Jean-Luc Godard, cineasta, disse certa vez que, independentemente da qualidade, todo filme tem o mérito de nos transportar para determinada época. Essa é uma das características mais atraentes de Definitely, Maybe. Os anos 90 - ainda mais, os anos 90 em Nova York - estão representados em todo o seu yuppisimo, surgimento da internet e febre democrata.
Mas, além disso, o roteiro é uma reinvenção das comédias românticas, esse gênero tão ascoroso e que desde a última safra da Meg Ryan perdeu público e tornou-se paródia de si. O herói conhece a mocinha, por circunstâncias adversas (família, trabalho, amigos, ex-namorado) eles não ficam juntos, tropeçam algumas vezes, se esbarram mais outras, e terminam happily ever after. A massa cerebral dos roteiristas é gasta em inventar diferentes situações para o belíssimo casal ficar junto para sempre. (Trama essa responsável pela desilusão amorosa de 99% da população - escolada na lição de 'amor eterno e único' de Hollywood).
Definitely, Maybe é a história de como o nosso herói ficou sozinho. A seqüência inicial nos revela um pedido de divórcio, onde falta a assinatura de William Hayes - publicitário frustrado e já com algumas entradas como moldura. Conhecemos sua filha, Maya, que após uma péssima primeira aula de educação sexual, quer, enfim, entender como foi fabricada. Com medo de magoar a menina - afinal, destruir contos-de-fadas não é uma tarefa interessante -, e sendo pressionado por um lindo rostinho, Will decide contar suas desilusões amorosas com as mulheres que teve - trocando os nomes, alterando alguns fatos, e que Maya se vire para descobrir quem é sua mãe.
A delicadeza da história está na aproximação que Adam Brooks, diretor e roteirista, fez com o espectador: são pessoas reais que estão ali, largando sua vida interiorana para lutar por um ideal em Nova York, descobrindo como se virar, conhecendo pessoas no trabalho - finalmente, em uma comédia romântica, as pessoas trabalham! Já vi filmes em que o ato de se levantar e ir ganhar dinheiro é visto como uma afronta ao amor. É um fato: pessoas conhecem seus pares no escritório, e não em esbarros na rua, quando sininhos tocam e a neve começa a cair em flocos mínimos e calmos sobre o gorro da menina.
As pessoas erram o tempo todo. Falam sem pensar, tocam em assuntos proibidos, traem o namorado - e nem por isso elas devem ser excluídas do filme. O diretor devolve à comédia romântica inseguros, gagos, infiéis, perdidos, travados - personagens que precisam de umas boas sessões de terapia. Mas Brooks não ri na cara deles.
Há erros, sim, e eles se concentram nos vinte minutos finais. A sensação é que o desespero subiu à cabeça quando diretor/editor perceberam o relógio em 1h40, e decidiram apressar tudo para cair no desfecho simples e vazio do gênero. Mas há méritos, e muitos. Um alívio.