segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

eu tenho uma cartomante. tinha, na verdade. ficava ali, numa rua em botafogo, de costas para o túnel, de frente para o mar sagrado dos prenúncios da ilusão. a lista de espera é longuíssima - antecedência de, pelo menos, três meses. há muitos cariocas necessitados de certeza na vila de são sebastião do rio de janeiro.

a consulta seria hoje, às nove da manhã. confirmada, aguardada, ansiosamente esperada. o caderninho repleto de perguntas. da última vez que eu fora, a cartomante me passara uma lista de tarefas (não basta saber do futuro, há ainda que se trabalhar arduamente no presente) e, como boa menina criada em colégio católico, iria apresentar a notinha fiscal com quatro das cinco penitências cumpridas.

mas daí que surge são paulo & o amor. e tudo desaba diante daqueles olhos desafiadores do asfalto. além do mais, para que serve uma cassandra furiosa quando se pula de mala & cuia no vendaval dos braços de um homem?

enraivecida, a cartomante ainda é moderna: manda uma mensagem de celular avisando que jamais, sob hipótese alguma, poderei retornar a ela. não se despreza assim uma clarividente, sem sequer avisar da mudança de planos. (ora, se ela tudo vê, não teria também previsto a ausência?)

com um sorriso nos lábios, comecei a segunda-feira: muito melhor que o futuro é descer a rua augusta.