domingo, 2 de setembro de 2007

quatro de setembro de dois mil e um.

-E a Beatriz, seu Paulo?

-Ah, essa era boa de comer. Gostava de trepar, sabe?

-Hum.

-Era uma cachorra. Chegava em casa, tirava a roupa e queria que eu comesse ela em todos os cantos da casa, era uma louca. Saía de casa como cabelo todo amassado, esmaranhado, os fios pra cima, e não tava nem aí. Continuava gostosa do mesmo jeito.

-Mas foi ela quem destruiu seu casamento, não foi?

-Ela destruiu minha vida, menino. Deixe eu te dizer uma coisa: nunca confie em mulher que gosta de pau. É a desgraça do homem. A gente tá acostumado a comer a mesma buceta de sempre, a senhora nossa esposa que deus escolheu pra gente - e de repente chega essa louca querendo gozar até dizer chega. Fiquei completamente enrabado por ela.

-Mas não tinha sentimento, seu Paulo? Era uma coisa só sexual?

-Claro que tinha. Mas o sentimento surgiu depois, menino. Nela, eu digo. Quer dizer, não sei.

-Mas, como assim, ela acabou com a sua vida?

-Fodeu, meu filho, fodeu a minha vida. Não fui mais o mesmo depois que eu conheci aquela mulher, aliás eu nem sei quem eu sou.

-Você tinha 35 anos quando a conheceu. E ela?

-16.

-O senhor não teve medo de ir preso?

-Por um tempo eu tive - e te digo que resisti por quase dois anos. Teve uma hora que não deu. Mas confesso que quando ela fez dezoito anos eu respirei aliviado.

-E como foi que a Beatriz surgiu na sua vida?

-Eu sempre gostei muito de música e tinha uma coleção de vinis que era conhecida no bairro. Os meninos sempre iam lá ouvir música enquanto eu tava na loja, ganhando meu pão de cada dia. Até que um dia ela apareceu. Nunca tinha visto na vida. Cheia de vergonha, com as bochechas vermelhas, segurando as mãos, querendo ouvir um vinil dos Chico Buarque. Achei até estranho, uma menina daquela idade querendo ouvir um vinil do Chico - mas você sabe como é, o velho tava na moda na época. Eu me peguei ali, olhando para aquele shortinho agarrado, preso, tentando me concentrar - mas não fiz nada, né, porra, tinha uma loja pra cuidar, a menina podia ser minha filha, minha mulher tava fazendo o jantar, caralho - eu pensava comigo mesmo.