sábado, 28 de julho de 2007

transformers

E aí, néam, minha gente, que eu fui ver Transformers. Não foi escolha minha, diga-se de passagem, mas vamos lá. É um bom filme pra quem gosta de velha combinação: querem dominar o mundo + nerd apaixona-se por gostosa + metal tocando fundo no coração. E como tem o dedo do nosso querídissimo S. S., CLAAAAAAAARO que teria ali um alien. Alguém me explica a obsessão doentia do Spilberg por criaturas do outro mundo, jésus? E só baixa o nível: começou com Truffaut sendo coadjuvante e agora desce ladeira abaixo com robôs invadindo o mundo. Pô. É demais, sacoé?



Vamo combinar que o cara tava cagando e andando picas pro roteiro. Cada diálogo consegue ser pior que o outro até culminar no ápice da sofisticação lingüística: um robô vira para o outro:



-DO YOU WANT A PIECE OF ME?

-NO, I WANT TWO!



Sem falar que o filme vai e volta de diversos cenários e tu fica sem entender porra nenhuma de que merda tá acontecendo. Tudo que tu sabe é que o nerd quer comer a gostosa, que o governo dos EUA é uma merda e que tem uns soldados malucões de alguma droga super potente que tão alucicrazy no Oriente Médio. E se vira nos 30.



Roteiro? Pra quê roteiro, minha gente, quando se têm efeitos especiais?





Montagem? Vamos lá. Cena1: close no robô alucinando na cidade, um tal de MegaTron que tá jogando tudo pro alto porque quer dominar o Universo. Cena2: O outro robô, agora o bonzinho, que quer mandar MegaTron top top top responde ao Megatron. Cena3: Megatron fica com raiva e bota tudo pra foder. Só que, maluco! Você espera que quando dá close em alguém, fulano fique olhando pra câmera, e não para a paisagem, para os carros, para a bunda da gostosa ou pra bunda do soldado alucicrazy. E o tal do TronTron tá lá, filosofando sobre dominar o universo. E isso ainda acontece mais umas cinco vezes.



Montagem? Pra quê montagem, minha gente, quando se têm efeitos especiais?



E, óbvio e boróbvio, que como tem o dedo do grande S.S., tem que ter lição de moral a cada dez segundos. E tome: respeite sua família, não brigue com o nerd, ele pode ser legal!, vá atrás dos seus sonhos (a gostosa), não ache que a gostosa não tem conteúdo - ela tem um pai bandido e foi fichada para não deixar que ele fosse preso, MÉNINA, BAFÓÓÓÓÓN. E por aí segue. E, óbvio e boróbvio, que tinha que ter piadinha a cada dez segundos. Umas até engraçadinhas, tipo o robô mau arrancar as calças do nerd (eu não entendi como o robô mau mata todo mundo pela frente e quando chega no nerd ele só arranca as calças, mas tudo bééééém) e o gordinho hacker dando crise de consciência na DP. E ri também na seqüência inicial, do robô soltando diálogos à la Rambo um para o outro. Parecia uma boate gay. E, sério, cara, esse negócio de fazer malabarismo com a câmera tá out, meu bééém! Quer inovar, faz o seguinte. Anota aí, que a dica é quente, meu bem: troca esse metalzinho de merda e bota uma Beyoncé ou uma Pussy Cat Dools. Quero ver, ia ficar L-I-N-D-O, um must, os robôs lá, se duelando arduamente, trocando frases como: ONE SHALL LIVE AND ONE SHALL DIE e Beyoncé lá, bombando Crazy in Love. Ou coisa do tipo. Isso é vanguarda, meu bém. Porque filmar de cabeça pra baixo de cu é rola.

Enfim. Eu dormi no filme. E caguei de rir nas cenas em que os robôs faziam esforço em seus olhinhos de metal para chorar. E dormi de novo.


