terça-feira, 8 de junho de 2010

- ah, agora eu entendi. (alice sorri). entendi o e-mail bêbado, as frases mal dispostas, a raiva calada desses dias. nada vem por acaso. essa máquina de escrever torta, ainda se equilibra em promessas de porcelana. nessa casa, (alice revira os olhos) a lição foi sempre a mesma: não acreditar em superlativos. não existe o maior, existem as circunstâncias; mas ah, alice suspira, já são quase uma da manhã e na quinta-feira há muito que ser feito, responsabilidades despejadas, encontros e desencontros, arrumações de armários e todas as mortes que uma quinta-feira impõe.

- não há mais castelos, nem mesmo os de areia, honey-pie. se procurar bem, (alice olha para a esquerda, como quem completa em silêncio 'mas não vai adiantar'), há algumas cartas espalhadas pelo chão - seria sua essa caligrafia? -, sementes de uvas, alguns lençóis em azul. não tenho nada com eles. tome, são seus se os quiser.

- (alice, em velha mania, coloca o pulso direito rente à orelha) não há entreatos: há palavras mal ditas. e não, eu não quero mais ser sua puta. taí, eu fiz tudo para você gostar, fui mulher-vulgar, meia-bruxa, meia-fera: ana cristina, conhece? tantos poemas que perdi. (alice olha para baixo e repete, silenciosamente) tantos poemas que perdi.