terça-feira, 9 de junho de 2009

"o tempo vem me intrigando esses dias; mais especificamente, a contagem do tempo. vejamos. no relógio do metrô, são 17h52. no meu, já são 18h. se não estou enganada, saí do trabalho exatamente às 17h45 - no relógio de lá -, para dar tempo de tirar dinheiro. a fila estava grande - uma mulher insistia em usar o caixa eletrônico para pagar um sem-fim de contas, e fui ao outro lado do campus. devo ter demotado três ou quatro minutos para chegar, mais outro minuto gasto na operação de botões, cartões & etc, e outros dois minutos até a estação de metrô. mas isso realmente não importa - o fato é que agora tenho esses oito minutos, vindo de lugar algum, e nenhuma idéia do que fazer com eles. posso admitir que não são meus - eles estão errados. ainda que... afinal, são oito minutos. fica no colo uma sensação de brinquedo dado e depois tirado - eu poderia dormir a mais amanã, ou me demorar 480 segundos a mais no primeiro cigarro. posso guardá-los para uma ocasião especial, em que o silêncio me seja caro, mas não haja especialmente o tempo. a palavra mal dita, o esquecimento raso, o segredo que não. oito minutos. não teria me deitado em lençóis sujos se já conhecesses os minutos de arrependimento.

à minha frente, um homem lamenta o emprego. grita bate sofre rasga a pele bate no peito eu deixei demais, demais, demais, isso foi longe demais demais demais. deveria dar meus preciosos para ele? sujo, feio. talvez eu chegasse mais cedo em casa.

uma vez, em dia de prova, me demorei além da conta no banho; na noite anterior havia conhecido uns ternos lábios e agora pela manhã o desvencilhamento era impossível. água bebida, água desejada. braços, pernas, bocas e sonhos. perdi a prova, a tarde e todo um mês adiante.

e se eu conseguisse esticar, aumentar: triplicar esse tempo-dádiva?

quando o metrô chegou à carioca, encostei a cabeça e sonhei; com cavalos, praias, planetas e seres distantes; sonhei que coletava conchas na areia, uma rosa, outra grande, de formas diferentes, sons e chiados; mas não levei um balde sequer e deixei todas no chão. sonhei ainda com uma parede vazia, eu tentava colar fotos, mas nenhuma cola segurava o suficiente."