sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Eu tinha decidido não fazer críticas de cinema porque, afinal, existem outros para isso.

Mas li alguns textos horrorosos sobre o filme dos Coen, e meu sangue ferveu. Honestamente, eu detesto gente que não entende picas de cinema e se mete a falar como se entendesse.

"Onde os fracos não têm vez" é o melhor filme dos Coen. Aqueles humor negro ultrapassando o nonsense e beirando o chato em "A Roda Fortuna" encontra a dosagem perfeita aqui. Fracos tem humor, sim. No cabelo de Anton. Na mãe que proclama ter câncer, como se fosse um prêmio. Nos diálogos afiadérrimos do roteiro bem construído. No nome do assassino.

Se "Amor custa caro" eles pareciam travados dentro de uma mega-produção, aqui eles estão soltos. Afinal, Fracos é uma mega produção. Mas ela não se vende como uma. Entende a diferença? O filme é seco, direto e objetivo. São duas histórias, de dois homens, ligada por um terceiro que não crê mais em história alguma. O terceiro homem sobrevive apenas. Ele ri de tudo aquilo. Ele despreza tudo aquilo. Mas por ser um policial - e Tommy Lee Jones encara cada vez melhor personagens no limite - ele vive na tensão entre o dever amado e a desilusão com a realidade.

O roteiro? Simples e completo, como todos os roteiros devem ser. (Não me venha dizendo que os roteiros do Tarantino são confusos porque não são - são simplérrimos). Roteiros confusos são para quem não tem nada a dizer. Um homem acha uma mala cheia de dinheiro. Resolve melhorar a vida. Um assassino profissional quer essa mala. Pelo dinheiro? Não. O dinheiro é o segundo plano. Pela moral. Pelo incômodo que o primeiro causou. Exatamente assim. Entra, então, um tema que Hitchock descobriu ser o melhor para penetrar uma platéia: onde se esconder quando alguém o persegue? Será possível existir um lugar no mundo possível para fugir? Como controlar a boca das outras pessoas? Puro suspense, babe. E tão simples. Tão simples.

A montagem - também assinada por eles, só que com pseudônimo - é sensacional. A fotografia, alternando entre a sujeira e a secura. Anton está sempre entrecortado por sombras. A luz sempre dá a impressão que Tommy Lee é concurda. Meio ranzinza. Como se toda aquela prodridão dos novos tempos fosse tão pesada que danificasse sua postura. A cena do quarto - bem, não interessa saber onde ele estava, não é? Só interessa saber que ELE estava. E a sua moral não o permitiu matar o delegado. Pois ele não o incomodou. Estava simplesmente cumprindo o seu dever. Como ele.

Fracos não é um filme difícil. Tampouco é simples de digerir. Ele fala de coisas como valores, morais, princípios, oportunidades, questões que mexem com o estômago e o cérebro de qualquer pessoa. Você tem uma vida normal, lícita, lutou na guerra, tem uma mulher. Você aceita dois milhões de dólares, mesmo sabendo que não são seus? Você protegeria sua mulher, dando a sua vida, ou lutaria até o fim? Você seguiria os seus príncipios morais? Mesmo que isso significasse matar?

O final de Fracos, como alguns têm dito, não é inteiramente aberto. Para mim, ele fala tudo. "And then, I woke up."