sexta-feira, 20 de junho de 2008

Querida Nina,

O vento de repente tornou-se seco. Mudou a estação, só pode ser. Algo muito comum aqui no Rio de Janeiro: acordar verão, crepuscular inverno. Amanheceu seco principalmente porque assim ele foi comigo. Respondeu à minha mensagem cheia de amor com um simples "combinado". Começou a chover agora, mas estou com calor. A luz dos postes diminuiu, os carros passam ávidos por casa, cama e cobertor - ei, são duas horas da tarde ainda. É o mundo me dizendo em sua língua de raios, trovões, ventos e chuvas que estou no fim - bati em um muro; não há mais volta.

A realidade é que o clima muda o tempo todo, os ventos vão e vêm em suas inúmeras correntes quentes e frias, e as marés, bem, ninguém nunca sabe aonde as marés vão dessa vez, e veja bem, eu sempre acreditei muito nesses sinais que o mundo deixa por aqui e por acolá, afinal, se você não pode confiar no seu vizinho - ou qualquer vizinho -, a única alternativa é acreditar no imaterial. Há muito desisti de crer em qualquer coisa capaz de falar em minha língua ou em qualquer outra, e principalmente, capaz de sorrir. Um sorriso é o pior inimigo: capaz de mentir sem pronunciar uma única palavra.

Minha querida Nina, o tempo está para morangos, como nosso CFA premeditou. Fico repassando fotos e mais fotos, tentando extrair delas um elixir da felicidade, sabe? um líquido azul e brilhante que me transporte apenas para o momento exato do clique, o momento feliz, de dentes altos e brancos. não vou falar de ninguém mais, mas estou sempre indo atrás de uma felicidade falsa, estampada em papel fotografia 15x21, presa em segundos.

(queimei todas as cartas de amor e me mordo quando surge a vontade de escrever uma nova. até agora, não perdi um dedo.)