Mas, é isso, meu bem: se você caga pra roteiro, montagem e direção de arte (o rímel da gostosa não sai e não borra de maneira alguma, mesmo a guria dirigindo trator, pulando do precipício, rolando morro abaixo e apanhado do TronTron), não se incomoda de ver marca de carro/celular sendo propagandeada descaradamente a cada dez minutos, e curte robôs de 3m de altura se duelando numa cena que dura loooooooooooooooooooooooooooongos dezessete minutos, vai fundo, cara! Porque, afinal.. Quem se importa com picas de cinema quando se têm efeitos especiais, sacoé?

sexta-feira, 27 de julho de 2007

madrugada de sexta para sábado

T. diz:
eu REALMENTE ando me sentindo um caco


L. diz:
bate aqui. vamos fazer uma dupla de música sertaneja.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

A questão não é quem traiu quem, ou quando ou como. Pode até ser no início, aliás, pode parecer que é, no início, mas na verdade tudo termina no 'quem ama mais'. "Porque eu amo mais você", ele disse entornando mais um copo de cerveja. Como se esta afirmação pudesse o insentar de tudo. De todos os problemas. Porque ele mais que ela.

E como se mede esse amor, hein? Essa coisa que não se vê, que não se toca, e que cada um sente do seu jeito. Hein, garoto? Por presentes? Náh. Existe sexo por dinheiro, mas amor por dinheiro eu ainda não vi. Só ouvi falar, algumas lendas urbanas de mulheres que se casaram com senhores distintos da ráisoçáiti e depois se apaixonaram por eles. (Mas, na verdade, a partir do momento em que elas amam, o dinheiro não conta mais. Então, não não existe).

Por palavras? Quantas vezes por dia se fala 'eu te amo'? É assim? Vamos fazer então uma olimpíada de jogos amorosos. Quem conseguir enfiar a frasezinha mágica mais vezes durante um dia normal, ganha uma medalha. "Pode me passar o feijão-eu-te-amo? Eu-te-amo, quer o arroz?"

Palavras são vazias. (Que ironia, isso vindo de uma escritora...) Você pode me dizer um milhão de vezes que me amou mais durante todo esse tempo, e eu não vou acreditar. Vou continuar achando que é um escudo seu para não se ferir mais do já que está. Tudo bem, eu entendo - cada um se preserva do jeito que quer ou que pode. Mas...

Você diz que nunca terminaria comigo porque me ama mais do que eu. Eu terminei com você para preservar isso que ainda existe aqui e aí. Para não perder o respeito, para não quebrar pratos. Eu disse que acabou para o amor que eu sinto por você não escorrer pelo ralo. Pela sua alternativa, deveríamos ficar juntos até um matar o outro com um facão de cozinha.

E agora? Você ainda diz que me ama mais?

domingo, 22 de julho de 2007

e o que a gente faz com essa angústia tão grande presa no peito, me diz?

essa vontade louca de sair, de fazer algo com a vida - mas esperando que alguém bate na minha porta e me carregue pela mão?

eu nasci para viver sozinha.

mas acho que preciso aprender a lidar com a solidão.

saborosa sensação, sem ter medo de viver.

é isso. tudo que me falta é o 'sem ter medo de viver.'

e me sobra cigarro, me sobra saudade, me sobram músicas no itunes, me sobram nostalgias do que não vivi, do que não sei e do quero descobrir.

se eu ligar para minha mãe, dizendo 'mãe, estou me sentindo tão sozinha', ela vai responder: 'mas, minha filha, a vida é sozinha. você não sabia disso?' sabia, mãe. sempre soube. mas é que dói, sabe? ser sempre tão solitária. se eu ligar para meu pai, ele vai perguntar: 'mas você não tem amigos no rio'? e como faço para ele entender que colegas, sim, tenho vários, mas amigos, esses amigos de verdade, que me conhecem desnuda são tão raros e tão poucos, e estão distantes? ele acha que amigos se fazem assim. num piscar de olhos. num estalar de dedos.

estou sempre online no msn.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

amarga e irritada

claro que eu poderia fingir que não te conheço.

claaaaaaaaaaro que eu posso sair à francesa, me esconder debaixo dos lençóis e deixar tu-di-nho para lá, meu bem, que amanhã é sábado e eu tenho vários marlboros para serem fumados.
mas sabe o que é? te excitar me diverte.

to-dos os dias. porque no fim, tu és muito babaca para vir bater na porta da minha casa e me comer. e eu me divirto te torturando.

sacoé?

