quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

the wrestler, como todos os filmes do Darren Aronofsky, é breathtaking, emocionante, dilacerador e pesado. o diretor pega todas as suas emoções - felicidade, conforto, desespero, horror -, coloca-as num saco e despeja à sua frente, uma após a outra. costumo dizer que os filmes dele são maravilhosos, mas eu não quero ver novamente. quem tem estômago forte para rever réquiem for a dream duas vezes, parabéns. eu não.

quando era adolescente, queria casar com mickey rourke. ele era o cara de selvagem da motocicleta! o motoqueiro misterioso, com voz sussurrada, surdo do ouvido direito. aquele filme significou muito para mim (por motivos além do rouke, claro). e vê-lo agora, totalmente desfigurado e reposto, em um papel tão talhado para ele... claro que o aronofsky sabia quem escalar quando pensou nesse papel, quando leu esse roteiro. a trajetória de randy e rouke se entrecruzam em muitos caminhos - ídolos dos anos 80, tentam viver no passado, lutadores.

o que é aronofsky faz é nos mostrar a trajetória desse cara, "the world gives a shit to me", que só encontra paz / realização / desejo / amor nos ringues. E how to handle this quando ele descobre estar com um problema no coração, e por isso não poder mais lutar. o argumento é clichê? é. mas a forma como é feita, não.

scorsese, em ranging bull nos mostra a decadência de jack la motta com muito estilo, através de várias décadas, com uma fotografia sublime e direção de câmera idem. não é uma crítica, muito pelo contrário - touro indomável é dos meus filmes prediletos. also breathtaking. mas the wrestler vai na ferida da carne, enfia a faca no peito, me fez gritar de dor. se randy sentia, eu sentia.

o final é a síntese perfeita do trabalho desse diretor tão contundente - você deveria sofrer, mas está feliz. deveria estar feliz, mas sofre. onde engavetar essas emoções? como classificá-las? aronofsky quer exatamente essa reação: não há nada que não possa ser removido do lugar.