sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Eu estava na pior. Joana, bela Joana, Joana de cachos longos, Joana de olhos amendoados, Joana de longas pernas, grossas, enfiadas num sandália vermelha de salto fino, Joana de vestidos floridos costurados pela avó, Joana professora de espanhol, cantava boleros em casa enquanto lavava a louça. Joana me abandonou. Deixou os copos sujos quando saiu. Por dois dias eu vomitei Jana. Bebi todo o estoque de álcool da casa, pedi uma garrafa emprestada ao vizinho que bate na mulher e depois saí para comprar mais uma. Não me leve a mal, eu também não concordo com violência, mas eu precisava de um favor. E, no fundo, eu acho que ela gosta. Uma vez Joana saiu de noite para ver a mãe doente, em Botafogo. Liguei a tevê no canal de tapetes e anéis, com aquelas mulheres grotescas me incitando a comprar coisas que não precisava, mas que faziam companhia. Uma voz histérica gritou 'me bate'. Outra vez e mais alto. Parecia um urubu avisando carne fresca aos colegas. Primeiro, os tapas. Depois, os murros. Não agüentei mais ouvir e aumentei a tevê. - Anéis cravejados de brilhantes, lavados a ouro branco, especiais para um presente de casamento, em doze vezes sem juros - uma ruiva me dizia. Qualquer coisa era melhor.