segunda-feira, 1 de junho de 2009

"Nem vem que não tem: a onda agora é de Wilson Simonal, redescoberto através dos olhos de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal no documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei. Seguidamente, o filme vem sendo aplaudido ao fim das sessões e confirma uma tese em voga: brasileiro adora uma história bem contada.

Depois de sete anos batalhando patrocínio – como contou Cláudio Manoel, as pessoas ou desconheciam o cantor ou não queriam pôr dinheiro em “dedo-duro” -, o documentário chega à tela grande. Para quem não sabe, uma breve explicação: lá nos já quase esquecidos anos 1970, Simonal, negro, rico e arrogante, ao ser informado por seu contador que estava gastando além da conta, achou que estava sendo roubado. Chamou alguns amigos – dois agentes do temido Departamento de Ordem Política e Social, o Dops – para dar uma surra no sujeito.

A mulher do contador, Raphael Viviani (que, pela primeira vez em mais de trinta anos, conta a sua versão do acontecido), deu queixa na delegacia. O cantor, talvez por ingenuidade, talvez por completo desconhecimento político, se gabou de ter amigos na polícia. Foi condenado cinco anos e quatro meses de prisão, tachado de informante, massacrado pela trupe do Pasquim, o jornal-símbolo da esquerda brasileira, e varrido para debaixo do tapete da música popular brasileira até voltar como trilha sonora para Cidade de Deus, de 2002 – quando Cláudio Manoel ouviu “Nem vem que não tem”, e encantou-se pela figura.

...Ninguém sabe o duro que dei é claramente dividido em três partes: a ascensão, a queda e a redenção. Não há dúvidas que a escolha por terminar o documentário com o cantor regendo 20 mil pessoas – ao invés da humilhante aparição, durante os anos 1990, em programas de auditório, pré-Márcia, a fim de inocentar-se – lava a alma de Simonal.

No entanto, por partir do princípio que o espectador jamais ouvira falar dele, usam-se alguns recursos desnecessários. Para mostrar a sua quase onipresença – filme de Domingos Oliveira, programa na Record, dueto com Sarah Vaughan – precisava realmente simular um loop psicodélico a partir do rosto do cantor? O efeito parece mais apropriado ao canal de tevê a cabo especializado em música Multishow que a um documentário. Por outro lado, a restauração das imagens de arquivo é um bálsamo para os olhos já cansados de tanta explosão em 2-D.

Ao fim da produção, que se esquiva do aspecto político da discussão para focar no resgate de Simonal à MPB, uma pergunta fica no ar: onde estava Nelson Motta, todos esses anos, que nunca lançou um livro ou emitiu parecer favorável ao cantor, mas no filme acusa a esquerda brasileira de tê-lo transformado em um 'pária, um leproso'?"

L. S.