***

coisas para fazer em um fim de semana extremamente tedioso no qual todas as pessoas minimamente inteligentes que eu conheço nesta cidade viajaram:

a) fazer cadastro na locadora que tem nova promoção: 4 DVD's (podendo ser lançamento) por r$12. fim de semana com bunda de pão fatia + olhos inchados e vermelhos + cinzeirinho do lado. e vamos ser felizes.

b) limpar a casa e continuar com a vida fodida de amélia.

c) reler 'eu receberi as piores notícias dos seus lindos lábios'. porque a lavínia é um dos personagens mais bem escritos ever. o problema todo do livro é naquela história paralela da mineradora. não achou que colou. no fim, parece que foi mais uma coisa para 'ok, preciso arranjar um porquê do pastor ter morrido e não ter sido a lavínia'. ih, contei o final. tô amarga esses dias. foda-se.

***

a partir de terça tem festival de fotografia no cinema no CCBB. tipo, eu fico feliz desde o momento que eu pego o 422 para ir ao CCBB. eu tenho um orgasmo toda vez que eu entro no CCBB. e eles vão começar com Acossado, para depois Tudo Sobre Minha Mãe e depois Madame Satã. seguido de debate com o Carvalho. orgasmos múltiplos por uma semana, sacoé?

***

filme da semana: en la cama. porque é bem escrito, apesar de ser mal fotografado pra caralho. claro que o escritor puxa sardinha para o lado masculino e faz a mulher parecer como uma louca neurótica que nunca teve um relacionamento estável na vida e nem nunca terá, mas isso a gente supera, porque a personagem é bem feita. e a cena dela fazendo showzinho é maravilhosa. o bruno tornou-se meu sonho pessoal. close, close, close. eu gosto de close, e o diretor usou bem. não ficou asfixiante, que nem certas porcarias que eu vejo por aí. e, ponto! as cenas de sexo ficaram bem feitas. a mulher não saiu gritando feito porca no cio e nem a câmera saiu para focalizar o abajour.

***

ah, tédio.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Parece que falta alguma coisa, eu só não sei o que é.

Não é apenas eu, todas as pessoas que eu conheço estão se sentindo assim.

Parece que nós crescemos e viramos uma república de solitários. Uma anarquia de perdidos. Em que ninguém fala nada porque realmente não há o que se falar; ninguém sabe materializar o que falta. Falta carinho? Falta compania? Não sei. Ninguém sabe.

Ela diz que falta dar um rumo na vida. (E essa vida tem rumo? Tem bússola? Vende no mercado? Te faz chorar, mas é feito pra rir? Nunca entendi o significado da música dos Los, apesar de ter tido várias teorias alcóolicas sobre).

Uma outra se sente sozinha. O tempo inteiro. E não importa quantas picas ela arrume em uma semana, não preenche. Só servem para ficar de madrugada acordada no msn, esperando um sinal que não vem; afinal, a regra é não se comprometer e fingir que nada acontece, compensar essa solidão comprando cortinas novas para o banheiro.

Ele procura saber quem é. (Quem diabos vai conseguir descobrir quem é passando todas as madrugadas no computador conversando sobre os subjetivos diálogos invisíveis de donnie darko?) Se divide entre um jornalista frustrado e um potencial barman que fez voto de juramento para não beber às segundas feiras.

Eu penso em Invasões Bárbaras. Naquele grupo de amigos que passou por tudo e hoje vê que não é nada. Mas não que esse nada não seja completo - serve para cada um deles. Para Rémy, não. Vive a lamentar o passado, os vinhos, as mulheres, a música. Os sonhos. É preciso se libertar do passado, pois este chegou ao fim, é dito em uma determinada hora à Rémy. Eu não tenho passado algum. (Quem vai ter um passado de vinhos/música/mulheres aos 19 anos? Mas eu sinto uma nostalgia de algo. Como se eu não estivesse exatamente vivendo. Como se a vida passasse por mim, e eu estivesse num constante aceno, como uma mocinha de filme francês vendo o amado partir num barco no rio Sena).

Eu só tenho dezenove anos e um caminhão de nostalgias.

terça-feira, 10 de julho de 2007

- Você sabe que eu estou interessada em você, não sabe?

- Eu?

- É, você.

- Não.

- Eu só vim, hoje, por sua causa. Se você não estvesse aqui, hoje, no meu sofá, nada disso teria valido a pena.

- Por quê?

- Por quê eu amo você.

- ...

- Você sabe que o amor não pede de volta, não é?

- Como assim?

