segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Não adianta, babe. Não adianta.

Ela dizia isso com a maior doçura que era possível para uma letra. Pausado, arrastado, as vogais caindo no chão. a-d-i-an-tá.

Isso era o que o emputecia. Porra. Se é pra terminar, então seja duro, caralho. Então mande à merda. Então vá tomar no cu. Então bata a porta. A doçura dela dificultava tudo, e só aumentava a vontade de arrancá-la de seu lençol com o dia passando devagar, esquecendo de si mesmo.

Mariana calçava o tênis. Penteava o cabelo. Olhava o relógio. Definitivamente ela iria embora. E não havia nada, mais nada, que ele pudesse fazer.

Ela bateu a porta. Não adianta, babe. Não adianta.

Ele ficou. Todo o sábado jogado na cama, olhando o gesso do teto descascando. Manchas estranhas pra caralho se formavam no céu branco de gente podre. Sábado, domingo e segunda. Só levantou na terça feira, quando o cheiro do corpo misturado a cigarro e sol e gesso tava fodido demais. Foi à padaria e a primeira coisa a perguntada:

Como vai Mariana?

Puta que pariu - esqueceu a .45 embaixo do travesseiro. A vontade era dar dois tiros nesse filhodaputa. Porra. Só queria um pão com café e o cara vem me provocar.

Tomarnocu.