domingo, 10 de agosto de 2008

você me perguntou tantas coisas, muitas coisas
falou sobre a minha raiva
mordendo pedaços de tabaco, queria cuspir
mas
-não tinha coragem.
ihhh, falei demais.
tentei te explicar a intensidade da minha saliva,
mas não, você não quis ouvir
-isso não é bonito, tentou argumentar
-eu gosto da normalidade

ah

poxa

estava tudo indo tão bem.

ignorei o comentário, acendi outro cigarro
começava a chover na janela do rio de janeiro
pequenas gotas de sexo
ilusão
cinismo
e solidão.
você não entende meus poemas, considera todos muito bonitos
mas alguns não foram feitos pela beleza
são feios e sangram
como
-você não vê isso?

tec tec tec
o gato brinca com uma caneta
vermelho virou o quarto
pintada de cinza está a cama
arte conceitual?
você detesta
qualquer
tipo
de
arte
que não seja aquela de tempos imemoriais

uma aspirina repousa suavemente na mesa de cabeceira
sei do seu desejo por ela
e conheço a dor
mas sabe com o que eu sonhei ontem?
uma festa
(ou foi hoje?)
foi ontem, definitivamente ontem

uma festa enorme
numa casa enorme
com balões enormes
e grandes copos de coragem líquida

como em alice,
tudo era muito grande
até os meus sapatos, que invadiram o salão
e eu dançava
dançava
e ria
e gritava
alucinada
anestesiada
capaz
de me divertir
- de ser
alguém
sem
- você.