sexta-feira, 26 de agosto de 2011

daquelas

veja só: hoje me peguei respondendo a uma entrevista e falei do nosso filme. o nosso primeiro filme, você lembra? e me deu uma saudade das nossas esquinas. nenhuma avenida era páreo para nós: sempre arrumávamos uma esquina, um novo risco. porque hoje foi uma dia difícil, sabe, de olho inchado, vermelho, dia de telefonemas batidos, descrença, muita descrença, quase desistência até. um desses dias que nem cachorro na rua vem lamber a mão. e escrever essa entrevista foi tão legal, um STOP! nesse ardido da alma de sexta-feira. agora porra, sabe o que mais doeu? não ter você aqui para voar na chuva e rir desses mistérios tardios. a distância não é honesta. só me deu ânsia de braço, de te pegar pelo braço e sair rodopiano cidade afora, criando vícios e derretendo histórias. lembra de quando você derretia as cadeiras do colégio? é isso: hoje eu queria derreter as cadeiras da nossa sala de aula.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

me perdoa?

pois vou começar a escrever e-mails para você. e-mails díspares, tortuosos, confusos e precipitados. falando das minhas crises, das minhas angústias, das minhas gargalhadas diante da velha que cai e salteia sobre a rua, da ficção mal escrita. a minha ficção vai além - mas isso é outro assunto, outra manga. das janelas de gaudí da marcinha, das janelas de outrora, dessa garganta ardida.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

my dear,

todas as frases já foram repertoriadas, nada mais é revolucionário. original, só a cerveja, que anda bem cara, aliás. eu não acredito em revoluções e desconfio de todas as pessoas que acreditem/tenham acreditado nelas. ao fim e ao cabo, não acredito em mudanças estruturais. mas isso é outro assunto, outra manga. às vezes o cinismo toma conta mesmo. porque toma, é isso aí, não tem jeito. você me conhece, sabe que eu sou romântica e acredito no amor como única possibilidade sobre todas as coisas. a única, eu diria. acredito no amor como única possibilidade de salvação diante do enlouquecimento. viver é muito doído, para mim. para você, é passível de futilidade. caprichos. (não acredito em grandezas nem em mudanças; enfim, acho os revolucionários um tanto quanto bestas). minha única possibilidade diante desse imenso caos é a ligação com outro, como coloca o JK, a consciência do amor existente em toda a possibilidade de vida.

mudar? o que você quer mudar? o mundo? sorry, babe, don't buy that. tell me something more.
uma doçura.

vindoura - das águas, de quem rói as unhas até perder o fio da meada.
jack kerouac é meu pastor e por ele, tudo se fiará.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

o coração treme, palpita
na jugular
agora:

arranca sozinho pelo salão.

controlar os dedos
(tamborilam pensamento qualquer

memória como estrelas
rastros de azul,
(usurpados
mordidos,
rabiscados nas estantes.

segura essa lâmpada, homem!

o coração na jugular.



terça-feira, 9 de agosto de 2011

carta aberta a paula m.

paula,

outro dia, me disseram que meus textos estavam impregnados de tigres e janelas. e que pareciam enclausurados, tripés sem estrutura, bailantes mas do tipo que se tem vergonha, um pouco tortos.

bruta aventura em versos, however, é um filme de tigres e janelas.

sobre tigres:

não sei da primeira vez que li a ana. lembro do impacto, da unha zunindo no ouvido, do arranhão provocado pelas ondas do wide sargasso sea. wild child. a ana me ensinou com quantos azuis se faz som, com quantos cacos de vidros se constrói um horizonte. um poema. a idéia do filme veio como um sopro, natural e suave, em uma conversa com um amigo - que virou o produtor executivo - e me consome, todos os dias, há um ano e meio. veio também medo, enorme e ressaqueoso - quem sou eu para falar da poesia da ana?

sobre janelas:

uma coisa só eu tinha na mente: bruta aventura tem que ser delicado. é, eu sei, o trocadilho é ruim, mas é verdadeiro. nos versos da ana, eu encontro o máximo da delicadeza que tento imprimir a tudo que faço: seja poesia, seja cinema. entre todos os caminhos possíveis para este filme, este, de agora, ergueu-se ao longo dos meses, entremeado, datilografado, sussurrado. acima de tudo, ter a ana no filme era um desafio. porque ela escapa, sempre. é falar de pássaros, de janelas entreabertas, daquele rastro de quem já foi mas esqueceu o lenço.


nunca consegui trabalhar com certezas; talvez minha marca seja mesmo esse tripé errático. até hoje, ao ler a sua carta, estava sem dormir, pensando se, afinal, tudo não foi um grande erro e a visão que eu queria passar sobre a ana, sobre a literatura da ana, sobre essa poesia que me roubou e rouba ainda o ar, não estava apenas na minha cabeça.

pelo visto, não. muito obrigada. as cortinas ainda precisam ser entreabertas e os tigres, amansados, mas a certeza está um pouco mais reconfortada: sabe que é caminho.

para estar à altura do seu, aqui vai um meu possível final, que eu ainda me debruço sobre:

ana,

será que se eu - ao invés de roer unhas - contasse menos mentiras, tivesse oblíquos os olhos e despisse os verbos - se eu narrasse em fios, fios lençóis de seda - fosse competente e não covarde - será que, por dentre os carros, você esfumaçaria a noite e gritaria em mim?

ou seria, enfim estante - ainda que inteira - mas erguida sobre recordações de noites não vividas?



de novo, obrigada.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

- é estranho isso de sentir-se como quem é arrancado do chão. na verdade, minto: não é estranho, não: é exatamente isso. me arrancaram o chão e eu fiquei agarrada às paredes, sem ter onde pisar. e agora, o que se dá pra fazer com tanto lado?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

o inexorável movimento de afogar e desafogar-se; sentir entre os fios as pontas que vêm e vão, os relógios que me roubam os dias e os sapatos, todos eles contados. aplacar o choro com o casaco vermelho há muito esquecido na lavanderia e mais uma vez atravessar a rua com medo. assistir, pela segunda vez, em grande e cheia tela, à poesia que vira imagem e invade. tentar agarrar com os dedos uma sensação que me é cobrada em impostos e icms.