quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

meu gato queria ser um cachorro. corre atrás de bolinha, traz nos dentes para alguém jogar, encara um banho sem maiores tropeções, chora de carência. se quisesse ser mulher, e se divertisse com batons (acreditem, minha cachorrinha falecida adorava o cheiro de um perfume específico), mas não - seu problema é antes da sexualidade, é febre de existência. meu gato não suporta ser quem ele é nessa vida; a conduta regular do gato não o apraz - por que ser independente? por que brincar com linho? contudo, meu lou está fadado à infelicidade, pois nessa vida é necessário se contentar com o que foi determinado pelos céus.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

então que eu escrevo roteiros para agências de publicidade, no esquema freelancer da coisa. e vou dizer uma coisa a vocês: SER FREELANCER É UMA MERDA. é excelente quando você é alguém, quando você dá pro dono da agência ou quando você está com a reportagem de capa nas mãos, só esperando pagamento.

em cinema, amigo, as coisas são MUITO diferentes.

para começar que um filme (estamos falando de filmes, não de comerciais) sai do papel entre quatro e seis meses. antes, o pobre do roteirista (eu) pensa, escreve, reescreve, manda para aprovação, recebe de volta, altera a ordem da história, insere falas, corta falas, põe OFF, tira OFF.

e depois, o pobre do roteirista (eu) fica todo feliz, considerando que vai receber o pagamento, afinal, o trabalho ESTÁ FEITO, corrigido, revisado. mas não: produtor quer pagar quando o filme estiver pronto, daqui a quatro ou seis meses.

enquanto isso? sento e choro.

para entornar o caldo, nego vira para o pobre roteirista (eu) e pergunta se não quer ajudar na produção; nessa coisa de conseguir imagens e autorizações, porque, bem, você sabe, o pobre roteirista tem jeito com as pessoas.

rola grana? pergunta o pobre roteirista, já meio acanhado.

NÃO. é tudo PELA ARTE.

nesse momento, o pobre roteirista (eu) saca do bolso esquerdo a peixeira de enfiar nos buchos alheios, rasga metade da agência de comunicação, é preso, julgado e condenado. PELA ARTE.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

eu ODEIO meu trabalho.

que conste nos autos.

domingo, 25 de janeiro de 2009

na vida:

eu estou cansada, muito cansada de ser negligenciada por tudo, até por mim. o universo tem por diversão máxima dar uns bons tapas na minha cara, e tem umas horas que, juro por deus, sinto que não vou conseguir levantar. mas a gente levanta, chora quietinha no banheiro, no máximo aumenta um som (há dias de silêncio também) e se prepara para mais um dia, porque a casa precisa ser levada, as rosas postas no lugar, o gato ensaboado e o ônibus passa exatamente às 13h45.

no msn:

L. diz:
cara, o universo precisa parar de ficar dando tapa na cara da gente
b.diz:
não é? tá ficando sem graça.
b. diz:
é muita falta de humanidade dessas pessoas.
L. diz:
eu sou a favor da gente arrancar uns tacos de beisebol e ir atrás dessas pessoas.
b. diz:
eu quero arranjar um lugar pra divulgar essas coisas, citando nomes.
L. diz:
se tivesse um site-Procon, a gente mandava e-mail explicando a história com nomes e links
L. diz:
NUNCA CONFIEM NESSAS PESSOAS

****

M. diz:
as pessoas são felizes, gata
M. diz:
as pessoas discutem sobre tantas coisas que não me concernem, ao menos, não agora.
Mar diz:
as pessoas querem justificativas
M. diz:
pra melancolia
M. diz:
fala sério
L. diz:
pois é! elas precisam de um fim de namoro, de um câncer ou de sei lá o quê
M. diz:
éé
L. diz:
ou quando eu tento arriscar um "é, estou meio confusa sobre alguns aspectos da minha vida'
L. diz:
vem aquelas terríveis SOLUÇÕES
L. diz:
porque obviamente, há SOLUÇÃO para tudo.
nesse ano, com apenas 26 dias, todas as minhas ações já resultaram em desastre. para não pegar muito pesado em cima do pobre coitado que mal teve tempo de mostrar as habilidades, algumas decisões foram do ano passado, esse sim, terrível.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

