segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

"I have a bittersweet feeling towards reality - sometimes I hate it, sometimes I love it. This raw, sometimes cruel, sometimes endless hopeful world we live in. Like that tricky question: what is worst, to recognize that Harry Potter's world is only fictional and there are no special powers and etc or that you're just some regular ordinary human being who hasn't been chosen?"
mãe, hoje eu fui à catedral de st. giles e rezei. eu não sei rezar nem pra quem. mas eu tentei.

carta aberta

"eu não confio em você por não confiar em ninguém. ele, pra quem entreguei as minhas chaves e as colheres de chá, terminei por expulsar de casa chamando-o de covarde. talhou-me puta: você nunca havia ficado grávida? não. veio, morou em mim como nenhum outro labirinto o fizera - nem mesmo os meus tigres. no agosto próximo, foi-se embora, carregando os tapetes (meus fios loiros continuam ali; veja). não, eu ainda não sobrevivi.

sequer as águas de portugal fazem sentido depois dos peixes terem acordados mortos. eu não confio em você porque desaprendi a escrever; sigo esbarrando em lápis e canetas. forasteira aqui sou eu. da própria pele."

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

uma pausa

uma das razões de gostar demais de blue valentine é que, além de ser um filme verdadeiro, coerente e estupidamente cru, ele fala tão bem desse negócio de minha geração.

me pediram para definir a minha geração em termos razoavelmente compreensíveis. ratos correndo em labirintos? gavetas que se abrem e fecham enquanto as pessoas pulam de uma para outra? completa inabilidade com o mundo real? termos compreensíveis, termos compreensíveis.

um armário caótico: estamos todos insatisfeitos. o major problem não é a estrutura familiar nem o mercado de trabalho - somos nós. sou eu. incômoda com a própria pele. how to disappear completely: everybody cares, everybody understands. é cair entre os fiapos do vestido - desaparecer nas brochuras de lã, enrolar-se todo sem alinhavar sequer um braço.

cindy diz temer transformar-se nos pais. a inabilidade de sentir qualquer coisa com o passar dos anos. cindy quer ajudar as pessoas como médica porque já desistiu de mudar o mundo. (por que você fala desse jeito? é cruel!, dean reclama). cindy tenta construir uma identidade - a vida acontece, outra surge, gavetas abrem e fecham. veja só: cindy não se reconhece.

dean tampouco. dean não queria ser um pai de família - não queria sequer ser o marido de alguém. mas foi isso o que aconteceu, não foi? e ele se adequou a essa identidade. 'mas é só isso que você quer ser?' 'o que você quer que eu seja?'

esbarrar em pontes sem carregar uma mínima rota - talvez seja isso.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

é o não pertencer. é isso. a incômoda sensação de não pertencer a uma cidade ( a qualquer espaço, na verdade; mesmo aquele comumente chamado de casa), a esse ano, a esse século - em última instância, a esse corpo. a esse nome. quem me deu essa pele, de onde veio? ela não encaixa; árida, esquenta, coça. falta algo. falta muito - falta o ar.

círculos de gravidade: hoje os tigres acordaram mais cedo. e sobem, arrancando todos os panos presos ao muro.
londres sempre vai morar em meu coração como a minha cidade favorita.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

aquele pássaro morto na areia - foi você quem o descobriu? das penas tristes, brandas, interrompidas o vôo, cansadas. de todas as pedras encobertas pelo mar, o pássaro escolhera a mais pontiaguada para dormir. com olhos arregalados de quem já distraiu a correnteza milhares de vezes, pelas estações, pelas estações. quem é tua mãe, pássaro? onde guardastes a chave de casa, pássaro?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011





my home is you
(even when sun
burns my eyes)
my home is you
(despite all dazzling waves
blueing me into
their labyrinth)
a bird, just before spring
hunting the dawn:
my home is you.

a question

A voice said, Look me in the stars
And tell me truly, men of earth,
If all the soul-and-body scars
Were not too much to pay for birth.


