terça-feira, 29 de abril de 2008

quando desço do ônibus, o relógio marca dez horas de noite. em ponto. abro a porta, o gato preto me recepciona. estranhamente, há comida no prato. por ter demorado tanto a chegar, pensei que já estaria comendo reboco de parede. um banho. antes de tudo, um banho. uma chuveirada rápída, que é para não demorar muito. largo a calça e a blusa em cima da poltrona, e a calcinha preta voa longe. sentindo-me culpada pelo atraso, boto mais comida pro gato; merda, derrubei tudo. amaldiçôo trezentas vezes essa maldita culpa cristã - culpa de tudo, de existir, de nascer pecadora. não quero ler a folha e com o rabo de olho o hamlet em cima do sofá espreita - ei, esqueceu de mim? tiro uma pizza da geladeira, de ontem, a pior de todas, a sem tesão algum de ser pizza, já virou uma massa, quase papa de presidiário. junto forças para não desabar na cama. despejo o quadril na cadeira e sonho com a terça-feira em que meu dia acabará às oito da noite.

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péssima escolha, menina, péssima, essa de não perdoar.