pensando bem, o maior saldo de ter vindo para o rio de janeiro e desses quase dois anos e três meses foi muito maior que essa mera faculdade; foram dados grandes passos nesse estranho processo de ser quem eu sou. determinadas atitudes toleráveis até dois anos e três meses atrás hoje são motivo para nunca mais cruzar com determinado ser humano. ainda bem para mim. entendi, finalmente, que não é preciso gostar de TODAS as pessoas para ser alguém; aprendi a ser sozinha. quando era adolescente, adorava a solidão; mas era por escolha. existiram noites em que chorei tal qual cabrita agarrada à parede de medo e dor (e ainda virão muitas), mas hoje o silêncio não-escolhido me é confortável. especialmente, aprendi a sobreviver ainda que o universo não queira e bata na sua cara quinze, dezessete, vinte e nove vezes, que é para você entender a mensagem direito. é preciso acordar todos os dias, especialmente para pagar contas, antes das filas dominarem tudo. não é?
sem dinheiro, trabalhando novamente em algo que detesto, casa completamente bagunçada, série de burocracias à espera de serem cumpridas - mas tudo isso desaparece quando vejo um filme.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

the wrestler, como todos os filmes do Darren Aronofsky, é breathtaking, emocionante, dilacerador e pesado. o diretor pega todas as suas emoções - felicidade, conforto, desespero, horror -, coloca-as num saco e despeja à sua frente, uma após a outra. costumo dizer que os filmes dele são maravilhosos, mas eu não quero ver novamente. quem tem estômago forte para rever réquiem for a dream duas vezes, parabéns. eu não.

quando era adolescente, queria casar com mickey rourke. ele era o cara de selvagem da motocicleta! o motoqueiro misterioso, com voz sussurrada, surdo do ouvido direito. aquele filme significou muito para mim (por motivos além do rouke, claro). e vê-lo agora, totalmente desfigurado e reposto, em um papel tão talhado para ele... claro que o aronofsky sabia quem escalar quando pensou nesse papel, quando leu esse roteiro. a trajetória de randy e rouke se entrecruzam em muitos caminhos - ídolos dos anos 80, tentam viver no passado, lutadores.

o que é aronofsky faz é nos mostrar a trajetória desse cara, "the world gives a shit to me", que só encontra paz / realização / desejo / amor nos ringues. E how to handle this quando ele descobre estar com um problema no coração, e por isso não poder mais lutar. o argumento é clichê? é. mas a forma como é feita, não.

scorsese, em ranging bull nos mostra a decadência de jack la motta com muito estilo, através de várias décadas, com uma fotografia sublime e direção de câmera idem. não é uma crítica, muito pelo contrário - touro indomável é dos meus filmes prediletos. also breathtaking. mas the wrestler vai na ferida da carne, enfia a faca no peito, me fez gritar de dor. se randy sentia, eu sentia.

o final é a síntese perfeita do trabalho desse diretor tão contundente - você deveria sofrer, mas está feliz. deveria estar feliz, mas sofre. onde engavetar essas emoções? como classificá-las? aronofsky quer exatamente essa reação: não há nada que não possa ser removido do lugar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

não vá se perder por aí, mutantes me lembra nina pela difusão, estranheza, nostalgia, cor.

reptilia, strokes me lembra guilherme pela rapidez, vivacidade, urgência, sexualidade.

let it bleed, rolling stones me lembra fabio pela amizade, ilicitude, insônia, celebração.

bubble gum years, gomez me lembra gabriela pela dualidade, intimidade, sofisticação, mágoa.

let's dance, david bowie me lembra o bê pela vivacidade, pelo sarcasmo, brilhantismo e let it go way of life

jesus, velvet underground foi a minha música de 2008; para eu aprender a ter fé até no que não acredito. apenas assim para agüentar a Realidade.
- eu te liguei, liguei várias vezes, acredita? e você, perversamente, nesse advérbio tão cheio de rancor e cinismo, se recusou a atender as chamadas. quando atendeu, aliás, o tom de voz era tão enfadonho - nossa, será realmente dada a mim a honra de ser a mais entediante pessoa do universo? - que não controlei as lágrimas, desculpe-me. todos os pedaços de sanidade, com a minha assinatura, claro, voltaram a se espalhar pelo chão, e ah, montar esse quebra-cabeça novamente vai ser tão complicado. ah, todos nós pecamos, mas amavéis daqueles que escondem sorrateiramente a sujeira; a cada dia se sofre mais um pouco, e a grande merda, a merda de verdade, é não distingüir sofrimento de liberdade.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

