domingo, 27 de abril de 2008

tenho dois gatos. o branco, Lou, e o preto, Nikolai. Lou é imponente e anda sobre o assoalho de madeira como se este fosse um tapete vermelho, com fãs e jornalistas ávidos o esperando, e ele a ignorá-los solenemente. Nikolai é quase humano - carente e inseguro, desconta o ciúme que tem do irmão mais velho e mais refinado na comida; de dois em dois dias um saco novo de ração. quando abro um livro na cama, o preto me faz companhia e esparralha-se na janela, perdido entre as cores (o vermelho e verde do restaurante, o azul e amarelo dos ônibus, o laranja das latas de lixo) e o barulho de laranjeiras. o branco, por sua vez, não gosta de parecer necessitado de amor: quando quero dar carinho, ele reclama, emburrado; uns vinte minutos depois, se aninha dentro das minhas pernas cruzadas para dormir enquanto escrevo. como dois irmãos, eles brigam sempre que se consideram desprezados; derrubam caixas, lençóis, livros e um dia o Nikolai até quebrou o telefone. eu tenho duas opções: assistir ao caos passivamente - que dura entre treze e dezessete minutos -, o que eventualmente, os cansará ou tentar apartar a briga para largar tudo e ficar horas coçando a barriga dos dois. quase sempre eles me ganham.