terça-feira, 30 de dezembro de 2008

- so, what you did?

- i took a long breath and let it go.

- did it hurt?

- of course, but it wasn't as hurtful as wound your feet with stars.

(da vontade de voltar a falar de cinema)

* gomorra é áspero. como um bom rock n' roll pode dilacerar a garganta lentamente; apenas que aqui toca um eletro italiano tosco e ruim. apesar de ser filmado em estilo documental, matteo garrone construiu ângulos BELÍSSIMOS, especialmente quando filma de cima. as tramas são bem construídas e muito bem laçadas, nem tão independentes, nem tão forçosamente interligadas. os mafiosos nunca foram tão dilaceralmente revelados à luz de 35mm.

* be kind rewind é o filme mais bonito da história do cinema se você é um cineasta. filme feito por apaixonados para apaixonados, em uma linguagem tão simples (e ao mesmo tempo, que plano-seqüência DELICIOSO!) que a platéia inteira gosta. göndry controlou jack black onde devia e deu carta branca ao mos. contudo, o mais incrível de be kind é mostrar o que é cinema, de uma das formais mais simples e belas. comecei a chorar no "monday" e só terminei no fim dos créditos. cinema paradiso perdeu aqui.

* marley & eu foi bem construído na medida em que desviou a atenção do cachorro para narrar os altos e baixos de um relacionamento. mas owen wilson não dá. e a edição poderia ser tido mais bem feita. há horas em que dá vontade de rasgar a tela, chamar o montador e dar uns belos tapas na bunda pra ver se aprende.

* eu gostei de vicky cristina barcelona. mesmo. mas acho que o allen construiu esse estereótipo da scarlett johansson e está repetindo ad infinitum. assim, eu acho que ela consegue ser melhor do que isso - americana / artista / liberal / à procura do amor. se fosse na tevê, era capaz de fazerem um seriado juan antonio & maria elena.

* ainda estou à procura do documentário que meu mestre cláudio assis fez em 2007. passou por UMA SEMANA no rio e eu apenas o descobri um dia depois do encerramento. alguém pode me ajudar?

sábado, 27 de dezembro de 2008

O mundo não melhora com você porque seu gato morreu. Ou porque seu pai está com câncer ou seu avô tem alzeheimer e pensa que você é sua mãe. Os sinais continuam fechados no exato momento de atravessar a rua e nada de mágico acontecerá para reforçar sua crença na vida - contente-se com o fato de estar vivo e apenas isso. As rosas não se tornam mais vermelhas para agradar sua falta de fé na humanidade; mas os olhos deverão ser treinados no sentido de entender que beleza é superior à morte, ao câncer, à matança do tempo.
na linguagem baiana, zig é uma expressão fundamental. 'dar o zig' significa sair discretamente, sem alarde - à francesa. geralmente se dá o zig de algum lugar ou em alguém. aliás, foi nina quem me chamou a atenção para a segunda modalidade do zig; certa tarde, quando a chamei para me acompanhar em uma cerveja, nina respondeu que estava presa em casa, mas que ia tentar dar o zig na mãe.

e então veio o clique. eu estava tentando dar o zig na MINHA vida.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

descobri uma modalidade de vida MUITO interessante: viajar com amigos de infância.


mais a seguir.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

prometi meus sonetos a você
mas que piada:
mal a mal sei conjugar
alguns verbos.

a lembrança do verde
porém
constrói esse abismo
inestimável
entre nós
e a selvagem realidade

- aquece um pouco
meu amargurado coração.



(para sempre, seus olhos.)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

razões pelas quais salvador não faz bem a uma pessoa:

- em sete dias deste clima, já fui internada no hospital com faringite;

- ir ao cinema em salvador é como feira: a fila de trás comenta a da frente, a mulher ao lado oferece pipoca para o homem ao lado, ninguém entende o filme dos coen, e no final todos vão comer pizza;

- o dito melhor hospital da bahia demora DUAS HORAS para atender a um ser humano se contorcendo de dor;

- e mais UMA HORA para dar um pouco de alívio com um soro milagroso;

- o caderno 2 do incrível jornal A TARDE se resume em: meia página de filmes velhos, duas colunas de exposições - todas, absolutamente TODAS sobre orixás -, uma coluna de teatro, sendo que TODAS as peças caem naquele sexologismo barato de rimar todos os versos com pau e buceta;

- a rodoviária não SABE ME DIZER se há ônibus direto para ouro preto ou para belo horizonte. simplesmente a atendente não sabe que cidade é OURO PRETO. 'ô, minha neguinha, espere um momento que eu vou perguntar se alguém conhece. como é o nome mesmo? ouro o quê?'

adeus.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

ah, esses pernambucanos.

não gosto de dizer 'cinema italiano' ou 'cinema brasileiro' ou 'cinema chinês'. é raso. é como colocar no mesmo saco pessoas de miradas, vidas, amores e ódios tão diversos.

mas acontece algo diferente com cláudio assis, paulo caldas, karim äinouz. ainda que eu não seja pernambucana, eles estão tratando de mim. ali, exposta, enorme. na bruteza completa do ser e ainda assim, na maior delicadeza possível. as tintas fortes, secas, quentes contrastam com o marrom pálido - quase barro - dos olhos das heroínas. são sempre mulheres, vocês sabem, não é?

