domingo, 11 de novembro de 2007

Com sua língua enfiada em mim, ele disse:

Eu te amo.

Mas eu só conseguia gritar.

***

Ana Carla estava deitada em uma cama estranha, sozinha.

Mantinha as mãos cruzadas sobre o peito, como cadáver. Cadáver viva.

Mesmo no escuro, reconhecia cada canto daquele quarto; ao seu lado esquerdo, uma mesa com um livro. E um abajour quebrado. Do seu lado direito, o ar-condicionado. Não estava no meio da cama - tinha mania de ficar no lado esquerdo, em posição fetal.

Ia embora ou chorava? Agarrou as pernas tão fortemente - quebrá-las. Mais uma vez enganada. Desprezada. Largada sozinha. Em mais uma cama estranha. Queria arrancar as unhas pintadas de vermelho.

Dormir. Era só o que precisava.

Ana Carla sonhava com a sua cama e o dia em que dormiria sozinha porque quis, e não porque foi abandonada.