domingo, 9 de dezembro de 2007

Mariano estava parado no sinal. O Opala verde escuro estava começando a dar sinais de cansaço: o escapamento tal qual espingarda; as portas e janelas carcomidas pela ferrugem – o próximo seria ele próprio. Um cara veio lhe oferecer duas meninas. Fazem de tudo e do melhor, ele disse, segurando o bigode com os dedos.

Poderia matar esse velho nojento.

A visão daquelas unhas sujas de putaria e fumaça, e sei lá mais o quê, o enojava. Ainda mais segurando aquelas meninas. A de biquíni verde deveria ter no máximo quinze anos. Usava uma sombra azul exagerada para parecer mais velha. Não estava a fim de nada hoje, só de dormir. Além disso, ela tinha uma ferida na boca. Escorria pus. Visão do inferno.

O sinal continuava fechado.

Olhou para a outra menina. Essa não devia ter mais de dez. Usava um biquíni vermelho. Tinha um olhar de cavalo. Arisco e triste. Cavalo enjaulado num hotel fazenda, com crianças lhe bolinando. Adultos tarados, nesse caso.

Quanto é?

10 por uma, 15 pelas duas. Meia hora uma, uma hora as duas e nada mais.

Quanto é para comprar?

Porra, eu já disse, tu é surdo?

Eu quero comprar aquela. De vermelho.

A menina não mexia a cabeça; olhava continuamente para baixo. Nem relinchava.

É, ela é novinha. Chegou tem pouco tempo. Quase virgem.

Aquela expressão revirou o estômago de Mariano. Nem um homem agonizando na sua frente, chorando de dor e desespero, implorando por um perdão alheio – afinal, ele não tinha nada a ver com aquilo – lhe causara tal ânsia de vômito.

Quase virgem.

O sinal continuava fechado.

Mariano olhou para os lados. Criaturas da noite. Traficantes, gigolôs, travestis. Abriu a porta do carro, tirou quinhentos reais da carteira, entregou na mão suada do velho e pegou a menina pelo braço. Ela não esboçou reação alguma.

O sinal abriu.

Colocou a menina no banco do carona, bateu a porta do carro e não disse nada.

O velho saiu alisando o bigode oleoso. Achou que fizera bom negócio.

A .45 continuava no porta-luvas. Não fora preciso utilizá-la.

Qual seu nome?

Ela continuou de cabeça baixa.

Eu não vou te machucar.

Não adiantava: ela não respondia.

Quer um doce?
Que pergunta idiota, Mariano. Você não tem um doce no carro. E essa menina já é tão escrotizada por tudo e todos que nem deve saber o gosto de um brigadeiro.