sábado, 15 de maio de 2010

os meninos de salvador escondiam os olhos e iam para o mar com desejo. cantavam canções de felicidade e todos, sempre, diziam que iriam desaparecer no próximo trem das onze. os meninos de salvador brincavam na água suja e diziam em casa que nunca a beberam, enquanto crianças corriam soltas pelas avenida antônio carlos magalhães. os meninos de salvador já foram assaltados e, certa vez desfiguraram uma árvore escondida nos fundos de um prédio: os meninos de salvador não conheciam os sinais de trânsito. corriam com os pés, e dias depois, com carros emprestados e barulhentos - os meninos de salvador fugiam, decerto. as ruas íngremes, curvilíneas e barrentas da pituba eram quintais para os meninos de salvador afogarem a bebedeira nos intervalos. os meninos de salvador não tinham donos nem contas a pagar: tinham braços, pernas, orelhas e fios podres. os meninos de salvador nunca pularam das janelas altas, mas já assobiaram longe e acertaram o esgoto algumas vezes. eles eram todos em vermelho e verde, com cigarros saindo de suas bocas, junto a promessas de baixa literatura, sucesso repentino e sexo fácil. o que descobri com os meninos de salvador: nunca é tarde, nunca é tarde, o dia dura o tempo que os óculos escuros permitirem.