- O fato de eu te amar não significa que você tenha que amar de volta. Eu apenas te amo. E apenas isso.

(Luísa acende o cigarro)

- Eu sei que eu não sou a pessoa mais interessante que você já conheceu; gostaria de ter sido, mas ela veio antes de mim, sei lá, não sei o que te dizer, você veio procurando uma noite de sexo, como eu te prometi, e eu estou aqui, a te dizer coisas idiotas, que fazem perder o tesão, que te fazem me achar uma idiota romântica, não sei, o que você acha? Eu so gostaria de dizer que te amo por tudo, por tudo que você é, e pode se sentir, se achar narcisista, porque é, porque eu apenas quero te amar, não quero q vc me ame porque eu sou feia, sou defeituosa, sou horrosa. Não me ame, por favor, porque senão, eu sentirei pena de você me amar só porque eu te amo.

sábado, 7 de julho de 2007

Sobre FLIP e Paraty

"Paraty continua a mesma de 25 anos atrás. Isso me faz pensar no quanto eu mudei." Assim começou Alan Pauls, escritor argentino, tido por Roberto Bolaños como o melhor escritor argentino vivo, a sua palestra que eu não assisti até o final porque tive que sair correndo para pegar meu ônibus das 16h20. Tinha certeza que essa seria uma das mesas que eu mais iria gostar. E o gostinho de quero mais, muito mais, da Flip e de Paraty ficou na boca.

Cheguei em Paraty na sexta (o trabalho me impediu de chegar antes) às 8h. Ou seja: duas horas antes da mesa sobre liberdade de expressão & biografias, formadas pelo Paulo César de Araújo (aquele do livro proibido do Roberto, se é que alguém ainda tem dúvidas), Fernando Morais e Ruy Castro. O que fazer, então? Conhecer Paraty. O sol estava começando a aparecer - ainda estava fazendo um certo frio, suficiente para colocar o casaco - e eu fui, andando pela calçada de pedra, com as casas coloridas fechadas, sem rumo algum, fotografando, fotografando, fotografando. (Aproveitei que ainda não estava repleto de gente a cair pelas pedras escorregadias). A primeira impressão é a de estar em um universo paralelo - como se a guerra do alemão e todo a novela renan calheiros & congresso nacional não chegassem lá. Depois
de muito andar, cheguei ao porto, e meia hora fiquei sentada nas pedras, completamente absorvida por aquelas águas.

Quando dei por mim, já estava quase na hora da primeira mesa e saí correndo. Passei pela tenda da Flipinha, e os balões, estrelas e bonecos que compunham a decoração prenderam minha atenção por mais alguns minutos: ah, que cenário lúdico... Saí correndo para a Tenda da
Matriz (não, queridos, não consegui NENHUM ingresso para a Tenda dos Autores, e tive que assistir a tudo pelo telão.) 10h. Primeira mesa: "A Vida Como Ela Foi" - era uma das que mais queria ver, tanto por adorar os livros do Fernando e do Ruy quanto para ver o tão comentado
Paulo César. Primeira observação: o mediador era horrível. Serviu apenas como ilustração do palco, deixando-o completamente aberto para os três escritores de ego grande, bem grande. Não li o livro do Paulo - ele leu um trecho, porém - mas, devo dizer que em nenhum momento ele
discutur liberdade de expressão literária. Falou sobre, mencionou, mas na verdade, ele estava ali para se vender: é um verdadeiro show-man. Começava todas as frases com "eu". Por mais de três vezes disse que "já fazia parte da história nacional". Chorou falando da filha, a quem
dedicou o livro. Contou algumas histórias de sua vida, e lembrou mais três vezes que levou quinze anos para escrever o bendito livro. Conseguiu diversos aplausos da platéia, e muitas gargalhadas. Um verdadeiro show-man. Morais e Castro são arrogantes e ególatras,
exatamente como eu imaginava ser. Morais foi o mais embasado ao falar de liberdade de expressão (o que deveria ser o tema da mesa, certo?): explicou ao público os artigos da Constituição pelo qual está sendo processado, as suas incongruências e divergências. Tornou muito mais claro o delicado processo de escrever uma biografia, juridicamente falando. Obviamente contou suas histórias e levou muitos aplausos do público. Idem Ruy.

