domingo, 6 de maio de 2007

Cinema, Chanchadas e Distribuidoras

“O público não tem ojeriza ao cinema”, afirma André Mielnik, 22, estudante do nono semestre da PUC-Rio e diretor de cinema (já dirigiu um curta metragem e está envolvido na produção de dois outros filmes). E continua: “Porque não é possível chegar ao público brasileiro diante do mercado que a gente tem, diante das formas que a gente tem de produzir e de exibir”.
O cinema brasileiro cresce a olhos vistos desde a retomada. Em 2002 conseguiu a fascinante marca de 1 milhão de espectadores para Cidade de Deus e em 2004, 2 milhões e meio para 2 Filhos de Francisco. Ainda assim, há um preconceito muito grande por parte do público brasileiro em relação ao próprio cinema. Isto foi comentado pelo ator Caio Blat e o diretor Jorge Duran na exibição do filme “Proibido Proibir”, na PUC-Rio[1]. Como atingir este público e aumentar as marcas de bilheteria ainda são incógnitas para todo estudante de cinema.
Para André, o problema reside tanto na temática dos filmes quanto na política de distribuição e exibição – os filmes brasileiros têm distribuidoras internacionais que privilegiam suas próprias produções. Porém, tais produções não interessam ao público de baixa renda porque não refletem quem eles são. “Eles não se vêem como soldados da II Guerra Mundial, ou patricinhas de Beverly Hills - eles não se vêem num romance de Nova York”. Produções recentes, como O Céu de Suely também não refletem os pensamentos desta população porque traz certos questionamentos que não cabem a estas pessoas; por outro lado, reflete, a chanchada trazia críticas sociais fortes em uma linguagem que dialoga com estas pessoas. E ainda há o problema do preço e da localização das salas: não há espaços para a exibição de filmes no subúrbio e o ingresso cobrado é muito alto para um trabalhador que ganha um salário mínimo.
O estudante não acredita em uma possível industrialização do cinema pela Globo Filmes e afirma que se houver alguma industrialização, esta será bem-vinda, pois o cinema é um mercado e deve agir como tal. Ser mercado, para ele, é poder fazer todos os tipos de filmes e existir público para todos esses tipos. Ele não acredita numa padronização do cinema brasileiro – apesar de algumas críticas a filmes como Se Eu Fosse Você, Muito Gelo e Dois Dedos d’Água, Fica Comigo Esta Noite e Zuzu Angel[2] terem noticiado isto – mas numa padronização do cinema americano que cria um certo medo na classe que quer trabalhar com a sétima arte no Brasil.
Por fim, O Céu de Suely, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, Cinema, Aspirinas e Urubus, Entreatos, O Fim e o Princípio e Cidade Baixa são filmes nacionais recentes que chamaram a atenção dele pela convergência de tema e de linguagem: são filmes que dialogam com um Brasil já conhecido e um Brasil por conhecer. Afinal, segundo Mielnik: “O cinema é uma linguagem universal, é um contato que você consegue fazer com uma cultura do outro lado do mundo, que te leva para uma camada do que é o ser humano do outro lado do mundo”.


[1] Exibição do filme Proibido Proibir no auditório do RDC na PUC-Rio, no dia 19/04/2007, seguido de debate com o ator Caio Blat e o diretor do filme Jorge Duran.
[2] Urariano Mota: Zuzu Angel, segundo a crítica. http://www.lainsignia.org/2006/agosto/cul_012.htm
Ana Paula Conde: À sombra da televisão. http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2498,1.shl