domingo, 8 de junho de 2008

flamengo é um bairro estranho, muy raro.

sem vontade alguma de sair, enfiei uma blusa branca com o taz enorme estampado no peito, uma calça jeans e rumei ao lamas. desci no ponto: duas vermelhas velas. questão de cinco segundos: estou em salvador, onde as pessoas deixam pratinhos para exú? mas isso não é uma encruzilhada e não estou vendo nenhum mato pelas redondezas. melhor seguir reto. logo depois, uma feira humana noturna. quatro homens, side by side, cada qual carregando sua parte neste latifúndio: batatas, bananas, maçãs e laranjas. sacos enormes. quilos e quilos. levando para uma terceira dimensão, só pode ser.

no lamas, um casal de recifenses, recém-chegados ao rio de janeiro. de ônibus. ele bebia chopp e comia a terrível empada de sopro do balcão. ela pediu um suco de menta com laranja e queijo minas no pão integral. discutiam aonde iriam dormir. e o lindo futuro pela frente, agora que chegaram na cidade grande. não sei qual o pior: vir para o rio e não ter onde cair morto ou viver em recife, aquela cidade com cheiro de mijo. para a mocinha do pão integral (no lamas! pão integral no balcão do lamas!), as luzes do rio são as mais bonitas do mundo inteiro. fui embora sem saber o resultado da conversa. cruzei com dois travestis montados dos pés à cabeça saindo do mcdonald's - iam andando, em um salto altíssimo, até a praia. eu não consigo me equilibrar num salto daquele. muito menos andar uma rua inteira. uma pontada de inveja.

no supermercado vinte e quatro horas - estava com insônia, geladeira vazia, uma lata de pringles sempre vale a pena -, habituais personagens: os amigos de rua, que todos os dias juntam os dez centavos jogados no largo e compram a caninha de um e cinqüenta. chegam bêbados. passam o dia dormindo, de ressaca do alambique, para acordar à noite, beber mais e ir comprar a outra. outros habituais: o casal de botânicos que compra flores para brincar de laboratório caseiro. já encontrei com eles duas, três vezes. têm predileção por margaridas.

e sempre há a mesma personagem - a cada noite, porém, com uma nova atriz: a dona-de-casa da madrugada. ela faz as compras do mês às duas e meia da manhã sem filhos birrentos, sem marido beberrão, sem celular tocando. o supermercado inteiro, só para ela.
estranha fauna, essa do flamengo.