Nem para a mesa das 15h, nem para a das 19h consegui ingresso. O que eu realmente queria ver, toda a minha expectativa pertencia à mesa das 17h - Guillermo Arriaga e Davis Lehane. Mas, isso eu conto daqui a pouco.

Eu tinha um grande intervalo: de 12h até às 17h. O que fazer, então? Conhecer mais Paraty! Agora, com suas lojas abertas (aceita-se Visa em todos os lugares, sem exagero) e parecendo um formigueiro. Gente de todo o tipo: mulheres, homens, cariocas, paulistas, mineiros, cearenses, espanhóis, famosos, fotógrafos profissionais e amadores, jornalistas. Uma boa notícia sobre a cidade: ela é barata. Muito barata. Para alguém que, como eu, adora artesanato kitsch, à la
Almódovar, é o paraíso. Comprei diversas peças - muito bem trabalhadas, deva-se dizer, a preços muito baratos. Venho garimpando peças de todas as cidadas pelas quais passo, e para a minha surpresa, esta foi a mais barata. Pelo caminho, passei diversas vezes por um
saxofonista - e deus, como eu adoro sax - maravilhoso. Um harpista e um violonista também estavam lá, e o mais incrível era que as músicas não discordavam entre si. Formavam um conjunto único, uma sinfonia compassada de músicas diferentes. Fiquei me perguntando se todos os dias em Paraty eram assim (obviamente que não). Um paulista dono de livraria e sua amiga escritora e psicanalista tornaram-se meus companheiros duramte aquele intervalo e ela, freqüentadora de Paraty há trinta anos me contou algo interessante: diz-se que aquele
labirinto de pedras é daquele jeito pois, nos tempos da coleta do ouro os escravos que o escondiam tinham mais tempo de se esconder dos oficiais da coleta que os procuravam. Os portugueses se perdiam no labirinto e ficavam dando voltas e mais voltas - o escravo e seu
tesouro há muito já tinham partido.

Consegui um ingresso de graça para a mesa das 15hrs, na Matriz. O tema era "Terras", com Antônio Torres e Mia Couto. Não conhecia os dois escritores e fiquei maravilhada. O debate foi ótimo e o mediador era bom. Deixou o debate fluir e a interação entre os dois escritores realmente aconteceu; ao invés de simplesmente trocarem figurinhas, eles conversaram sobre a relevância da sua terra para a obra de um escritor.

17h. Estava ansiosa esperando pela mesa "Crimes e Castigos". Atendeu todas as minhas expectativas, e que delícia, as superou. Já conhecia o trabalho dos dois, e sou fascinada pelo Arriaga. Queria muito ouvir a sua teoria sobre a escrita no cinema. O mediador foi o melhor de
todos: Marçal Aquino, escritor paulista. Inteligente, conhecedor da obra dos dois e também um escritor policial - o que se mostrou uma ótima escolha por parte da organização da FLIP. Tanto Lehane quanto Arriaga vêm de origem violenta, escrevem sobre a violência no ser humano e suas conseqüências só que de eixos diferentes: Lehane é de Boston, e Guillermo, da Cidade do México. O debate foi fantástico; eles discutiram sobre como a sua origem e as marcas que ela deixou impregnam suas obras e sobre a visão, que eles acham deturpada, da violência hoje, presente, por exemplo nos filmes de Tarantino (fala de Lehane). Arriaga fez questão de frisar que um escrito para o cinema é também literatura, e o filme não pertence ao diretor - a discussão atual sobre o papel do roteiristmais a dentro da ind. cinematográfica pertence a ele e sua briga com o diretor Irriñatu. Contou que seus roteiros sempre são biográficos: o cachorro de Amores Perros é o seu, ele sofreu uma infeccção no coração e seu médico o avisou que ele
teria apenas uma noite, e quando criança, atirou, com o irmão, em um ônibus repleto de turistas. Para Lehane, não há diferença entre a escrita do livro ou do cinema: ele apenas escreve. Se isso irá virar filme ou não, é para ser pensado depois. Enfim. O debate foi maravilhoso. Eu encontrei muitos escritores passeando por Paraty, mas não encontrei o Arriaga, e como eu gostaria de tê-lo encontrado e feito mais uma bateria de perguntas que ocupavam minha mente, enquanto
ele falava... Uma pelo menos foi feita: no fim do debate, surgiu um bilhete da platéia: "Arriaga, por favor, acabe com a minha angústia: o que a japonesa escreveu para o policial naquele bilhete"? Risos da platéia. Suspense. Ele pega o microfone e anuncia que vai revelar o que estava escrito. Prendo a respiração. Ele, rindo, solta algumas frases em japonês. A platéia vai abaixo entre risos e aplausos.