na sala de 'deserto feliz', inicialmente, havia uma pessoa. ao final, também uma pessoa - apenas eu. todas as outras quatro foram embora antes do fim. lembro-me que em 'baixio das bestas' havia pouquíssimas pessoas também. que pena, que pena. parece-me que há um grande muro, cinza, feio, tapando a visão desses seres.

eu não vejo essa mesma linha de pensamento nos filmes paulistas, p. exemplo. estão todos - ok, há exceções - muito preocupados em retratar os mundinhos estranhos de seus personagens. não há nada que una essas pessoas, esse cinema, essa arte. faz sentido?
desci do avião ouvindo fletwood mac, rumo a essa viagem completamente sem roteiro. e sem objetivo, as well.

boa coisa não deve significar.

primeira parada: passado. ha-ha-ha. tão irônico iniciar uma viagem pelo túnel do tempo. mas é assim que as coisas funcionam.

em dois dias, já fui confundida com amy winehouse e leandra leal. obviamente, porque tenho QUATRO tatuagens e uso uma FAIXA no cabelo e BOTAS - estava chovendo -, sou winehouse. simples assim. tão bela a mentalidade baiana, minha gente.

oito de dezembro é dia de iansã, e a cidade fica parada. dia de oferecer caruru à orixá dos raios e trovões, dia de não aparecer na praia. foi um custo achar qualquer lugar aberto para vender um níquel de álcool. não achamos, obviamente. fomos beber no posto - que coisa ridícula.

antigos amigos, antigas histórias, piadas que só fazem sentido se você viveu aquilo. f. vai prestar concurso para a polícia militar. a história é mais ou menos a seguinte: estava na rua, foi parado numa blitz com o ipva vencido. iam tomar o carro. ligou para o tio, que é tenente-coronel de alguma coisa e ele resolveu em dois minutos.

- eu preciso de algo que resolva a minha vida, e não que atrapalhe.

ôquei.

sábado, 6 de dezembro de 2008

tô indo viajar.

para quem fica:

- little joy;
- burn after reading;
- radiohead;
- henry miller em seus corações, sempre.

abraços.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Prezada L,

A princípio pode parecer que não, mas a sua vida está desorganizada. diria mais, até: completamente disfuncionalizada. decisões que deveriam ser tomadas imediatamente são adiadas para além de 2020, e as de longa distância não são postas em prática nunca.

Aqui entre mulheres: acredito até que você tenha folheado um desses manuais de auto-ajuda na livraria sobre como ter motivação e liberdade de espírito. não procurado, veja bem. ele simplesmente pulou sobre a sua visão. mas não combinava, não é mesmo?

Pois eu ofereço a solução ideal. Infelizmente, por motivos de ordem superior a esta que vos escreve, não poderei revelar a fórmula do nosso produto. Mas chama-se Motivex, é vendido exclusivamente pela Coragem Já! Laboratórios e vem em embalagem de 60 cápsulas. O tratamento inicial é composto de seis pílulas por dia, e esse número irá aumentar cada vez mais!

Talvez, dessa forma, querida L, você não tenha dois livros de poesia, dois romances e um livro de contos enterrados no seu computador e adie, ano após ano, a publicação deles.

Um beijo,

Coragem Já! Laboratórios
ah! e ficar parada inacreditáveis vinte e cinco minutos, às onze da manhã de uma quinta-feira, porque trezentos e setenta e quatro babacas querem tirar foto DE UMA ÁRVORE NA LAGOA.

morar no rio é...

* policial militar metendo menino de rua num ônibus sabe-se lá para onde vai e nego no bar APLAUDINDO;

* - tia, me dá uma moeda?
- não tenho.
- então, vou te roubar.
- não vai, não.
- tem que roubar mermo essas mulher safada que não quer dar dinheiro;

* andar 2km para achar um banco do brasil e passar por três agências do Itaú e duas do Unibanco.
se eu fosse filmar o clip da versão do radiohead para 'wish you were here', eu colocaria o thom yorke esfaqueado por cento e cinqüenta pessoas, de todas as etnias do mundo, e antes de morrer, nos últimos 2 minutos e vinte de vida, ele resfolegaria a letra.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

socorro. há mais livro que minha casa comporta. aliás, há mais palavras escritas que minha casa comporta: são livros, revistas, trechos de contos dados na Flip, brindes de livraria, suplementos literários e -

***

próximo passo: transformar a sala em estúdio. a câmera chega em duas semanas. quem diria, quem diria. apenas a estante fica.

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radiohead.

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sinto uma brisa que me sussurra: dois mil e nove. é diferente. não previa nada para esse ano; o resultado foi um enorme nada de doze meses. vontade de assumir outro nome e sumir.

o que melhor sei fazer: sumir.

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escrever é uma praga necessária, e na minha vida, sei apenas fazer isso. desculpe, sinto nojo de sangue, não sei fazer contas, e ah, quanta preguiça para literatos / diplomatas / sociólogos. me restou o apenas. agarro-me feito tábua de salvação, vamos ver um dia.
Jornalistas são tão ignorantes que nunca admitem o erro; certa vez, um cara de país bradou algo sobre broxar com mulheres que não sabem conjugar o subjuntivo. Ora, esse cara dois dias antes não sabia se o verbo conjugava com o sujeito ou com a conjunção. Quer dizer, falta um mínimo de espiritualidade nessa gente, assim no sentido delas se considerarem um espírito menor diante da grandeza do universo.