sábado, 20 de setembro de 2008

liguei pra você outro dia, mas alguém me disse que você estava viajando, pensei talvez você já tivesse voltado de viagem, vejo que não, mas ainda assim eu precisava falar contigo, sabe? essa é uma daquelas noites indormíveis, quando uma angústia me trava o pescoço, às vezes até ponho a palma da mão na frente da boca para me certificar que estou respirando, ah, você vai rir quando ouvir essa mensagem, mas eu precisava falar com alguém, e você foi a pessoa em que eu sempre penso nessas horas, essas vontades estranhas de desabafar com alguém - outro dia estava passando pela floricultura e vi umas rosas azuis, e cara, rá rá rá, como eu ri vendo aquilo, eu era tão inocente, lembra? eu achava que realmente existiam rosas azuis no mundo, rá rá rá, e você veio e me olhou, esbugalhou os olhos, aliás, daquele jeito só seu, e eu me senti tão patética de ser a única pessoa no mundo a não saber que eles pintavam - e como está paris? aqui as coisas estão frias, descobri um novo bar, você vai adorar quando chegar, óbvio que é não como paris, mas é um bar, e aposto que em paris não há companheiros de bar como os daqui - mas sabe o que é, mesmo? essa coisa de não conseguir dormir acaba comigo, é um turbilhão de pensamentos, círculos de pensamentos que vão e voltam, ainda bem, não sou espírita, senão diria que são espíritos me perseguindo, e, ah, eu fico pensando se as outras pessoas vivem melhor do que eu, não no sentido babaca da coisa, mas de viver melhor, entende? no sentido de não ter dúvidas sobre - eu acordo todos os dias e me pergunto se eu sei viver, não exatamente não saber viver, mas para onde estou indo, compreende? não pode ser apenas isso, seria tão estúpido e ridículo crer que eu sou mais importante que qualquer - não, ainda não é isso que quero dizer, não vou entrar numa estúpida conversa sartre-simone, isso não cabe mais, né, já deu, perdemos muitas horas muitas madrugadas muitas vidas falando sobre isso - olha já ia cair de novo -, mas sabe acho que não consigo sentir mais nada, a não ser o vento me carregando para o dia seguinte, e creio que se dormisse e não acordasse mais, não faria falta - não é um ataque suicida, claro que não, veja bem, é apenas dormir, dormir, como um conto de fadas, eternamente, sem sentir dor, você entende? claro que entende, você sempre entende tudo, espera a secretária está avisando que vai acabar o tempo, eu ainda tenho tanta coisa pra te dizer, espera - você sabe viver?