(Ás vezes, de noite, sinto esse medo agudo, como se se eu não for para minha casa no exato momento, todo o meu mundo entrará em colapso e será sufocado pela escuridão. Começou na noite do reveillon, que ironia; acordei na madrugada, sem ar, esmagada por algo que não conseguia ver, apenas sentir. Eu precisava de luz ou todo o oxigênio dentro dos meus pulmões iria acabar em cinco, quatro, três. Outra noite foi quando não consegui achar meus óculos; apesar disso acontecer tão freqüentemente, e de não precisar da visão apurada – estava indo dormir! - veio a mesma sensação de enclausuramento; como se as paredes, o mofo tivesse corroído as minhas paredes e me restassem poucos segundos de vida. Agarro-me à escrita como necessidade para respirar; as pessoas normais possuem nariz, boca; eu só tenho minha caneta. Se Henry Miller me indagasse a minha tão especialidade para contar a todo o mundo minhas histórias, assim responderia: escrever é a minha ponte para a realidade.)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

se você me perguntar, sincera e honestamente, por que minha vida segue por determinados caminhos, eu não sei responder. não sei dizer, por exemplo, por que vim para o rio de janeiro, e não fui para porto alegre ou são paulo. tampouco saberia argumentar caso alguém me apontasse o dedo: você é incapaz de afirmar por que deixou de ser ruiva. é verdade. o universo me joga cartas, eu as aceito sem pensar, e no balanço geral, talvez esteja mais para positivo. eu vivo sem perceber.

mas a questão, agora, é: como se livrar de uma carta torta quando não há nenhuma outra sendo jogada? sento e choro?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

eu tenho medo de sair na rua e quando voltar, você ter desaparecido; tenho medo de dormir e ao acordar não ver seus braços; tenho medo de cair e você não me segurar, e sinto que se isso acontecer, minha queda atravessará décadas, séculos, memórias e sentimentos; não fecho as pálpebras com medo de tornar-me cega ao abrir, e o cigarro está apagado por medo de incendiar a casa com esse cheiro de veneno; sou um grande medo diário tentacular.
arrancaram o que de mais precioso existia em mim; agora, só essa janela semi-enterrada, a cama desfeita, alguns parcos badulaques pendurados no teto.

prefiro morrer a não ter você comigo.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Foi Martin quem me chamou a atenção para as luzes; ainda mais quando vistas do nosso casarão. - Ás vezes penso que não sei mais escrever, Martin; como se todas as palavras tivessem desaparecido nesse sufoco mudo e seco, ou se extraviado em alguma das minhas andanças. Outras vezes penso que como não encontrei nenhuma respostas e as perguntas ainda moram nos meus ombros, as palavras desistiram de resistir e foram encontrar outro corpo, mais quente e mais corajoso.
As luzes de Buenos Aires são graciosas, dançam no ar, brincam de pequenas orgias. Da minha janela no albergue, elas parecem certeiras; do casarão onde Martin me trouxe, cheias de desespero. A cidade é desorganizada, e as pessoas vivem como se um tango ininterrupto as regesse em cada esquina – gritam, gesticulam, as mãos engolem os braços, o corpo transforma-se em massa cambaleante. Ou talvez seja a enorme quantidade de vinho argentino.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

salvador vive de axé; as pessoas realmente gostam disso, além da parte óbvia da grana. Existem os fazedores de axé, os tocadores, os cantadores, os dançarinos, os que cobram para ver toda essa parafernália e os que pagam para. Existiram duas fases do axé – e sabe-se lá quantas ainda virão por aí – e os primeiros estão velhos, com dores nas juntas e isolados em suas mansões. Vez ou outra, algum deles aparece tentando algum processo modernoso de ressuscitação.