Pego meu ônibus para Trindade (não consegui uma vaga em Paraty; incompetência minha, devia ter procurado mais - Milton, o meu companheiro paulista, havia chegado quarta-feira e imediatemente conseguiu um quarto, até mais barato que o meu). A estrada é, no adjetivo mais simples que consigo encontrar agora, perigosa. Sem iluminação alguma, com espaço apenas para um carro e repleta de curvas. Morta de cansaço, tudo o que eu queria era cama e comida. Abdiquei da comida e apenas dormi, dormi, dormi. No dia seguinte, a surpresa: Trindade é bela. Muito bela. Na hora veio à cabeça: Capão, na Chapada Diamantina: uma pequena vila, de ruas estreitas e cercada por mata atlântica. Para minha surpresa maior não são apenas (oh,
apenas...) cachoeiras e florestas: HÁ PRAIA EM TRINDADE. Não satisfeita com tudo aquilo, ela ainda guarda uma praia paradisíaca. Não houve tempo para aproveitá-la a não ser pela janela do ônibus para Paraty: já estava na hora da mesa de 10hrs, uma análise da obra do
Nélson por Arnaldo Jabor, Leyla Perrone-Moysés e Nuno Ramos.

Sempre fui da opinião que Jabor nunca deveria ter migrado do cinema para o seu jornalismo de achismos e opiniões terrivelmente chatas e intelectualóides. Mas, fui de curiosidade - afinal, sempre se quer saber o que Jabor vai falar dessa vez. Ele não pôde ir, devido ao nascimento de seu neto (a escritora/psicanilista paulista me disse que na flip do ano passado ele foi vaiado e picharam frases não muito agradáveis nos muros de Paraty, e ela achava que por isso ele não foi. Discordo. Jabor tem o ego grande, grandíssimo, e gosta de ser odiado: os intelectuais não são compreendidos). No seu lugar, Nelson Motta. O mediador foi razoável. Seguiu-se o esquema de cada um dar a sua opinião e ponto final (Jabor gravou um extenso depoimento sobre sua
ligação com Nelson e suas análises da obra). Não gostei. Opinião por opinião eu leio em revistas de crítica literária; eu queria ver o debate, as diferentes visões discutidas e convergidas, ou não. cada um deu seu ponto de vista e fim. Leyla é crítica literária da USP e fez um interessante monólogo sobre a análise lingüística do discurso de Nélson tanto das crônicas, quanto dos folhetins e das peças. O Nuno é um artista plástico aparentemente incensado - o que um artista
plástico tem a dizer sobre Nélson nem ele mesmo sabe, mas tudo bem - e enrolou, enrolou para no fim dizer que discordava de Jabor. E Nelson é sempre Nelson. Sempre simpático, sempre um bom contador de história, discordando sutilmente de Jabor ao mesmo tempo em que relembrava histórias de sua adolescência e de seu convívio com Nelson. (Interessante foi, depois, passeando pela Rua da Matriz encontrar com Motta sentado em um degrau da escadaria da Igreja falando no celular sobre o debate. Não resisti, andei mais alguns metros, virei à
esquerda e abri a orelha para ouvir o que ele falava).

