nelson Motta, todos esses anos, que nunca lançou um livro ou emitiu parecer favorável ao cantor, mas no filme acusa a esquerda brasileira de tê-lo transformado em um 'pária, um leproso'?"

L. S.