segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

É complicado falar sobre cinema. Existem filmes bons que não tocam a gente, filmes ruins que tocam a gente, filmes despercebidos que mudam nossa vida, e, de vez em quando, filmes sensacionais que nos tornam diferente em alguma coisa. Milk é um caso complicado - é uma cine-biografia, e como todo filme do gênero tem lá seus defeitos. A narração em off, a visão única e parcial da história, o julgamento de determinados personagens, a busca pela semelhança física mais que pela capacidade de atuar. Mas é um filme que emociona.

Para quem não sabe, Harvey Milk foi um político de San Francisco, California, que nos anos 1970 lutou pelos direitos gays. Era uma época de witch hunt - os Estados Unidos estavam enfrentando o pacote bombástico revolução hippie + revolução feminina + revolução negra, e dentre as várias respostas que o conservadorismo tentou dar à liberdade, a perserguição aos gays foi bastante enfática. O filme é centrado no período em que Milk sai de NY, onde era um vendedor de seguros medroso, apático e preso no armário, e vai a San Francisco, onde se torna o grande ativista.

Sean Penn está muito bem no filme - mas ainda considero a melhor interpretação dele em Sobre meninos e lobos, na pele daquele ex-mafioso confrontado com o passado. Mas enfim. O único que destoou foi Josh Brolin, como o maníaco que mata o prefeito e Milk. (Não, eu não contei o final - nos primeiros cinco segundos isso é revelado). Dan White era um conservador, filho de imigrantes irlandeses, católico e defensor da família e acumulou diversas derrotas políticas de um cara que comemora o aniversário com drag queens. Isso NÃO é tolerado. Isso NÃO é aceito. O que a direção de Gus Van Sant (e o roteiro de Dustin Lance Black) faz é apresentar um cara disposto a cooperar e de repente, da noite para o dia, surta e invade a Prefeitura com uma arma. Nenhuma reação extremista é tomada da noite para o dia, hello. Elas vêem de algo maior mas que por muito tempo foi escondido.

Uma das atitudes mais certas de Milk foi torná-lo bem humorado. Fazer uma cine-biografia trágica seria absolutamente fácil - a luta de um homem pelo direito de exercer sua opção sexual e o modo violento como foi morto. Prato cheio para um dramalhão. Mas Van Sant e Lance Black, que construiu diálogos incríveis, tornaram a história alegre, feliz - esperançosa. A chave mestra de Milk reside nisso: a esperança. É um filme que desperta o melhor (ou eu assim espero) em que o está assistindo.

Resumindo? Milk fala sobre sonhos. E eu sou sempre a favor de sonhos.