11h45: "Por trás do balcão": Silviano Santiago e César Aira, discutindo sobre a transição e as fronteiras entre o ensaísta e o literato. Conhecia "Em Liberdade", de Santiago, mas não conhecia Aira. Foi dele a frase mais famosa, até agora, da FLIP: ao ser perguntado se o realismo mágico está enterrado, respondeu: "Me parece que este termo foi inventado por Alejandro alguma coisa - não gravei o nome, me desculpem - que, me parece, queria rotular seus livros medíocres. Acho
que... este termo pertence... Quem melhor escreveu realismo foi Gabriel Garcia Márquez, que nos seus livros deste tema se mostrou ainda mais medíocre". Silêncio da platéia. O homem realmente acabou de dizer que Cem Anos de Solidão é medíocre? Ninguém da platéia se
manifestou. O mediador cai em riso. A frase que mais me chamou a atenção, porém, partiu da boca de Silviano ao dizer que tem dedico seu tempo mais às artes plásticas que ao estudo literário: "Eu sou um homem um pouco mais velho que o meu companheiro de mesa - tenho 70
anos. Nessa idade, o tesão que vem de outro lugar vai para os olhos." E seguiu-se assim: cada qual contando sua experiência sobre ensaísta e escritor e falando sobre a transição. Os dois concordaram que são escritores que não cabem em gêneros, e isso é uma brincadeira gostosa,
pois desse jeito, não há rótulos (observação de Silviano). O mediador foi um caso à parte: ao invés de aprofundar a observação de Aira, começou a rir; desconhecia a obra dos dois escritores - o que provocou uma leve ironia do mesmo Aira ao responder uma pergunta e um momento
constragedor com Santiago. Para os que não conhecem o escritor, estava escrito na programação da FLIP, na sua biografia, que ele era um profundo conhecedor da literatura da América Latina e já produziu diversos ensaios sobre o tema. O mediador pergunta: Silviano, aproveitando que o nosso companheiro de mesa é argentino, o que você acha da literatura da América Latina? Dispensável.

Ás 15h, veio a mesa "Perdoa-me por me Traíres", de Alan Pauls e Maria Rita Kehl, aquela do início de texto, que não consegui ver até o fim - apenas vi a apresentação de Pauls e a leitura do cap. 3 de seu livro "O Passado" (antes disso foi exibido trechos da adaptação fílmica do livro realizada por Babenco). Gostei do que ouvi e pretendo comprar o livro e ver o filme. (Uma observação: ouvi a leitura de Pauls em espanhol, pelo headset - o único que funcionou comigo; tentei usar o head set em outras mesas e estava falhando. Acho que dei azar, mas de qualquer forma, ponto negativo para a organização do evento. TODOS deveriam estar funcionando.)

Saldo da FLIP: Positivo. Talvez seja a impressão de uma virgem no Festival, mas gostei do vi, do que ouvi e aprendi muito. No fim das contas, muito mais do que esbarrar com celebridades, comprar artesanato kitsch e andar pelas ruas de pedra de Paraty, o que importa não é aprender? Pelo menos, para mim, isto é o que importava. E eu aproveitei cada momento.

terça-feira, 3 de julho de 2007

eu me sinto mais sozinha que a charlotte porque moro em uma cidade que fala a minha língua e não consigo encontrar ninguém que me entenda.


só, completamente só, and i just want to be found.


while, eu ouço nina simone e fumo. fumo. fumo.
-Cara, essa cidade é muito SURTADA. Tipo, eu saindo da rodoviária, sabe, sambódromo, rio comprido, catumbi, túnel santa bárbara, laranjeiras - é um mar de favelas, cara, ao pé do Cristo. Um mar de favelas. Você anda em cima dos trilhos do trem e embaixo tem um cara cheirando cola, e do outro um senhor jogado na rua, ligando pra nada, pra porra do ônibus que passa de ar-condicionado - e tu vai subindo, subindo, passando por aquelas lojas de tecido barato, de 'fazemos móveis em madeira' e aquela miséria, aquela desgraça, sabe? toda ali, na sua frente, e você de ar - condicionado, passando por tudo, de carro amarelinho, 126, passando pelo mar de favelas e de repente um TÚNEL, cara, uma porra de um TÚNEL aparece e te separa de tudo, da pobre, da desgraça, das favelas e você tá num bairro de idosos que andam vagarosamente em meio a casas coloridas, e pronto! Uma merda de um túnel separa toda a desgraça do mundo do bairro onde velhinhos andam às cinco da tarde, praticando sua habitual caminhada por entre as casas coloridas de laranjeiras, é isso é bizarro, cara, bizarro, isso não entra na minha cabeça, saca? Não entra como essas coisas podem conviver e quase uma anular a outra, quer dizer, elas se anulam, porque elas não existe dentre, existem entre, separadas, sabe? Sei lá, cara. Só sei que esse mundo é louco, surtado, despirocado, e cada vez mais eu entendo coisa menos.

-Mas, é assim mesmo. Você não sabia?