"nós crescemos. alguns de nós se descobriram amando outros iguais - mas determinados alguns sempre souberam. ela, por sua vez, arranjou uma amante para adentrar seu castelo virginal já não povoado assim pelo namorado-futuro-noivo. ela também é amante dele, advogado. éramos poucos, mas éramos tanto. quando ligávamos o som e deixávamos o corpo ir com a madrugada, tornar-se escuro antes de se deliciar com as estrelas e enfrentar a manhã. pedro sempre odiou a manhã. dizia que o fazia ver com total claridade seus erros. ora, nós bebíamos nossos erros, nós fumávamos nossos erros, nós fodíamos nossos erros. lembro quando ele me encontrou pela primeira vez, ele que se perdeu nos tempos, de quem só ouvi falar parcamente nos últimos anos - o cuidado com o novo, o medo de me perder, a vontade de se entregar mas com pés e braços atados por que me ensinaram que mulher não se entrega. grande farsa.
minha memória começa a me envergonhar. esqueci de pessoas, situações apenas existem porque me contaram. crescer é ganhar esse ar nostálgico - o que eu poderia ter sido e não fui? onde estava quando aquilo aconteceu? funcionou? se não, o que resta é lamentar, lamentar, lamentar. porque não sei olhar para trás, tampouco por cima do ombro, criei um olhar de tal maneria dilacerado que me é impossível regredir - devo andar para frente porque só assim sei, sempre, ainda que isso me custe um pessimismo deplorável e uma terrível falta de memória".
nab.