terça-feira, 3 de julho de 2007

-Cara, essa cidade é muito SURTADA. Tipo, eu saindo da rodoviária, sabe, sambódromo, rio comprido, catumbi, túnel santa bárbara, laranjeiras - é um mar de favelas, cara, ao pé do Cristo. Um mar de favelas. Você anda em cima dos trilhos do trem e embaixo tem um cara cheirando cola, e do outro um senhor jogado na rua, ligando pra nada, pra porra do ônibus que passa de ar-condicionado - e tu vai subindo, subindo, passando por aquelas lojas de tecido barato, de 'fazemos móveis em madeira' e aquela miséria, aquela desgraça, sabe? toda ali, na sua frente, e você de ar - condicionado, passando por tudo, de carro amarelinho, 126, passando pelo mar de favelas e de repente um TÚNEL, cara, uma porra de um TÚNEL aparece e te separa de tudo, da pobre, da desgraça, das favelas e você tá num bairro de idosos que andam vagarosamente em meio a casas coloridas, e pronto! Uma merda de um túnel separa toda a desgraça do mundo do bairro onde velhinhos andam às cinco da tarde, praticando sua habitual caminhada por entre as casas coloridas de laranjeiras, é isso é bizarro, cara, bizarro, isso não entra na minha cabeça, saca? Não entra como essas coisas podem conviver e quase uma anular a outra, quer dizer, elas se anulam, porque elas não existe dentre, existem entre, separadas, sabe? Sei lá, cara. Só sei que esse mundo é louco, surtado, despirocado, e cada vez mais eu entendo coisa menos.

-Mas, é assim mesmo. Você não sabia?