(robert frost)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

mais uma vez, sentar diante da praia e esperar por um navio cargueiro. ouvir dos pesos da mercadoria, do calendário das marés, da luz que se esconde e vai reaparecer no norte, daqui a alguns dias.

mais uma vez, esperar por um navio que não virá. a palavra em busca do furacão - a língua seca, à espera de uma âncora qualquer. pois não vem e nem virá, menina.

existe culpa atravessada, culpa mordida, culpa estendida no varal de trás da casa? existe remédio para o amargor da quinta-feira, às três da tarde? quantas doses são necessárias?

dois dias passados entre pedras, à espera da movimentação dos recifes portugueses. da costa, não vejo nada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

i don't want to go back ever again.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

sometimes i'm jealous of people running in the morning

(though sometimes running
i am)

what did i do today? i sat in the park and wrote all my life

- all my fears
hopes
desperate
thoughts

i'm afraid i might get nowhere
i'm afraid of the dark
i'm afraid of forgetting and being
forgetful
i'm afraid of my name
i'm afraid of my losses
i'm afraid of days, swinging by
with no sort of chance

regret
nor faith

and that's why i keep running.


domingo, 13 de fevereiro de 2011

brighton, little kids playing by the shore

do you mind? vou estender meus pés no pier até a hora de partir.

o pássaro negro do royal pavillion canta fados: e eu que me julgava loura e portuguesa!

[ lands are for those with maps]

do porto de brighton velejam navios, mulheres, novelas e canos
cidades sem nome, placas a serem inventadas, fios de devaneios.

[ me perco em todos]

and you know what?
home is a new road layout ahead

sábado, 12 de fevereiro de 2011


nascem braços onde deveriam haver placas
a saída mais próxima escapa; o vento arrasta as pernas, corre, corre longe
(corre solto)
o corpo já não aguenta - gatos, travesseiros, amarelos, que escrevem e desejam
e não conseguem dormir à noite.

malabarismo: equilibrar palavras
na ponta da língua
do outro lado do atlântico
você ouve o meu suspiro?

todo um oceano feito em deserto.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

there is a man: he's coming towards you.

he doesn't know much about rock and roll nor the smiths. he doesn't know much about pop art or that specific moment when the marine acrylic blue meets the soft white and they force each other into wildness.

but he knows how to cut oak trees.


what is ours is only ours

é muito estranho andar na Gávea e não poder dobrar uma esquina e ser surpreendido por um vestido seu esvoaçante.

é muito estranho andar pela Gávea e sentir você em outro hemisfério.

ontem roubei três tintas suas:

uma azul do teu céu; uma vermelha do teu pé de poeta e outra amarela de seu sol.

Deveriam proibir nordestinos de viajar para Londres.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

quero deixar claro que, apesar de você não acreditar em mim, eu acredito em você.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ana abriu a janela: voaram cadernos. pelo vidro (um pequeno rasgo, nada demais). no muro, escreveu umas palavras (é tão difícil ter passado, não?), comprou tinta, construiu diamantes em azul - balela, balela, baleia navega em mares já dantes explorados.

fair share of abuse: na kodak, todos os balões de aniversários parecem maiores.

uma caneta escapa, escapam os lençóis por debaixo do pano, escapam as linhas de um bloco azul recém-comprado. boa coisa o guardian noticiou hoje: fará sol na inglaterra amanhã.

ana, resiste sempre. mesmo quando não dá, mesmo quando a ponta do dedo esquenta, quando os olhos verdes já foram embora - quando emperra, quando arranha. outra forma? só nascendo outra.

alimentar tigres: descrever espaços em brancos.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

this morning

through my window
i saw your blizzard

- remember that old tune
you can't always get
what you want but if you
try sometimes you might
find?

and all those maps you got
used to create:

resting by my
seashore.

distance is a sea place to be.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

então, eu comprei esse diário. esse diário britânico de auto-ajuda: lições semanais para fazer do seu ano o melhor de toda a sua vida. em uma semana, ser um mentiroso patológico, em outra, cobrar por favores sexuais, em outra, dizer que veio do futuro. humor à la monty python.

take a moment to reflect and find strength for the year ahead. focus on how pathetic your life has been until now. how dysfunctional your family is. how miserable your friends are. how much you hate your boss.


tudo que pensei, na verdade, foram nos olhos azuis do meu avô. nas águas do meu avô cabem todas as tardes de sexta-feira; e em como ele comprava sacos de balas e guardava no antigo pote de farinha, atrás do pote de leite - ele sempre foi maníaco por doces. em uma noite de ano-novo, há anos e anos, há vida atrás, minha mãe decidiu que iria divertir-se com os amigos e deixou-me com eles. uma insone incontrolável, eu queria tocar a passagem do ano: cruzar a linha em que um 95 qualquer morria e um 96 arreganhava os dentes. meu avô levou-me para a varanda da casa, naquele tempo inundada de diferentes flores, hoje, abandonada, e combinamos o seguinte: eu seria par, ele, ímpar. a cada carro que cruzasse nossa vista, anotaríamos o último número. e o ano que estava por vir pertenceria a quem ganhasse.

não faço a menor idéia de quem levou o 96. mas lembro dos seus olhos azuis. e dos meus olhos verdes. de como eles funcionavam bem juntos.