quarta-feira, 12 de setembro de 2007

apenas uma quarta-feira.

Eu agora sou jornalista. De carteira assinada e as porra. E vendo uma palestra do Marcos Prado, o diretor de Estamira e sócio do José Padilha, cada vez mais eu me convenço que documentário é que me dá tesão. Construir personagens, mundos e estórias é um exercício prazeroso; muito mais prazeroso, porém, é descobrir as histórias que existem por aí, enterradas na puta que pariu, pedindo para serem contadas. As pessoas querem falar. O que elas mais querem é falar. Só basta alguém ter um mini-dv e paciência. O que eu tenho.

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A Barra é o lugar do "muito". As pessoas são muito bronzeadas e muito loiras, é tudo muito caro ou muito barato (uma água na padaria custa r$ 3,50, mas o chopp na praia custa r$ 2,30), tem muito carro, venta-se muito, as academias de ginástica são muito grandes e os prédios são muito estranhos. A arquitetura do bairro é esquisitíssima: durante a praia, você pensa estar em uma cidade nordestina ao estilo de João Pessoa. Calçadas pequenas, arborizadas de 5 em 5m, barraquinhas na praia, com pedrinhas irritantes, e pessoas com cara de babaca passeando com seus bonézinhos. A Barra é nordestina e não sabe. A Barra veio de pau-de-arara e não sabe.

Tentando se distanciar da classuda Zona Sul, a Barra investiu em arquitetura moderna: nenhum prédio pode ser igual ao outro e muito menos igual a qualquer construção já imaginada por um ser humano dantes. O Hotel Sheraton, na minha visão do ônibus, me pareceu um bando de lata de sardinhas amontoadas no supermercado, cuja maior vontade é tirar uma e sair correndo para ver o resto desabar. Ao lado dele, se tem um condomínio não menos bizarro: uma coluna, chão, uma coluna. Seria um L? Um H? Um T? Um sinal alienígena? Nada. É moderno. É barrense.

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Não sei o que esperar indo a Salvador. Sempre tenho medo de voltar lá; a sensação de que alguma merda vai cair sobre a minha cabeça, me soterrar e eu nunca mais sairei dali é grande.
Ás vezes, eu penso que sou um pouco Tieta, que volta para o sertão apenas para mostrar que é gostosa, que é fodona e termina odiada pela cidade inteira.

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Renan Calheiros foi absolvido?
Não vou entrar no 'já sabia'. Nem no 'puta que pariu, esse país é uma merda'. É uma sensação de vodka barata. Só que constante.

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Não sei amar.
A única coisa que aprendi.