terça-feira, 27 de março de 2007

fim de mês

Eu odeio fim de mês. Parece que todos os deuses - gregos, romanos, católicos, da umbanda e da puta que pariu - fazem uma conspiração contra mim, justamente porque na minha conta bancária só restam quarenta reais. A descarga quebrou. De novo. Sessenta reais pro encanador - "olha, filha, tô fazendo baratinho, viu, tive que trocar toda a válvula, isso na loja sairia 170." Obrigada, moço, salvou meu dia. Não bastasse a lâmpada do quarto estar queimada, e eu apenas poder ler meus livros na sala, a lâmpada da sala também queimou. E como eu não tenho dois metros de altura, preciso de uma escada e duas lâmpadas. Antes que alguém pense no meu porteiro, ele é do meu tamanho, míseros cento e sessenta três centímetros.

Para completar a minha alegria, minha mãe chega sexta-feira. Eu amo minha genitora. Juro. Mas, eu já tenho gravado o roteiro dos próximos dez dias:


FADE IN

(Apartamente. Sala. Mãe entra com duas malas abarrotadas e a filha atrás.)

-Mas, menina, você ainda não comprou o sofá para esta casa!
-Mãe, sabe quanto eu gastei de xerox na puc só esse mês?
-Menina, a lâmpada da sala está quebrada! Por que você ainda trocou?
-Mãe, eu sou muito pequena...
-Vou tomar um banho.

Corte.

(Banheiro.)

-Minha filha, você ainda não tem cortina nesse box?!
-Mãe, eu não posso furar a parede, estou procurando uma cortina com ventosa...
-Ventosa? E isso é sério? No meu tempo cortina de box não tem ventosa, não.

FADE OUT.


Pior são as pessoas que fazem aniversário em fim de mês. Dessas, eu tenho ódio. Não têm o menor respeito pela pobreza alheia. E você vai, na maior boa vontade e morta de vergonha para o aniversário sem nada na mão - nem no bolso. Não vou ficar muito, sabe como é, cerveja tá cara, cigarro também... Vou voltar de ônibus, táxi essa semana não dá...

As reticências definem perfeitamente o meu fim de mês. Todo mês.