quarta-feira, 17 de março de 2010

hoje tive vontade de morrer várias vezes - de tédio, de vergonha, de cansaço, de desesperança e, sobretudo, ainda, de amor. amor obstinado, desgraçado, mal pago e como em todas as histórias medíocres, impossível.

daí, tentei me matar assistindo a um velho querendo ensinar pela televisão o que é a realidade. o máximo que consegui foi um bocejo de sono e alguns rangeres de dente. às três da tarde, tentei me matar ligando para um velho conhecido de guerra, com um pouco de desamor e algumas frases forjadas em tinta bege.

mas qual.

ele pouco falou, e quando abriu a boca me informou a previsão do tempo.

a terceira - e última, vamos ter alguma piedade nesta terra - tentativa foi cobrir-me com a falácia: abri os braços e me joguei na lama das super expectativas. tamanha vergonha não perdoaria tão ínfima alma.

não vou dizer 'não doeu', veja bem. mas vou te falar uma coisa sobre a dor: ela engessa.

mas espere.

morrer, morrer, morrer, desagüar no nada, eu só alcancei naquele sinal do jardim botânico. você estava parado, meus braços te absorveram - em certa medida, te absolveram, mas para tudo há um limite, inclusive para a cafonice -, você me beijou e o sinal abriu.

a coragem, já pouca, se foi com a água da chuva; a saudade, já muita, enterrou-se em mim. caí na primeira esquina. perda fulminante.