domingo, 11 de maio de 2008

Luiza, na cama, sentia-se tão só. Antigamente, chegava a doer; hoje, já se acostumou. Espera pacientemente o andar das horas, até vir o sono e conseguir dormir para um outro dia no qual, provavelmente, nada acontecerá. Na verdade, não pode dizer que se acostumou à solidão, porque isso não acontece com ninguém, é uma mentira, uma grande ilusão, mas pode sim, de boca aberta, dizer que ela não mais incomoda tanto - e de certa forma, necessita-a. Está tão incrustada em Luiza que já não concebe um tempo sem espaços vazios. Provavelmente por isso adotou livros. Eles não falam, mas precisam do seu amor como precisa do carinho deles, encostados ao seu dorso. Tem saudade do tempo em que dizia não acreditar em nada, quando acreditava em tudo; e agora, provado o veneno, é amargo soltar tais palavras. A língua dói. Quem inventou essa história do amor ser uma doação é um idiota. O amor é estupro. Rasga toda pele, e ainda pior, devasta a alma. Sem deixar considerações finais. Nem ao mesmo um epitáfio. Tinha pensado, há duas semanas, em parar de fumar, mas o cigarro dá um prazer inigualável - convenhamos, se a vida não oferece isso, há de buscar em uma nova fonte. Viver sem algum tipo de prazer mundano, isso é impossível. Conhece muitas pessoas adeptas dessa prática satânica, mas você conhece esses rostos cheios de sulcos e sorrisos esgarçados - eles não são bonitos; talvez como quadros cubistas.