sábado, 13 de março de 2010

recomendação nº 1

trabalhamos apenas com amores impossíveis, pensou a escritora quando ele bateu a porta do táxi. tinha o olhar de quem pedia desculpas. (uma moça bonita atravessou a rua, enquanto isso).

regina quis um café, uma passagem para paris e grandes olhos azuis (a tristeza não parece tão simplória quando se tem olhos azuis), mas ficou com a chave de casa, um caderno e uma caneta. a escritora quis chorar mas se conteve.

aquela casa estava grande demais, espalhafatosa demais e escura demais. cogumelos de bolor cresceram pelas paredes, teias de aranha invadiram os livros e, sinceramente, aquele copo com vodka estava sobre aquela mesa há pelo menos dez dias.

(das piores sensações quando se está sozinha: luz que falta no sábado à noite, porta que abre com o vento, cartas para ninguém ler)

o telefone de regina tocou uma, duas, quatro vezes. ainda que não tivesse atendido, o vermelho continuou preso à garganta. henry miller já dizia, sabiamente, que quando não houvesse mais o que fazer, paris era o lugar certo. miller viveu, bebeu, amou e morreu em paris. [ também perdeu muito dinheiro ]. a escritora só quis dormir.

mas assim ficou: acendeu duas velas, pôs john coltrane para tocar, lavou os copos e trocou o saudoso henry por um outro qualquer. dentre as mais terríveis coisas que se pode dizer ao olhar um homem, não preciso mais de você poderia estar no topo.

poderia.