Eu te amo.
Mas eu só conseguia gritar.
***
Ana Carla estava deitada em uma cama estranha, sozinha.
Mantinha as mãos cruzadas sobre o peito, como cadáver. Cadáver viva.
Mesmo no escuro, reconhecia cada canto daquele quarto; ao seu lado esquerdo, uma mesa com um livro. E um abajour quebrado. Do seu lado direito, o ar-condicionado. Não estava no meio da cama - tinha mania de ficar no lado esquerdo, em posição fetal.
Ia embora ou chorava? Agarrou as pernas tão fortemente - quebrá-las. Mais uma vez enganada. Desprezada. Largada sozinha. Em mais uma cama estranha. Queria arrancar as unhas pintadas de vermelho.
Dormir. Era só o que precisava.
Ana Carla sonhava com a sua cama e o dia em que dormiria sozinha porque quis, e não porque foi abandonada.