sábado, 30 de agosto de 2008

Quando criança, Isabel queria ser astronauta. Passou pela fase de pintora - o irmão quinze anos mais velho era artista plástico e começava a ser fazer um certo movimento na sua casa que ela, com sete anos, não entendia muito bem; sabia que eram amigos de seu pai, e que sua mãe não gostava muito deles, pois em determinados intervalos cronometrados ia à cozinha, virava à esquerda, andava dois passos, abria a janela, fumava um cigarro, reclamava "ah, Antônio, ah, Antônio", e voltava à sala novamente. Isabel pressentia no ar uma certa felicidade também, provinda do seu irmão, quando um amigo de seu pai batia na costas dele e dizia: "Tudo, bem, toninho, vou levar este aqui, seu garoto tem futuro, hein?" e eles batiam as portas dos elevadores, e falavam alto, e dirigiam os seus carros enormes e sempre tão escuros que soltavam muita fumaça. isabel não queria ser igual a eles.