quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

tranquei as portas quando cheguei em casa
para chover somente aqui
tão em mim

a little waltz played by the wind
surrounded the night and brought
flowers to my crystal cynicism

ontem à noite entregaram veneno na porta
- como se fosse o jornal
repleto de notícias do além-mar
do além-horizonte
dos braços entornados

(e de você).

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

segunda-feira

hoje pela manhã, no ônibus, lembrei da minha cicatriz enorme do lado direito do rosto (nasce ao lado do nariz e corteja a boca). esqueci como surgiu - se foi por maquiagem estragada (existe), briga de playground ou mais uma noite suja. mora comigo há mais de dez anos, creio. fica escondida todo o tempo, debaixo de camadas e camadas de fumaça e sonhos - mas hoje acordei tão sem paciência para pregadores no varal que saí nua. sabe, eu já tive dias melhores, manhãs de mãos dadas e caça às estrelas. mas nesse calor, aprendi a revirar os olhos cedo demais; deve ter sido esse o problema.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

diálogos III

liliane escreveu no caderno três frases que a haviam intrigado em portas de banheiro:

1. a pureza não concede tão fácil assim.

2. cada boca tem um veneno doce. por quê a sua seria diferente?

3. amar vale a pena.

tampouco sabia o que fazer com elas. mas seguiu vida.

diálogos II

- ele me disse 'quero te levar pra jantar, te conhecer, sabe?'

- quero mais que uma transa, é isso?

- disse que ia fazer um risoto funghi. com gema de ovo e o CARALHO.

- você mandou ele?

- mandei. ele pagar o jantar, minhas contas, a geladeira quebrada. falei dos livros, ele disse que iria publicar. todos. pronto. golpe fatal: falei dos desejos - ou algo do tipo.

- mantenha equilibrados os meus desejos.

- e ele foi embora, tão belo e tão mais feio do que quando chegou.

diálogos I

- sabe o que é? acabou meu saco para discutir o caos e o caô da vida, de onde vem o heidegger, porque maluco, dormir hoje em dia virou tarefa FÁCIL; meus olhos são estuprados todos os dias pela manhã para bater ponto no trabalho às nove e eu até apaguei outro dia no ônibus. buracos no asfalto: isso me irrita por esses dias. olha, uma salva de palmas ao vinho branco, este sim, cheio de pontos finais.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

a uma delicadeza

ela, para quem os pássaros e os deuses renegam passagem (espiritual ou não), para quem a fé transformou-se em curva além do horizonte, para quem a estrada, enfim, cansou-se e enterrou um semáforo, acordou feliz, pois sim. estava no rio de janeiro, e a bem da verdade, não havia gostado dessa cidade montanhosa e feia quando viera nos idos de mil novecentos e oitenta - mas agora, agora era outra situação, repleta de love love love all you need is love e amigas loiras dividindo uma cerveja no bar. minha amiga, eu entendo e compreendo: também crio situações assim, onde o silêncio faz morada e qualquer aperto de mão torna-se uma cachoeira na noite escura. mas para tudo há um limite, não vêes? também tenho medo do caos; pior ainda: o caos, a noite e a vontade de se embrenhar no caos. porque é muito sexy fazer parte do caos. mas divago.

veja bem, minha bela delicada, há que se ter alguma responsabilidade sobre o que se faz quando se acorda. virar as costas para a esquina é tirar o cu da reta - é aplainar o espelho, deliberadamente retirar o pé da lama. quem me dera não acordar na manhã seguinte, me embolar na metafísica e falar de amenidades todos os dias. quem me dera deitar no sofá e diminuir a cada tarde e quando a noite chegar ser apenas uma criança. nos estupraremos todos os dias, com a consciência. mas divago.

de cada amor, tu herdarás só o cinismo, ele disse e nós repetimos em vão. no vão da porta, baixinho, segurando as lágrimas que é para não deixar o john wayne aqui dentro escapar. precisas aprender a viver, delicada. e a deixar morrer.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

viver é um abraço, amar vale a pena, eu sou da tribo do abraço. mas ele era cheio das frases feitas, não é mesmo? frases pintadas na porta do banheiro da paulista - mas quer saber? tem olhos lindos, pratos vazios à espera de comida. muita comida.

uma unha já foi, duas três quatro [a mão inteira em outro lugar]. um olho um sorriso, controla-se alice, que esse turbilhão é onda simples, vem de vez em quando, não significa muita coisa, areia rasteira.

respiro. um pio. suspiro. foi. o que era vontade de esconder-se se travestiu em mergulho. não há jeito disso funcionar, não? [me larga, não enche, tentava responder].

me encara de frente. para ver como é bom. para mergulhar. para entender. para descobrir. para atravessar a rua, enfim.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

versão 2.0

pepe tem olhos de criança
e anda distraído pelo céu de néon
pisando em soluções distrações preocupações

cresce, não!

mas num deixa de agarrar a ponta da lua
quando sumir no rabo do cometa
preu te ver daqui de baixo