segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A casa de fabio

desembarquei em salvador ao som de fleetwood mac. boa coisa não poderia ser.

Estranho, muito estranho começar uma viagem a partir do fim. Do passado. Eu havia decidido passar quatro semanas no inferno onde vivi por dezoito anos, depois partir para Belém, no norte do país, seguir para o Peru, descer para o Chile, atravessar o deserto até a Argentina, seguir a Montevidéu e voltar por Porto Alegre. E eu que pensava ser evoluída.

Fabio é italiano. That pretty much tell ya what you need to know about him. O nosso programa consiste em escolher vinis aleatórios, assistir a madrugada entrar e se a vida não funciona nem para mim nem para ele, então para quê perder tempo com isso?

O único problema é essa insistente perseguição do passado, que costuma se esconder pelas cortinas e vir rastejando pelos azulejos sujos da casa em frente à praia. Sentir-se em casa e querer sair correndo, porque, afinal, já fui embora. Fabio tinha uma banda e queria ser guitarrista; mais ou menos na época em que eu seria uma grande poeta, ele seria a nova sensação das artes plásticas, ela a revolucionária dos palcos e outras tantas grandes estrelas - desapareceram tão rápido, não? Onde foram parar mesmo?

Você precisa entender como se vive aqui para gostar de viver aqui. Para quê eu vou sair de casa se eu tenho tudo aqui? A música que eu quero, na hora que eu quero, a cerveja mais gelada da bahia, a melhor companhia do mundo – os meus amigos – e essa visão incrível. Vou sair daqui pra quê? Para gastar meu dinheiro? Para ficar irritado? Bah, eu vou é beber. E fumar. Não é, não, Alice?

Assim meu amigo toca sua banda de um homem só – com a piscina espetacular, a geladeira sempre cheia, o som sempre ligado e todo o mundo a desvencilhar, apenas e tão somente na sua cabeça. Se por um lado eu preciso sair da minha tenda para descobrir o quarteirão, Fabio tem tudo ao seu redor; aliás, dentro de si.