terça-feira, 3 de abril de 2007
há doze anos anos, eu sei que minha mãe é bipolar. há dezenove anos eu agüento suas mudanças de humor bruscas, do choro compulsivo à raiva animalesca. quando eu tinha nove anos, ela invadiu o pátio do meu colégio (na época, os maristas) berrando loucamente, em crise histérica. eu tinha me atrasado dez minutos. logo que se separou do meu pai, ela entrou em depressão de não sair da cama. eu ia comprar chocolate para ela todos os dias, de madrugada (era a única coisa que ela comia e apenas de madrugada). eu coleciono casos como esses. o problema é que eu não agüento mais. não agüento mais estar submetida às suas mudanças de humor. não agüento mais ouvir absurdos da boca que serão devidamente perdoados depois, pois afinal, tratava-se de uma crise de nervos. posso ser egoísta, sim, acredito que seja egoísta, mas não quero cuidar dela. cuidei durante os sete aos dezesseis, e para mim, chega. não acho normal uma mãe nunca dizer uma palavra de amor à filha, não dar um abraço. não acho normal ter medo da minha mãe, a depender se ela tomou os remédios ou não. não agüento mais passar vergonha pelas crises histéricas. e perder meu tempo por suas crises depressivas. não pedi para nascer. e muito menos, escolhi a minha mãe. mas, como ser humano, eu não agüento mais.