Esse era o caso; o tal artista de axé fracasso havia fechado uma casa "da moda" da cidade, um desses lugares os endinheirados podem escutar música eletrônica e bater palmas à vontade. Estranho fato: nesse lugar, as pessoas com mais dinheiro nunca enlouquecem. As pobres e fodidas agarram-se nas paredes para não voltar à cama dura. Qualquer lugar fora de casa é mais que suficiente; e ainda assim, esses indivíduos todos estáticos, segurando os copos laranja-avermelhados – oh, tão belos! -, com tantos anéis nas mãos, saltos altíssimos e cigarros mentolados, trocam conversas tão interessantes sobre a família – como vai o senhor seu pai, e a namorada do nosso tão querido seu irmão? -, a vida pública – e a faculdade? e o seu tão senhor chefe ainda está a incomodar muito?, e quem está na coluna social da semana. Ah, não, desculpe, eles todos estão muito ocupados.

A casa de fabio

desembarquei em salvador ao som de fleetwood mac. boa coisa não poderia ser.

Estranho, muito estranho começar uma viagem a partir do fim. Do passado. Eu havia decidido passar quatro semanas no inferno onde vivi por dezoito anos, depois partir para Belém, no norte do país, seguir para o Peru, descer para o Chile, atravessar o deserto até a Argentina, seguir a Montevidéu e voltar por Porto Alegre. E eu que pensava ser evoluída.

Fabio é italiano. That pretty much tell ya what you need to know about him. O nosso programa consiste em escolher vinis aleatórios, assistir a madrugada entrar e se a vida não funciona nem para mim nem para ele, então para quê perder tempo com isso?

O único problema é essa insistente perseguição do passado, que costuma se esconder pelas cortinas e vir rastejando pelos azulejos sujos da casa em frente à praia. Sentir-se em casa e querer sair correndo, porque, afinal, já fui embora. Fabio tinha uma banda e queria ser guitarrista; mais ou menos na época em que eu seria uma grande poeta, ele seria a nova sensação das artes plásticas, ela a revolucionária dos palcos e outras tantas grandes estrelas - desapareceram tão rápido, não? Onde foram parar mesmo?

Você precisa entender como se vive aqui para gostar de viver aqui. Para quê eu vou sair de casa se eu tenho tudo aqui? A música que eu quero, na hora que eu quero, a cerveja mais gelada da bahia, a melhor companhia do mundo – os meus amigos – e essa visão incrível. Vou sair daqui pra quê? Para gastar meu dinheiro? Para ficar irritado? Bah, eu vou é beber. E fumar. Não é, não, Alice?

Assim meu amigo toca sua banda de um homem só – com a piscina espetacular, a geladeira sempre cheia, o som sempre ligado e todo o mundo a desvencilhar, apenas e tão somente na sua cabeça. Se por um lado eu preciso sair da minha tenda para descobrir o quarteirão, Fabio tem tudo ao seu redor; aliás, dentro de si.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

tão bom QUERER dormir e não conseguir. rolar na cama, ler livro, ver mais um episódio de my so-called life, acordar o gato, lavar o chão, observar o vizinho, tentar dormir mais uma vez, (não pensar besteira), ligar para o amigo, ficar uma hora no telefone, desligar - vamos tentar dormir?, ainda não conseguir, ler mais um blog, escrever mais um parágrafo, terminar o conto agora? não, estou sem paciência, lavar mais uma vez o chão, pensar que realmente eu fiz algo de muito errado na vida passada.
a casa está com pulgas; d. heliana tem a estranha idéia de que sua filha assassinou a antena da tevê; as bolas do meu gato estão ficando cinzas (!) mas o médico está pulado stee ondas em angra e só volta segunda-feira; meu reveillon foi um cu sujo e peludo; quando os fogos de artifício começaram a aparecer no céu, e as pessoas enlouquecidas se abraçavam gritando "feliz 2009", eu não consegui parar de chorar; acordei às cinco da matina com falta de ar, mas OI, estava no meio do mato?; não bebo tem três dias; e honestamente, ou eu faço uma macumba BUNITA ou 2009 vai ser a mesma merda do ano que passou.